O impacto das mudanças climáticas na produção de alimentos em todo o mundo tem o potencial de levar à morte extra de 529 mil adultos em 2050. É o que calculam pesquisadores da Universidade de Oxford, em uma avaliação sobre 155 países, em estudo publicado na última quarta-feira, 2, na revista médica The Lancet.
Os autores, liderados por Marco Springmann, levaram em conta que as consequências da perda de produção podem ir além da redução imediata na oferta de alimento, que seria o problema mais óbvio, mas também levar a mudanças na composição da dieta e no peso corporal dessas populações, que igualmente poderiam levar a mortes.
Entre essas mudanças, eles consideraram fatores como a redução do consumo de frutas e vegetais e aumento no de carne vermelha, ligados ao sobrepeso. “Isso tudo aumenta a incidência de problemas como doenças cardíacas, derrames e câncer, assim como a morte por essas doenças”, afirmou Springmann em comunicado à imprensa.
Segundo os autores, a falta de frutas e vegetais pode causar duas vezes mais mortes que a desnutrição. Segundo o trabalho, as mudanças climáticas podem reduzir em 1/3 a melhoria projetada de dispobilidade de alimentos em 2050.
A maior parte dessas mortes aconteceria na Ásia, ficando a China com quase metade dessas mortes (247.970), seguida da Índia (135.970). Mas a maioria dos outros países, em menor grau, também seria atingida. O Brasil, por exemplo, teria 4.490 mortes extras. Esses números são comparados com um cenário sem mudanças climáticas. Sem elas, ao contrário, poderia haver um aumento na dispobilidade e no consumo de alimentos capaz de evitar 1,9 milhão de mortes.
Em alguns países são previstas reduções no número de mortes com essas mudanças, como de 600 pessoas na África do Sul e de quase mil na Venezuela.
Isso porque pode haver ganhos na redução de obesidade. De acordo com o trabalho, esse efeito poderia evitar até 260 mil mortes em todo o mundo em 2050. Mas esse número é superado pelo aumento de mortes relacionadas à baixa disponbilidade de calorias em alguns e ao aumento de mortes de pessoas em sobrepeso (266 mil mortes extras).
Brasil – Um outro estudo divulgado nessa quarta, sobre os riscos de mudanças climáticas mais extremas no Brasil, aponta riscos para a produção de soja, milho, feijão e arroz. De acordo com o trabalho, liderado por Eduardo Assad, da Embrapa, nos piores cenários de aquecimento global, em que a temperatura média do país subra 4ºC ou mais, pode haver uma redução das áreas de baixo risco para o plantio dessas culturas. No caso da soja, essa perda pode ser de 81%.
Fonte: Estadão