Liquens são pioneiros cruciais para a vida

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bromélias, cactos e liquens no morro do urucum (pantanal)
Nas bancadas lateríticas, em torno do maciço do Urucum (Corumbá-MS) crescem seres únicos. Foto por Victor Sanches
  • Liquens são microrganismos que colonizam locais inóspitos e os torna habitável para outras espécies
  • Os liquens presentes nas bancadas laterísticas em torno do maciço do Urucum, na região de Corumbá-MS, são especialistas em sobreviver nas condições únicas do local
  • Bancadas lateríticas são paisagens únicas dentro da Paisagem Modelo Pantanal. Se tratam de lajes de pedra marcadas pela aridez, pouca água e solo
  • A Paisagem Modelo Pantanal pode ser uma alternativa para conservar tais seres tão importantes para a manutenção do ecossistema da região

 

Em paisagem única dentro da Paisagem Modelo Pantanal habitam seres importantes para a manutenção dos ecossistemas. O maciço do Urucum, em Corumbá (MS), compõe a riqueza da Paisagem Modelo Pantanal e é em torno da formação rochosa que existem bancadas lateríticas. É nela que habitam liquens vitais para a vida na região. 

As bancadas lateríticas são lajes de pedra marcadas pela aridez, altas quantidades de ferro, pouco solo e baixa quantidade de água. No maciço do Urucum apresentam características únicas com um alto índice de raios UV, baixa umidade e rochas constituídas de minério de ferro, que proporcionam alta temperatura em dias ensolarados e dureza dificultando a penetração no substrato. 

A área da Paisagem Modelo Pantanal, uma proposta alternativa para o manejo sustentável de um território, é marcada por espécies endêmicas e ameaçadas, como o pequeno cacto Discocactus ferricola e a Aspilia grazielae. É por essa rica e única biodiversidade que a Paisagem Modelo Pantanal, localizada na região oeste do Pantanal, é estratégica para a conservação. 

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Mas antes de entender o motivo dos liquens serem vitais para o ecossistema é necessário saber o que exatamente são esses seres. 

O que são liquens? 

“Liquens são miniecossistemas autossustentáveis formados pela interação de um fungo que entrelaça um ou mais parceiros fotossintéticos e um indeterminado número de outros organismos microscópicos” – explica Mayara Scur, doutora em Ecologia e Conservação, e Marcos Junji Kitaura, doutor em Ciências Biológicas. 

As espécies de liquens encontradas sobre as bancadas lateríticas no maciço do Urucum são especializadas em sobreviver neste tipo de ambiente e dificilmente são encontradas em ambientes sem essas características.  

Os pesquisadores explicam que “a composição mineral do maciço do Urucum é única no estado de Mato Grosso do Sul e influência na comunidade de liquens. As espécies que compõem a comunidade liquênica é constituída principalmente de cianoliquens, diferenciando de outras localidades”. 

Liquens são conhecidos como bioindicadores, que possuem sensibilidade às mudanças ambientais, e a presença ou ausência de espécies está diretamente relacionada ao ambiente. 

Leia também: A vida que brota na aridez do Maciço do Urucum, no Pantanal

 

O que torna os liquens vitais? 

Os liquens são espécies pioneiras que colonizam áreas desprovidas de vegetação e assim transformam locais inóspitos e estéreis em locais propícios para outras espécies. Ou seja, são eles que permitem que outros seres prosperem no local.  

“Com a presença de liquens, a matéria orgânica pode se acumular abaixo dos indivíduos, fornecendo proteção para outras espécies. Assim as condições que antes eram desfavoráveis são alteradas”  – Mayara Scur e Marcos Junji Kitaura 

Além disso, esses seres atuam como bioindicadores ambientais, ou seja, sua presença ou ausência servem como indicadores da degradação ambiental, qualidade do ar e biodiversidade, explicam os pesquisadores.

“As espécies de cianoliquens, aquelas que geralmente ocorrem na bancada laterítica, podem fixar nitrogênio atmosférico e transformá-lo em outras moléculas que podem ser absorvidas por outros organismos. O nitrogênio é um importante elemento na molécula de DNA, presente em todos os organismos” – Mayara Scur e Marcos Junji Kitaura 

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Ameaças aos liquens 

Apesar de sua importância, os liquens são ameaçados por fatores como desmatamento, incêndios, uso intensivo de agrotóxicos e qualquer ação antrópica que altera drasticamente o ambiente.  

“Os liquens têm a mesma importância do que qualquer outro organismo. Eles fazem parte do ecossistema, da mesma forma que uma onça pintada, o ipê-amarelo e os besouros. Todos compõem um determinado nível da cadeia trófica e a sua ausência pode gerar desequilíbrio. Quando valores antrópicos são estabelecidos, os liquens são conhecidos pela presença de metabólitos secundários com propriedades antioxidantes” – Mayara Scur e Marcos Junji Kitaura 

No estado de Mato Grosso do Sul e no Brasil ainda não se sabe quais as espécies que ocorrem no território e muitas espécies foram ou poderão desaparecer antes de serem conhecidas, relatam os pesquisadores da UFMS. 

Assim a Paisagem Modelo Pantanal se mostra uma possível estratégia para conservar esses seres tão importantes para a manutenção de ecossistemas. 

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Raquel Alves

Jornalista do núcleo de comunicação da Ecoa e comunicadora do projeto restauracción

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