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Mercado de energia solar em telhados no Brasil vive boom e atrai investidor

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Painel fotovoltaico é instalado em residência do Minha Casa, Minha Vida, em Juazeiro (BA)

Reuters Brasil

Painel fotovoltaico é instalado em residência do Minha Casa, Minha Vida, em Juazeiro (BA)
Painel fotovoltaico é instalado em residência do Minha Casa, Minha Vida, em Juazeiro (BA)

São Paulo – O mercado de pequenas instalações de energia solar cresce com força no Brasil desde meados do ano passado e cria expectativa de um aumento exponencial nos próximos anos, o que chamou a atenção de grandes elétricas internacionais, que têm anunciado ou ampliado investimentos no setor, como a italiana Enel, a norte-americana AES e a francesa Engie.

A tecnologia instalada em telhados ficou mais viável após a forte elevação das tarifas de eletricidade, de quase 50 por cento em 2015, e de mudanças na regulação em novembro que tornaram mais atrativa a instalação dos sistemas, que reduzem ou zeram a conta de energia dos consumidores, conforme a energia produzida por eles vira um crédito nas faturas.

Segundo estudo do Greenpeace, a tecnologia tem potencial para sair praticamente do zero e alcançar cerca de 29,6 mil megawatts em potência instalada até 2030, se mantido o cenário atual, o que representaria mais de seis milhões de instalações – a princípio, não há limitações técnicas para esse crescimento.

Essa expansão ainda poderia chegar a até 41,4 mil megawatts, que representariam uma presença maior na matriz brasileira, que hoje tem 142,6 mil megawatts instalados, se fossem adotados incentivos tributários e outras facilidades, como a possibilidade de o consumidor utilizar recursos do Fundo de Garantia (FGTS) para a compra das placas fotovoltaicas.

Atualmente, segundo a Aneel, existem 1,9 mil sistemas, ou 22,8 megawatts em potência.

“Isso já mostra o potencial que essa fonte tem no Brasil… a gente percebe que está havendo um crescimento bem acelerado de outubro passado para cá, mas esperamos que isso aconteça de forma mais rápida, sobretudo se conseguirmos alguns incentivos”, disse à Reuters a coordenadora de energia solar do Greenpeace, Bárbara Rubim.

De olho nesse mercado, a italiana Enel montou uma empresa dedicada à geração solar de pequeno porte no Brasil ainda em 2013, a Prátil, que no ano passado acelerou a contratação de representantes comerciais no país para garantir o crescimento em meio a um cenário mais favorável para a tecnologia.

“A Prátil espera crescer ao menos cerca de 150 por cento por ano até 2020”, disse a Enel à Reuters, em nota.

Em 2015, a capacidade instalada em sistemas de microgeração solar vendidos pela companhia cresceu de 170 kWp para 1.392 kWp.

Além de vender os sistemas, a empresa da Enel também oferece a opção de financiar as instalações para clientes, que então passam a pagar pela prestação do serviço.

“A companhia está investindo cerca de 23,5 milhões de reais em projetos de geração distribuída em 2016”, apontou a Enel.

A norte-americana AES também entrou no segmento – no final de abril, a companhia incluiu a instalação de sistemas de microgeração solar entre os serviços prestados por uma nova empresa do grupo no Brasil, a AES Ergos, voltada a soluções em energia para clientes comerciais e residências.

A empresa, inclusive, já concluiu a primeira instalação, em um contrato que contemplou a entrega de um sistema com 262 painéis fotovoltaicos na sede do governo do Estado de São Paulo, com capacidade de 310 watts.

TENDÊNCIA INEVITÁVEL

Para a AES, a AES Ergos poderá no futuro ser até mesmo maior que as distribuidoras de energia do grupo, AES Eletropaulo e AES Sul, conforme o crescem a microgeração e a prestação serviços na área de energia.

“Essa é uma tendência inevitável. O poder do cliente cresce (com a tecnologia) e ele está mais engajado com o tema energia limpa. Ainda que haja questões temporais, o caminho está traçado”, afirmou a presidente da AES Ergos, Teresa Venaglia.

Outra gigante da área de energia que recentemente anunciou a entrada nesse segmento foi a francesa Engie, que com sua controlada Tractebel fechou a aquisição no mês passado da Brasil Energia Solar, voltada a instalações de pequeno porte.

“Fizemos um plano de negócios em que vamos injetando recursos e também a nossa expertise em energia… é um plano de negócios para entrar (no setor), dentro de um novo projeto de se aproximar do cliente, ter contato direto com o consumidor, o que está dentro do que a Engie pensa para o futuro do mercado de energia”, disse o presidente da Tractebel, Manoel Zaroni.

No radar do setor, no entanto, está a crise política e econômica do país, que pode atrasar o ritmo de expansão previsto para a indústria.

“Infelizmente o cenário de crise pode afetar isso… a gente sabe que estamos propondo desoneração, o que no contexto de crise é quase uma palavra proibida, mas nossos estudos mostram que isso traria emprego e arrecadação com tributos”, afirmou Bárbara, do Greenpeace.

Segundo a instituição, os cenários previstos de expansão da chamada microgeração solar poderiam gerar entre 2,8 milhões de 3,9 milhões de empregos diretos e indiretos, e entre 7,8 bilhões e 11,3 bilhões de reais em arrecadação tributária até 2030.

“Dentro do setor de energia, a geração solar é uma das fontes que mais gera emprego por megawatt instalado”, disse Bárbara.

A especialista do Greenpeace chamou ainda a atenção para as emissões de gases do efeito estufa que poderiam ser evitadas, com o avanço da geração distribuída.

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