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Diário da crise hídrica – 27 a 30 de julho de 2021 – negacionismo, baixa histórica nos reservatórios brasileiros, imagens desoladoras na Argentina e mais

18 minutos de leitura

30 jul. 2021

Crise elétrica: negacionismo pode custar caro ao Brasil – Climainfo


Um estudo recém-lançado do Instituto Clima e Sociedade (iCS) mostra que o Brasil não pode abrir mão de um planejamento energético estruturado, e não pode expandir seu parque gerador às custas de mais emissões e mais aquecimento global, fenômeno responsável, ao menos em parte, por esta e futuras crises hídricas. O governo faz de conta que está em outro planeta ao dizer que a crise está sob controle e que mais térmicas a gás fazem bem para todos.


José Goldemberg, Luiz Eduardo Barata e Amanda Ohara, autores do trabalho, classificam o governo como negacionista. No seminário de lançamento do estudo, Goldemberg disse: “A pior coisa que o governo está fazendo no momento é não preparar o brasileiro para as contingências que vamos ter no final do ano. Pelo contrário, está tranquilizando as pessoas. É uma coisa parecida com a pandemia da COVID.”


O estudo reforça a importância das fontes renováveis diante de uma crise climática cada vez mais aguda. Queimar fósseis não é mais opção. O papel do planejamento do setor é, agora, ainda mais importante do que quando foi pensado para um sistema de poucas hidrelétricas com grandes reservatórios. Vale a leitura das matérias do Valor e da Folha.


Para Heber Galarce, do Instituto Nacional de Energia Limpa, afirma no Valor que a crise poderia ter sido evitada ou, ao menos, mitigada, caso o governo tivesse promovido as fontes limpas. Mas no toma-lá, dá-cá, acabou sancionando os jabutis que criaram uma reserva de mercado para o uso do gás. Já Pedro Cortês (USP) reforçou no Estadão o aviso de que o clima mudou e as chuvas não serão mais como antes. Ironicamente, o acionamento de termelétricas contribui para mais acionamento de termelétricas.


Folha e o Poder 360 contam que o governo abriu a contratação de energia de térmicas sem contrato e de mais energia importada dos vizinhos. O Valor conta que o ONS (Operador Nacional do Sistema) está pedindo para donos de térmicas adiarem as manutenções preventivas regulares e deixá-las em operação total.


Mais gente volta a falar no desperdício de energia neste momento de crise. Marcel Haratz, no Estadão, relembra que o último Plano Decenal de Energia alertava que “os setores de Indústria e Serviços serão responsáveis, em 2029, por um desperdício de energia […] equivalente a quase 40% da geração de Itaipu no ano passado”.


A recuperação parcial da economia pós-pandemia também contribui para agudizar a crise. Um crescimento potencial do PIB na casa de 5% implica aumento de carga de 4,6%, o que esvaziaria ainda mais rapidamente os reservatórios, segundo cálculos mostrados pelo Poder 360. O Valor também comentou o drama da recuperação parcial da economia e da crise.


Quem está feliz com a situação aqui e na Argentina são os produtores de gás de fracking norte-americanos. A Argentina também depende das hidrelétricas da bacia do Prata, incluindo as do quase seco Rio Paraná. De mãos dadas, os dois países estão contratando a importação de gás natural liquefeito de campos do Texas, aqueles que quase fecharam no ano passado. A Exame contou a história.


Outro agente feliz é a Norte Energia, dona da usina de Belo Monte. Segundo a UOL, um desembargador de Brasília se referiu à crise para cassar uma liminar que obrigava a empresa a reduzir a vazão da usina para garantir um mínimo sustentável para a população ribeirinha e indígena na Volta Grande do Xingu. Para o desembargador e para o governo, a vida dos outros é apenas a vida dos outros.

 

29 jul. 2021

Nível dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste bate marca histórica – Climainfo

O nível dos reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste continua caindo e, no dia 27 de julho, bateu o recorde histórico. Segundo Lauro Jardim, n’O Globo, foi menor até do que o ponto mais baixo registrado durante o Apagão de 2001. O sistema segue vulnerável e pode comprometer a retomada da economia pós-pandemia, seja pelo alto custo de operar as térmicas, seja pela necessidade de deslocar o consumo do horário de ponta.

Roberto Kishinami, do iCS, disse à CNN Brasil que o governo deveria adotar um racionamento. Tanto nosso histórico do Apagão quanto a experiência internacional mostram que demorar para agir implicará em medidas mais duras: agir agora doerá menos do que empurrar a crise até o final do ano. Mesmo se o cálculo do governo for puramente eleitoreiro, melhor um racionamento agora do que um em cima da eleição do ano que vem.

E não é verdade que o governo foi pego de surpresa pela falta de chuvas no último verão. José Marangon, ex-diretor da ANEEL, disse à Folha que há estudos desde 2012 avisando que a mudança do clima abaixaria o nível dos reservatórios. O tombo da pandemia no ano passado mitigou um problema que poderia ter estourado antes. A matéria da Folha conta que quem governa o sistema elétrico segue repetindo o refrão de que não há dados confiáveis a não ser os históricos. A velocidade com que o clima está mudando – é só ver as ondas de calor, inundações, incêndios florestais e derretimento de geleiras – deveria ser o suficiente para usar esses históricos com uma pitada grande de sal.

 

Enquanto isso não acontecer, o consumidor seguirá pagando pelas teimosia e inércia do sistema e, ainda por cima, terá que conviver com apaguinhos e apagões.

 

28 jul. 2021

Quer saber o que se passa com o rio Paraná na Argentina? Veja essa postagem do advogado ambientalista Enrique Viale:

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28 jul. 2021

Não dá para contar com a hidrelétricas como se contava no passado

– Estudo já indicava problemas de falta de água para geração de energia já em 2014.

Em 2014 foi publicado um estudo solicitado pela Aneel sobre os impactos das mudanças climáticas na geração de energia elétrica no Brasil. Participaram mais de 70 pesquisadores durante três anos.

Na introdução do trabalho indicam que pretendiam “mostrar que o uso de séries temporais embasado em observações do passado pode levar a estratégias equivocadas relacionadas ao uso dos recursos naturais”, o que de fato se comprova agora.

Matéria da Folhapress sobre o fato indica que no estudo os pesquisadores usaram modelos do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática que consideram projeções de emissões de gás carbônico no planeta.

Com base no modelo e considerando o Plano Nacional de Energia de 2030 do ONS (Operador Nacional do Sistema), o estudo mostra que, a partir de 2041, a média de redução de energia em todo o parque energético brasileiro poderia chegar a 25%.

Um dos participantes do Estudo, o engenheiro José Wanderley Marangon, afirma que já tinham notado uma diminuição que começou a acontecer em 2012. Considera que para evitar novas crises se deve mudar o planejamento elétrico brasileiro: “De antemão, temos que entender que não dá para contar com essas hidrelétricas do jeito que se contava no passado.”

 

28 jul. 2021

Emergência hídrica na Argentina. Advogado ambientalista comenta e aponta por onde navegar: Comitê de bacia tomando o barco da democracia ambiental

O governo argentino decretou “emergência hídrica” por 180 dias devido ao baixíssimo nível do rio Paraná, o que provoca problemas sociais, econômicos e ambientais graves. A partir do decreto o advogado ambientalista Jorge Daneri afirma que “não é uma emergência hídrica, é ambiental. Mas no fundo, já chegando à superfície, a emergência é política. O Decreto que declara isso é mais do passado. O comitê de bacia é o canal para navegar e a democracia ambiental o melhor barco”.

 

28 jul. 2021

Milho – 30 navios importados

A Agência Reuters informa que a quebra na safra de milho do Brasil leva à importação da Argentina para produção de ração animal. A JBS “segunda maior empresa de alimentos no mundo, já adquiriu 30 navios do cereal no país vizinho”. A quebra da safra tem relação com a grande seca nas principais regiões produtoras do País.

 

27 jul. 2021

A crise nas cidades II “No início do ano passado, 6 dos 7 reservatórios que abasteciam a Grande São Paulo estavam com mais de 85% de seus níveis máximos. Dois deles (Rio Claro e São Lourenço) chegaram a ultrapassar a própria capacidade. Menos de um ano depois, a pior seca em quase cem anos começava a dar seus primeiros sinais.” (Folhapress)

 

27 jul. 2021

A crise da água e cidades. Várias delas racionam o abastecimento.

– A crise se abate principalmente na ‘unidade ambiental’ bacia do rio Paraná, distribuída entre Brasil, Paraguai e Argentina.

– No Brasil a cidade de Curitiba, a populosa capital do estado do Paraná, tem graves problemas no abastecimento de água desde 2020, quando foi decretada “emergência hídrica”.

– Mas não é somente a capital do Paraná que enfrenta problemas de falta de água. Santo Antônio do Sudoeste e Pranchita no Paraná e Itu Salto, São José do Rio Preto e Bauru no estado de São Paulo, segundo a BBC Brasil.

– Itu e Salto são atravessadas pelo Tietê, rio que alcança as duas cidades extremamente poluído principalmente por sujeiras da Grande São Paulo, o aproveitamento das águas para o abastecimento público fica prejudicado. As imagens de espuma toxica no rio mostram o quão grave é a situação. Imagem da prefeitura de Bom Jesus de Pirapora (SP)

– Na Argentina várias cidades que usam a água do rio Paraná para abastecimento da população, são obrigadas a tomar medidas como furar poços ou buscar outras locais para captação de água. O governo central criou um fundo de emergência para ajudar as municipalidades.

Imagem da prefeitura de Bom Jesus da Pirapora (SP).

 

27 jul. 2021

Governo Argentino decreta emergência hídrica por 180 dias devido a grande seca na bacia do rio Paraná. O grave problema ocorre nos 3 países que a formam: Brasil, Paraguai e a própria Argentina

Se decreta la emergencia hídrica por 180 días,

“Considerando que el déficit de precipitaciones en las cuencas brasileñas del río Paraná, del río Paraguay y del río Iguazú es uno de los factores determinantes para la bajante histórica actual, considerada la más importante en nuestro país en los últimos SETENTA Y SIETE (77) años.

Que la bajante extraordinaria de los ríos mencionados presenta eventuales afectaciones sobre el abastecimiento del agua potable, la navegación y las operaciones de puerto, la generación de energía hidroeléctrica y las actividades económicas vinculadas a la explotación de la Cuenca Hídrica conformada por los ríos Paraná, Paraguay e Iguazú.

Que el ESTADO NACIONAL, a través de la coordinación de distintos organismos, lleva adelante un monitoreo permanente que permite analizar posibles escenarios a corto y mediano plazo ante esta situación problemática, dando las alertas correspondientes para gestionar los riesgos y mitigar sus posibles consecuencias.

Que la extraordinaria magnitud de los acontecimientos requiere que todas las áreas del Gobierno Nacional aúnen esfuerzos para mitigar este fenómeno hidrológico en las zonas alcanzadas por la afectación.”

 

27 jul. 2021

O custo de uma parte da crise da água – a da geração de energia

O uso de usinas termelétricas por conta da escassez nos reservatórios das principais hidrelétricas deve custar R$13,1 bilhões até novembro deste ano aos consumidores. Devido à crise hídrica, o governo autorizou o uso de todas essas usinas, até mesmo as mais caras, para garantir o abastecimento de energia no País. A despesa bilionária será embutida nas tarifas de energia no próximo ano. (Estadão)

 

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