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Projeto da Ecoa é finalista do Prêmio Mundial de Habitações

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O projeto Casas Adaptadas para fazer frente aos eventos climáticos extremos no Pantanal, foi um dos 10 finalistas do Prêmio World Habitat Awards, realizado no fim de 2019.

O projeto contou com arquitetos sob coordenação de Juliano Thomé e Bruno Pasello, engenheiros, e coordenação geral de André Luiz Siqueira, diretor presidente da Ecoa.

Entre os trabalhos concorrentes de todo o mundo, este foi destaque na página oficial do Prêmio, como pode ser conferido aqui, e no texto abaixo, traduzido para o português:

Nossa falta coletiva e avassaladora de consciência sobre a importância das áreas úmidas, fez com que se tornassem o ecossistema mais ameaçado globalmente. Nosso futuro está intrinsecamente ligado a esses ambientes naturais…“- Martha Rojas Urrego, secretária geral da Convenção de Ramsar.

Zonas úmidas, áreas de terra cobertas pela água de forma permanente ou sazonal, atuam como filtros naturais da água e são fontes cruciais de alimentos para milhões de pessoas em todo o mundo. São também de vital importância na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, devido ao seu papel na limitação de carbono na atmosfera.

Expandindo as fronteiras do Brasil para a Bolívia e o Paraguai, o Pantanal é uma das maiores áreas úmidas do mundo. A área sofre secas e inundações anuais devido ao ciclo de subida e descida da água, causando condições de vida extremamente vulneráveis para milhares de famílias em toda a região.

Essas famílias também desempenham um papel importante na conservação. Como Victoria Tauli-Corpuz, relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os direitos dos povos indígenas, diz: “os povos indígenas e as comunidades locais são os melhores guardiões das terras e florestas em que todos confiamos para um clima estável“.

Uma comunidade [formada por famílias de descendência] indígena – São Lourenço – trabalhou com a ONG brasileira ECOA (Ecologia e Ação) para desenvolver casas adaptadas usando materiais reciclados e tecnologias de baixo custo, projetadas para lidar com os impactos de eventos climáticos extremos em áreas úmidas. Elevadas do solo para proteger de inundações e ataques de animais, elas podem ser montadas em oito dias e desmontadas rápida e facilmente em caso de mudanças ambientais ou um aviso de um grande evento climático. O Projeto Casas Adaptadas beneficiou toda a comunidade de mais de 100 pessoas – através do acesso à moradia, saneamento, água potável e energia solar. Apesar do desafio fundamental de seu extremo isolamento – a comunidade só pode ser alcançada de barco pela cidade mais próxima de Corumbá, uma jornada que leva pelo menos 28 horas.

Dona Joana, moradora da Comunidade Barra do São Lourenço, Pantanal (Foto: Iasmim Amiden)

‘Mãe de todos’, Joana Batista Gomes, 43 anos, sempre morou no Pantanal, onde criou seus filhos. Ela também cuida de alunos da escola da comunidade local, onde trabalha como merendeira. As raízes de sua comunidade sempre estiveram nas áreas úmidas do Pantanal e, agora, graças ao Projeto Casas Adaptadas, ela acredita que a vida melhorou drasticamente.

Para nós que moramos aqui, ninguém sabia sobre a nossa existência, pelo que estávamos passando – foi muito difícil. Mas agora, nossa vida tem mais vitória. Hoje em dia, conseguimos muito, então as pessoas começaram a respeitar e ver que somos seres humanos que vivem na beira deste rio“. – D. Joana

Há alguns anos, uma enchente arruinou sua comunidade. Eles não puderam reconstruir suas casas, porque quando o fizessem, a enchente retornaria e devastaria a área novamente.

Quando o Projeto Casas Adaptadas chegou à comunidade, mudou tudo. Não nos preocupamos mais com a enchente. Todos os anos nos perguntávamos: ‘A água está chegando? Vai levar tudo?’. Agora pensamos em um novo começo. A casa é um novo começo para nós. As Casas Adaptadas demoraram muito tempo para acontecer, mas com muito esforço dos membros da comunidade, ECOA e Ministério Público, conseguimos“. – D. Joana

A comunidade recebeu um documento – o Termo de Autorização para Uso Sustentável [TAUS] – que detalha seu direito de viver permanentemente na região. Para aqueles que sofreram expulsão e acharam difícil permanecer em seu território, esse foi um passo importante.

“Junto com a moradia apropriada, conquistamos direitos como acesso ao território, atividades geradoras de renda, educação e outros. Outro benefício é que agora também temos energia elétrica – não apenas as casas, mas também a escola comunitária. Os professores me disseram que essa era a melhor notícia que eles podiam receber”. – D. Joana

Manoel Santana, pescador e morador da Comunidade Barra do São Lourenço (Foto: Iasmim Amiden)

Manoel Santana é um pescador tradicional, que viveu à beira do rio por muitos anos antes de receber uma Casa Adaptada. O design da casa foi modificado para a esposa, que usava cadeira de rodas.

Eu tive que mudar de lugar com minha família por causa das enchentes. Mas eu e minha esposa fomos escolhidos com gratidão pelos membros da comunidade para ter uma das primeiras unidades habitacionais do Projeto Casas Adaptadas. Isso ocorreu principalmente porque ela tinha 107 anos – a mulher mais velha da comunidade – e sofria de problemas de saúde“. – Manoel

Maria e família, moradores da Comunidade Barra do São Lourenço, Pantanal (Foto: Iasmim Amiden)

Outra moradora, Maria, também não se preocupa mais com o risco de inundações.

A casa mudou nossas vidas. Agora não precisamos mais nos preocupar se a água vai levar tudo. Estamos ampliando, aumentando, mas já melhorou bastante. Agora, com iluminação, trabalho à noite, faço algumas coisas para vender e tenho uma renda alternativa. E também temos muito mais segurança“. – Maria

Com a ameaça da crise climática, a preservação e a proteção das áreas úmidas são cada vez mais vitais – garantindo os direitos e a dignidade das pessoas que delas dependem.

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  • Texto por Elena Garcia.
  • Depoimentos coletados e Tradução de Iasmim Amiden.

Iasmim Amiden

Jornalista e Coordenadora do Programa Oásis da Ecoa.

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