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Notícias do Clima

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Via ClimaInfo

“PÉROLAS” DE MAGGI PROVOCAM BAFÃO NA COP22

É provável que a passagem do ministro da agricultura pela COP22 seja lembrada no futuro como o momento mais constrangedor promovido pelo Brasil na história das negociações climáticas. Ele já disse por aqui que as promessas do Brasil para o Acordo de Paris são só intenção, que o setor agropecuário não vai cumprir suas metas de redução de emissão se não for pago para isto, que a Reserva Legal é para as fazendas o mesmo que um hotel poder comercializar somente 20 de seus 100 quartos e que as mortes de ativistas ambientais no campo são “problema de relacionamento” (e seriam “só” 50). As “pérolas” de Maggi foram colecionadas e entregues em um colar pela ONG jovem Engajamundo ao ministro ontem no início da noite.

Segundo Maggi, o custo das ações de redução de emissões previstas para o setor seria de entre “40 a 50 bilhões de dólares” e o setor não tem como pagar a conta. O Observatório do Clima entregou ontem carta ao ministro questionando estes números: “Num cálculo simples, US$ 40 bilhões até 2030 (prazo das ações contempladas na NDC) equivalem, utilizando-se uma taxa de câmbio de R$ 3,20, a pouco menos de R$ 10 bilhões por ano em 13 anos. Apenas em 2016 o Plano Safra destinou R$ 202 bilhões ao financiamento do setor agropecuário, cuja inadimplência histórica média é de cerca de 5%. Somente o custo de equalização dos juros do Plano Safra, em julho de 2015, atingiu R$ 13,4 bilhões. Ou seja, mesmo admitindo que a estimativa do ministro Blairo Maggi esteja certa, haveria dinheiro para bancar a NDC. Bastaria, para isso, que os agricultores pagassem suas dívidas”.

http://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/ambiente-se/para-blairo-maggi-metas-brasileiras-para-o-clima-sao-so-intencao/

http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2016/11/1833205-problemas-de-relacionamento-matam-ambientalistas-diz-ministro.shtml

 

AFINAL, O BRASIL QUER OU NÃO AJUDA PARA PRESERVAR A FLORESTA?

Em evento na COP22 nesta 4af, os ministros Maggi e Sarney Filho disseram que qualquer ajuda de fora era bem-vinda. Por outro lado, negociadores brasileiros declararam ser contra o REDD (redução das emissões de desmatamento e degradação da terra) emitir créditos de carbono para preservar a floresta. Thelma Krug, uma das vice-presidentes do IPCC, diz que estes créditos não podem substituir o esforço dos países em reduzir suas emissões que vêm, principalmente, da queima de combustíveis fósseis.

Afinal, o Brasil quer ou não ajuda para conter o desmatamento?

Posto que o combate ao desmatamento anda empacado, dizer que o Brasil é contra o REDD exige que o governo apresente quais medidas efetivas porá em ação para preservar as florestas.

Em tempo, se tomarmos o dito a fundo, será o fim de linha para todos os mercados de carbono, já que estes funcionam com alguém que continua a emitir pagando para outro reduzir as emissões em seu lugar.

http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2016/11/1832540-incentivo-financeiro-para-manter-florestas-divide-delegacao-brasileira.shtml

 

RECADO CHINÊS 1

O chefe dos negociadores chineses, Xie Zhenhua, disse ontem que “a transição para a economia de baixo carbono é imutável” e que combater a mudança do clima e ter metas de longo prazo “são assuntos que não podem ser mudados”.
http://www.valor.com.br/internacional/4779531/cop-22-transicao-para-baixo-carbono-e-imutavel-diz-negociador-chines

 

RECADO CHINÊS 2: NÃO INVENTAMOS O AQUECIMENTO GLOBAL

Do alto escalão da cúpula chinesa veio o recado para Trump: a Convenção e as negociações do clima começaram durante os governos republicanos de Reagan e Bush pai no final dos anos 80. Os chineses resistiram bravamente durante anos (junto com o Brasil, aliás) a assumirem metas de redução. Nos últimos tempos, eles vêm tomando medidas sérias nesta direção e se qualificam para dar bronca nos outros.

http://www.bloomberg.com/news/articles/2016-11-16/china-tells-trump-that-climate-change-is-no-hoax-it-invented

 

PEÇAM A TRUMP QUE VISITE A LOUISIANA

Nova Orleans fica no estado da Louisiana, onde Trump ganhou por menos de 2% dos votos. Um seminário esta semana discutiu o tamanho da encrenca que vem pela frente. Um dos pontos foi o diluvio que caiu no estado agora em agosto, quando choveu durante 32 horas sem respiro. Estatisticamente, correspondeu ao que acontece uma vez a cada milênio.

Em tempo, não foi um furacão como a Katrina, que destruiu boa parte da cidade em 2005.

http://www.nola.com/environment/index.ssf/2016/11/climate_change_hurricanes_and.html

http://www.nola.com/weather/index.ssf/2016/08/louisiana_flood_of_2016_result.html

 

POR FALAR EM FURACÕES, O ANO DE 2016 ESTÁ ENTRE OS PIORES

A estação de furacões termina no próximo dia 30. 2016 começou causando quando em janeiro, 6 meses antes de começar a temporada oficial, o Furacão Alex se formou no Atlântico Nordeste, o primeiro desde 1955. Também foi a primeira vez que dois furacões fortes, categoria 4 ou 5, se formam no mesmo mês de outubro: Matthew e Nicole. O Matthew foi o mais forte dos 15 que se formaram até agora. A contabilidade mostra quase 1.800 mortes e prejuízos de mais de US$ 11 bilhões. O país mais atingido foi o Haiti.

http://www.noaa.gov/stories/peak-of-hurricane-season-why-now

http://www.nhc.noaa.gov/

 

AQUECIMENTO “INSANO”

O Washington Post conta que o Danish Meteorological Institute detectou temperaturas “insanas” na região do Polo Norte: 20oC (vinte!) acima do normal para esta época do ano! Jennifer Francis, especialista no assunto da Universidade Rutgers, diz que “o calor do Ártico é resultado de uma combinação de um recorde de redução da extensão de gelo marinho para esta época do ano, provavelmente sendo este gelo muito fino, e muito ar quente e úmido vindo de latitudes inferiores pressionado para o norte por uma forte ondulação da corrente de jato”.

https://www.washingtonpost.com/news/energy-environment/wp/2016/11/17/the-north-pole-is-an-insane-36-degrees-warmer-than-normal-as-winter-descends/?utm_term=.49bdfc33343f

 

QUEM CUMPRE A NDC, QUEM NÃO E QUEM MAIS OU MENOS

O Grantham Institute, ligada à London School of Economics, atualizou sua classificação dos países do G20 de acordo com a consistência da NDC. São três os critérios usados: (1) a consistência entre metas internas e a NDC; (2) como estão as emissões em relação a metas estabelecidas em Copenhagen e/ou Cancun e (3) a evolução da ambição das metas desde Quioto. No primeiro grupo estão os primeiros da classe: França, Alemanha, Reino Unido, Itália, China e… o Brasil. Bem, os três últimos precisam dar uma caprichadinha e alinhar metas internas com as NDCs. No segundo grupo, os dos mais ou menos, estão Japão, Índia, México, África do Sul e Coréia do Sul. Falta mais ambição, falta alinhar os tempos das diferentes metas; em particular a Índia precisa passar das metas setoriais para a economia como um todo. Na rabeira, precisando criar toda a regulação e legislação necessária para cumprir a NDC, que também precisa ser mais ambiciosa e com as metas alinhadas para 2030, estão EUA, Argentina, Canadá, Arábia Saudita e Turquia.

Palpite: uns e outros no buraco estão se esforçando para cavar mais fundo.

http://www.lse.ac.uk/GranthamInstitute/wp-content/uploads/2016/11/Averchenkova-and-Matikainen-2016_web.pdf

http://www.lse.ac.uk/GranthamInstitute/publication/assessing-the-consistency-of-national-mitigation-actions-in-the-g20-with-the-paris-agreement/?mc_cid=14799fb6c5&mc_eid=30bafad0d8

 

SOBRE OS US$ 100 BILHÕES PROMETIDOS EM PARIS

Na semana passada o comitê da UNFCCC encarregado de monitorar as transferências de países ricos para pobres para enfrentar as mudanças do clima, disse que, no biênio 2013/14, o total transferido foi de US$ 41 bilhões, um aumento de 15% em relação ao biênio 2011/12. 75% foi para ações de mitigação de emissões e só 25% para adaptação – onde a coisa pega. Um comentário maldoso diz que em 2014 o investimento em combustíveis fósseis foi de US$ 1,6 trilhões.

Sobre o Trump sair à francesa do Acordo, Sir Nicholas Stern, autor do relatório que leva seu nome e ex-economista chefe do Banco Mundial, disse que não vai fazer muita falta, pois em relação ao bolo de US$ 100 bi anuais prometido em Paris, a contribuição direta do governo americano nunca foi grande coisa.

https://cleantechnica.com/2016/11/14/unfccc-tackles-finance-flows-cop22-week-1/

http://www.bloomberg.com/news/articles/2016-11-15/global-100-billion-climate-fight-pledges-may-survive-trump-era

 

A AVIAÇÃO COMO UM BODE NA SALA DOS MERCADOS DE CARBONO

Em setembro, muitos comemoraram o compromisso finalmente assumido pela aviação internacional para reduzir suas emissões. Num artigo interessante da Pacific Standard, aparecem todos os pesadelos dos mercados de carbono. A aviação internacional é responsável por 1,3% do que se emite no mundo – isto é mais do que a maioria dos países emitem. O compromisso diz que vamos continuar emitindo até 2020. Daí em diante, a gente compensa tudo que passar da marca de 2020. E vamos continuar pesquisando todas as formas de reduzir nossa pegada, principalmente aumentando nossa eficiência. Lindo. Esse “a gente compensa” é feito no mercado de carbono. Só que ainda não temos um que sirva. Para servir, este mercado tem que ser muito, mas muito confiável, possivelmente fiscalizado pela UNFCCC, que ganhou experiências com o Protocolo de Quioto. Principalmente se aprenderam com as mancadas que deram. O artigo sugere que florestas deviam ficar fora. Embora fossem exatamente nas floretas que a aviação estava mirando. O argumento: com o aquecimento global, haverá mais incêndios e mais secas comprometendo a vida das árvores que podem virar CO2 de uma hora para outra. O artigo termina apontando para o problema da dupla contagem.

Créditos de carbono brasileiros para a aviação? O governo brasileiro vai ter que somar às suas emissões nacionais, as emissões correspondentes da aviação. Se não somar, como declaradamente vem fazendo, então os dois, governo e aviação, vão declarar a mesma redução de emissão. Isso não pode. Desta vez tem que ser para valer – os créditos de carbono que os projetos brasileiros (não só, claro) venderem terão que ser somados ao total inventariado.

https://psmag.com/how-aviations-carbon-market-could-undercut-the-paris-agreement-929fee3effac#.xicz2safa

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