Diário da crise hídrica – 18 a 22 de outubro de 2021 – Risco de falta de água diminui em SC, lucro sobre a crise, mais água na Argentina e no rio Paraná e mais

19 minutos de leitura
Imagem com os níveis do reservatório da represa de Manso entre 2020 e 2021. As águas da represa se juntam às do rio Cuiabá e drenam para o Pantanal. Fonte: Eletrobrás/Furnas

22 out. 2021

Baixo nível do rio Paraguai enche BR-262, estrada que atravessa o Pantanal a partir de Corumbá, MS.

O rio Paraguai está hoje em Ladário (MS) com  0,51 centímetros negativos, quando o esperado para esta época do ano seria de aproximadamente 2,57 metros. Em Ladário, situada ao lado de Corumbá, está uma régua de referência para identificar a situação do rio Paraguai.

O site Diário Corumbaense informa que o número de caminhões que atravessa diariamente o posto de fronteira da Receita Federal, entre Brasil e Bolívia, cresceu muito devido a impossibilidade de funcionamento da Hidrovia Paraná Paraguai (HPP) devido ao baixo nível do rio. A HPP é uma via exportadora e importadora de produtos da Bolivia, dentre eles grãos, fertilizantes e combustíveis. Cerca de 40 caminhões entravam por dia carregados no Brasil, hoje, são mais de 100. Estima-se que “entre veículos carregados e descarregados, nos dois sentidos, a média é de 800 caminhões”, informa o Diário.

Grande parte da BR-262 na área úmida do Pantanal é construída sobre aterros. Certamente o trafego intensificado de caminhões carregados agravará os problemas de manutenção da via no trecho pantaneiro.

 

21 out. 2021

Imagem com os níveis do reservatório da represa de Manso entre 2020 e 2021. As águas da represa se juntam às do rio Cuiabá e drenam para o Pantanal. Fonte: Eletrobrás/Furnas

 

21 out. 2021

O militar-ministro Bento Ribeiro, da pasta de Minas e Energia, afirma que é impossível atender a ordem do presidente e remover a bandeira de Escassez Hídrica das contas de energia. As térmicas seguirão até abril, e as bandeiras seguirão sendo indispensáveis para cobrir a conta extra. “Não é possível antecipar o fim, porque nós temos que fazer o monitoramento do acompanhamento do setor, a bandeira tarifária representa o custo da geração de energia”.

 

20 out. 2021

Rio Paraná na Argentina com mais água, mas normalidade ainda distante

O site Era Verde, da Argentina, informa que o rio Paraná no continua a crescer há cerca de 15 dias em diferentes portos da província de Entre Ríos, mas ainda está longe de sua normalidade. O Instituto Nacional de Águas (INA) alertou que a perspectiva “não nos permite esperar um rápido retorno à normalidade pelo menos até fevereiro de 2022”.

O baixo nível atual tem afetado consideravelmente a vida ambiental, econômica, produtiva e social das cidades ribeirinhas de Entre Ríos. O INA prevê que nas próximas semanas o rio “continuará a subir sem recuperar sensivelmente” e que a “tendência climática até 31 de dezembro, “não nos permite esperar uma melhoria sustentada das chuvas”.

Com base no Era Verde e tradução livre do espanhol

 

20 out. 2021

Climainfo.

O avanço do desmatamento na região do Xingu pode prejudicar um dos maiores polos de produção agrícola do país, que sofrerá com um clima mais quente e seco. Essa é a conclusão de um estudo feito por pesquisadores do Climate Policy Initiative (CPI) e da PUC-RJ, que analisou os efeitos da redução da área florestal no Xingu no estado do Mato Grosso.


De acordo com a análise, a perda de floresta pode reduzir em 7% a média anual de chuvas em MT, especialmente no centro e no noroeste do estado. Na época seca, a redução do nível de chuvas pode chegar a 15%. Daniela Chiaretti deu mais detalhes no Valor.


Os autores fizeram uma modelagem para analisar a relação entre o desmatamento e a incidência de chuvas a partir da umidade e das correntes de ar na região. A pesquisa mostrou que a perda de floresta no Xingu compromete os ciclos de chuva no Mato Grosso, especialmente no inverno, quando o tempo fica mais seco. Com as temporadas secas mais prolongadas, a produção agrícola mato-grossense pode ser impactada, inviabilizando até mesmo a segunda safra em algumas regiões do estado.


Em tempo: Na Câmara dos Deputados, a disposição da bancada ruralista é de enfraquecer ainda mais o projeto de lei que modifica o Código Florestal e permite aos municípios definirem as regras e os limites para ocupação e preservação de margens de rios e corpos d’água em área urbana. Segundo O Globo, o relator do projeto na Câmara, deputado Darci de Matos (SC), quer derrubar as mudanças feitas pelo Senado na proposta, em especial o limite mínimo de 15 metros para proteção das margens. “O meu substitutivo dá total liberdade para o município legislar”, defendeu Matos, sem abordar as críticas feitas por ambientalistas sobre os riscos dessa proposta para a conservação dessas Áreas de Proteção Permanente nas cidades.

 

19 out. 2021

Crise Hídrica se agravará com chegada do La Ninã?

A National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) dos Estados Unidos informou que o La Niña, um fenômeno climático chegou novamente e será sentido por vários meses. Segundo a NOAA, após um período de relativo equilíbrio atmosférico desde o início do ano, se intensificará nas próximas semanas e não começará a enfraquecer até a primavera de 2022, o que pode impactar nas chuvas, no final da temporada furacões e a intensidade do inverno boreal que se aproxima.

“As condições do La Niña se desenvolveram e devem continuar com 87% de probabilidade entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022”.
Com informações de diferentes publicações, dentre elas BBC em espanhol

 

19 out. 2021

Em plena crise hídrica, quando os fatos mostram que os rios precisam demais proteção, o Congresso promove um desastre reduzindo a proteção dos rios em áreas urbanas.

Quase 10 anos de aprovação do novo Código Florestal os congressistas estão em vias de aprovar sua flexibilização para as áreas urbanas, com normas menos exigentes.

Atualmente a faixa de proteção varia de 30 a 500 metros de largura, dependendo do leito do rio. A nova lei passa para os municípios a possibilidade estabelecer as áreas de proteção, devendo respeitar uma faixa mínima de 15 metros e alguns critérios básicos, dentre eles o risco de desastres e a adequação a planos de recursos hídricos ou de saneamento básico.

 

19 out. 2021

Em meio à crise hídrica, agricultores ganham dinheiro produzindo água (G1)

Falta de chuva, rios mais fracos, reservatórios em baixa…em meio à crise hídrica, tem agricultor ganhando dinheiro produzindo água a partir da preservação do meio ambiente. É o chamado pagamento por serviços ambientais.

Uma das iniciativas pioneiras é tocada pelo município de Extrema, no estado de Minas Gerais, em um projeto chamado Conservador das Águas. Ele recebe este nome porque a recobertura vegetal é capaz de recuperar o potencial hídrico dos terrenos.

Em 2008, o Globo Rural chegou a acompanhar este projeto (reveja ao fim do texto) e, na ocasião, visitou a fazenda do Sebastião Fróes, o primeiro proprietário rural a receber dinheiro da iniciativa, após ter aceitado destinar pasto degradado para a reconstituição da floresta.

Quatorze anos depois, só se vê copa de árvore onde o capim dominava a cena. E a área restaurada até alcançou a mata nativa que já existia no alto da encosta.

“Nós temos um manancial produzindo algo em torno de 1 litro por segundo em um momento onde nós estamos atravessando uma das piores crises hídricas dos últimos 90 anos da região Sudeste”, conta o biólogo Paulo Henrique Pereira, idealizador do projeto.

Preservação na Serra da Mantiqueira

O projeto abrange uma área de 20 mil hectares em cerca de 300 sítios e fazendas de Extrema. E já correu o mundo, sendo notícia na Alemanha, Espanha, além de ter ganhado prêmios, como um da Organização das Nações Unidas (ONU).

A ideia do biólogo Pereira se expandiu para outras regiões e o que era originalmente política pública só em Extrema, virou o Conservador da Mantiqueira, com o propósito de cobrir toda a Serra da região.

Com o patrocínio de Organizações não Governamentais (ONGs) e órgãos técnicos de governo, foram criados 28 núcleos de atuação, envolvendo 280 municípios.

Os valores e a frequência dos pagamentos variam em cada município. Mas, na média, os agricultores têm recebido R$ 250 por hectare, por ano.

Pensando só na Serra, a dimensão do projeto é grande. A Mantiqueira tem cerca de 500 quilômetros vertendo água para a formação de 5 importantes bacias hidrográficas: as dos rios Grande, Paraíba do Sul, Tietê, Piracicaba e Mogi/Pardo.

Risco de falta de água diminuiu em SC

Em Santa Catarina, uma outra iniciativa tem diminuído o risco de falta de água nos municípios de Balneário Camboriú e Camboriú.

Inspirada pelo projeto em Extrema, a administradora Kelli Dacol incentivou o pagamento por serviços ambientais nas duas cidades, em um programa que coordenou por 10 anos.

E ela conseguiu dar um passo à frente, ao incluir o pagamento por serviços ambientais na tarifa que o consumidor paga.

O risco de escassez de água começou a diminuir quando proprietários no entorno das nascentes toparam entrar no projeto demarcando e, em vários casos, reconstituindo áreas com investimento patrocinado.

Douglas Rocha, que é diretor-geral da Empresa de Água e Saneamento de Balneário Camboriú (Emasa), explica que as áreas recuperadas agora absorvem mais água suprindo bem os 200 mil moradores das duas cidades.

Água para todos

Pertinho da capital federal, fica um conjunto de nascentes conhecido como Águas Emendadas. Uma dessas veredas forma o córrego do Pipiripau, que abastece 200 mil moradores e 86 propriedades rurais no entorno de Brasília.

É o primeiro a fazer parte do projeto de pagamento por serviços ambientais no Brasil Central. O rio quase chegava a secar, mas, com o projeto, a situação mudou e hoje tem água para todos o ano inteiro.

Em 2017, a propriedade da Dona Marta e Nascimento entraram no programa de restauração da Adasa, a empresa responsável pelos serviços de água e esgoto do Distrito Federal.

Com o cercamento das minas d’água e o plantio de 2.500 mil árvores, o que antes era pasto degradado já mostra recuperação. Como pagamento pelo serviço ambiental prestado, os dois produtores receberam, em 5 anos, R$ 15 mil reais do programa.

O dinheiro vem recursos públicos e de ONGs.

“O projeto produtor de água é um achado, é um ganha-ganha. Ganha o produtor, porque ele pode melhorar a propriedade dele. E ganha a sociedade que vai ter água de melhor qualidade”, diz Devanir Ribeiro, o coordenador do programa em Brasília.

 

18 out. 2021

Climainfo. É isto um Governo?

O ministro de minas e energia, Bento Albuquerque, desconfiando que o presidente, de fato, não fale com São Pedro, convidou uma médium que, ao incorporar o Cacique Cobra Coral, diz poder fazer chover e afastar a grave crise hídrica-elétrica que atinge o Sudeste. Metrópoles, Veja e o Último Segundo baixaram a mensagem.

O presidente, por sua vez, agradeceu a Deus pelas chuvas dos últimos dias e prometeu encerrar a bandeira “escassez hídrica” em novembro. A notícia saiu no Valor. Carlos Sardenberg, n’O Globo, apontou os seis erros na fala de Bolsonaro, desde se atrapalhar com as bandeiras, errar ao atribuir responsabilidades, até achar que o (pouco) que choveu até agora mudou o quadro. Sardenberg deu o título de “Fora da Realidade” ao seu artigo.

O primeiro efeito dessa promessa, segundo a Folha, foi fazer despencar o valor das ações das elétricas na Bolsa, como o da Eletrobras, AES Brasil, Cemig, Energisa, Equatorial e Light.

O segundo efeito foi o comitê de crise do próprio governo avisar que as medidas tomadas até agora continuam sendo necessárias para se evitar o racionamento. Entre as medidas, a tal bandeira da escassez que continuará valendo. O aviso saiu na Agência Brasil, Congresso em Foco, Valor, Carta Capital, Veja, Folha e no Metrópoles.

Segundo O Globo, a consultoria PSR estimou que a promessa do presidente de voltar à bandeira normal poderia triplicar os reajustes das tarifas no ano que vem. Sem cravar valores, a consultoria MegaWhat, ouvida pelo Valor, também entende que mexer nas bandeiras agora levaria a reajustes substanciais em 2022. Mesmo as bandeiras como estão não estão cobrindo a conta de acionar todas as térmicas. Até agosto, segundo o g1, o déficit acumulado passou de R$8 bilhões.

As chuvas que vêm caindo ajudam, mas estão longe de representar um alívio. Segundo o Estadão, Luiz Ciocchi, diretor do ONS, disse que “é muito cedo para se ter a real percepção da estação chuvosa”. Na 6ª feira, o nível dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste marcava apenas 16,8% da capacidade total. Foi, segundo o UOL, o valor mais baixo dos registros para esta época do ano. Ontem, o site do ONS indicava que o nível havia subido para 17%.

Em tempo: O título desta nota parafraseia “É isto um homem?”, livro de Primo Levi sobre Auschwitz.

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

Mais recente de Blog