Por Luana Campos (Ecoa)
Luana é graduada em Jornalismo (UFMS) e Mestre em Divulgação Científica e Cultural (Unicamp)
Chega de represas – Sob protestos contrários da população local, pressão de organizações da sociedade civil e denúncias do Ministério Público, sobre suposto esquema de favorecimento, o pedido de instalação da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Estivadinho 3 no Rio Jauru foi indeferido. Na região, já existem 6 empreendimentos hidroenergéticos, sendo uma usina hidrelétrica (UHE) e cinco pequenas centrais hidrelétricas (PCH).
A vida por um fio – O Jauru é um dos principais rios do Pantanal e tem sofrido sérios impactos depois da instalação dessas represas. A princípio, por funcionarem em sua maioria a “fio d’água”, utilizando o próprio leito do rio para movimentar seus geradores e não provocarem inundações de grandes áreas, essas PCHs implicariam em menores impactos. No entanto, a instalação das PCHs ao longo do Jauru causou alterações significativas na qualidade da água – nível de oxigênio e aumento da temperatura, por exemplo – como demonstram pesquisas científicas¹.
Efeito “onda de seca” – Ao converterem o perfil natural do Rio Jauru para uma sequência de PCHs, essas barragens também afetaram a vazão do rio, fazendo com que o volume das águas sofra variações de maneira brusca e frequente. O nível do rio não se mantém estável, subindo e descendo de metros a centímetros em poucas horas, como relatam pescadores. Esse fenômeno, batizado por pesquisadores de “onda de seca”, tem interferido diretamente na redução das populações de peixes e, consequentemente, em toda a dinâmica ecológica do Jauru. Além disso, impossibilitam a navegação no rio devido a formação de bancos de areia causados pelo assoreamento.
Cascata de impactos – A instalação e operação em cascata de hidrelétricas no Jauru ocorre porque os órgãos ambientais responsáveis pela aprovação dos projetos consideram apenas os impactos individuais de cada represa. A ideia equivocada de danos menores faz com que muitos empreendimentos sejam dispensados de apresentarem estudos e relatórios de impacto ambiental. O pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e do Centro de Pesquisa do Pantanal (CCP), Pierre Girard, alerta que além dos impactos individuais de cada PCH existem os impactos integrados que, somados, podem ser piores do que o de uma usina de grande porte.