– Ecoa participa de Encontro Virtual internacional.
– Países da América Latina devem olhar Espanha como seu futuro próximo.
– Fragilidade dos sistemas de saúde somada às violações dos direitos humanos.
A Ecoa acompanha por todos os meios possíveis o desenvolvimento da pandemia Covid-19 no Brasil e em outros países. O objetivo é ter as informações mais corretas possíveis e propor medidas que salvem vidas, principalmente no Pantanal e no Cerrado, caso a contaminação se alastre pelas regiões.
Nesta perspectiva, no dia 31 de março de 2020, Nathalia Eberhardt Ziolkowski, membro do Grupo Gestor da organização, participou do Encontro Virtual promovido pela Connectas, uma iniciativa jornalística sem fins lucrativos que promove a produção, o intercâmbio, o treinamento e a disseminação de informações sobre questões-chave para o desenvolvimento das Américas.
A Connectas propôs esse debate para tratar sobre o ofício de jornalistas frente a pandemia. A seguir, o relato de Nathalia com importantes considerações e informações dos palestrantes do Encontro:
No dia 31 de março, terça-feira, aconteceu o Encontro Virtual promovido pela Connectas, com foco no trabalho de jornalistas frente a pandemia. As/os palestrantes convidadas/os a contribuir com esse debate foram:
Sandra Crucianelli (Argentina) – Jornalista de dados. Especializada em base de dados, matemática e estatística para jornalistas.
Fabiola Torres (Perú) – Diretora e fundadora da “Salud con Lupa”, uma plataforma digital de jornalismo colaborativo dedicada a saúde pública na América Latina.
Juan Luis Sánchez (Espanha) – Jornalista, cofundador e vice-diretor do jornal on line “eldiario.es”
A moderação do debate foi feita por Sol Lauria (Argentina) – jornalista investigativa, membro da Comunidade Jornalística da Connectas.
Entre os pontos fortes do debate, resenhamos os seguintes pontos:
• Um alerta, a Espanha olha a Itália como sendo seu futuro próximo e os países da América Latina devem olhar a Espanha como sendo seu futuro próximo, segundo observam pelos dados e informações que acessam.
• A demora do poder público na tomada de decisão sobre ações efetivas de contingência se mostrou arrasadora na Itália e na Espanha. Por outro lado, Juan Sánchez pontuou que, líderes das Províncias e líder federal na Espanha sempre apresentaram dados científicos e colocaram especialistas para fornecer informações e falar com a imprensa, diferente do que fez Trump e Bolsonaro. As medidas tomadas na Espanha, apesar de tardias, tiveram por base critérios científicos e foram colocadas em prática tão logo quando houve a explosão de casos de pessoas contaminadas, em uma crescente de grande progressão diária. A realidade mudou drasticamente em pouco tempo, como exemplo Juan diz que no período de 15 dias passaram da discussão sobre permitir partidas de futebol ao confinamento extremo e obrigatório.
• O ofício da/o jornalistas é muito importante para nos trazer informações nesse momento e o que muitas/os se perguntam é: como cobrir a pandemia? Como reportar informações sobre esta? Como entender, como medir, como interpretar e como comunicar?
• Apontam as palestrantes que há indicadores básicos que merecem atenção, como a quantidade de casos confirmados e a relação entre mortos e casos confirmados. Porém, no momento não é fácil se apoiar nesses que seriam indicadores de grande relevância, visto que os dados são subnotificados e isso é uma realidade de todos os países em questão no debate. Não há, em nenhum país, um sistema para uniformizar a informação, é o que observam as/os responsáveis pela informação. Outra problemática citada é que nenhum país sabe o número de pessoas que são hospitalizadas por dia, com sintomas.
• Como postos-chaves para uma resposta positivada na contenção da transmissão da Covid-19 na América Latina, é evidente, apontam especialistas, inclusive partindo da experiência de outros países que já viveram ou vivem o ápice dos efeitos da Covid-19, a capacidade de diagnóstico e estratégia sanitária de mercado – fabricação de testes suficientes para diagnosticar o índice real de contaminação, é o que permitirá os países criarem medidas efetivas de prevenção e cuidados.
• Todos os países estão enfrentando problemas de transparência de informação.
• Entende-se agora, mais que nunca, que a saúde é uma indústria que depende de mercados, da indústria farmacêutica, de patentes. Jornalistas estão estudando e usando o termo “Saúde Corrupta” para debater a apropriação da situação pela indústria da saúde, em uma lógica mercadológica. Por exemplo, é preciso nos questionarmos sobre quais indústrias farmacêuticas têm os medicamentos hoje utilizados nas terapias de tratamento? Nas mãos de qual indústria ficará a produção da vacina, quanto vai custar e quanto tempo vai levar para chegar a todas as pessoas?
• Por fim, a fragilidade dos sistemas de saúde na América Latina e a grande desigualdade social histórica, somada as violações de direitos humanos, são pontos que os/as preocupam nesse contexto de pandemia. Nesse cenário, preocupa também o crescimento do autoritarismo. Há países que viveram ditaduras com altos custos sociais. Os controles policiais estão reforçados nos países, porém isso ocorre em resposta a uma situação extrema, excepcional e global, mas é possível chegar ao entendimento de que um abuso de autoridade dependerá da perspectiva política de cada líder de Nação. Um ditador ou um governante desonesto podem sim se valer dessa pandemia para tomar decisões equivocadas e cometer abusos de poderes.
O debate já está disponível no YouTube: