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Crise hídrica novamente presente. Quais os efeitos para a produção de energia, o ambiente e a economia?

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Alcides Faria, diretor da Ecoa.

Por Alcides Faria, diretor da Ecoa

  • As informações mais recentes;
  • Na bacia do rio Paraná o centro do problema;
  • Represas das hidrelétricas ainda com 53% graças a operações que contaram com a entrada da geração eólica e solar;
  • Mercado financeiro segue de perto as condições hídricas e climáticas e faz projeções para impacto na inflação a partir de cenários hidro-climáticos.

A London Stock Exchange Group (LSEG), empresa fornecedora de dados financeiros, análises, notícias e produtos de índices global, alcançando “mais de 170 países”, segundo seu website, foi consultada pela Reuters para elaboração de matéria sobre o quadro da geração de energia elétrica nas represas em diferentes bacias hidrográficas do Brasil e suas previsões climáticas no tocante a chuvas para os próximos meses. Essas, certamente, são bases para traçar cenários sobre o ganho das companhias do setor elétrico e impacto em suas ações nos próximos meses.

A seguir registros ambientais climáticos apresentados pela LSEG mais informações complementares trazidas de outras fontes e conclusões a partir de fatos e cenários dos últimos dias:

– A umidade do solo das principais bacias hidrográficas que geram energia elétrica no Brasil alcançou o nível mais seco nos quase 20 anos que a LSEG faz monitoramento (desde 2005).

– Essa situação fará com que as primeiras chuvas não abasteçam diretamente as represas das hidrelétricas, sendo absorvidas pelo solo seco e não se convertendo em energia natural afluente (ENA). ENA indica quanto do volume de chuva ser transformado em energia.

– Se tem uma sequência de vários anos de chuvas abaixo da média, o que afeta a matriz principal de geração elétrica, a hídrica.

– A LSEG aponta que em setembro as bacias dos rios Paranaíba, Grande e Tocantins chegaram alcançaram o pior nível de umidade de solo desde 2005. Também as bacias do Tietê, Paranapanema e São Francisco atingiram índices de umidade dentre os mais baixos.

– Das 6 bacias indicadas no texto, 4 são sub-bacias da bacia do rio Paraná: Paranaíba, Grande, Tietê e Paranapanema. Vale lembrar que a bacia do Paraná é responsável por mais de 60% da geração hidrelétrica do Brasil e que esta apresenta situação crítica em outras sub-bacias.
– Na região Norte a seca levou à paralisação da hidrelétrica Santo Antônio em parte devido ao pouco volume de água do rio Madeira.

– A LSEG considera como “confortável” a situação dos reservatórios das hidrelétricas da “região Sudeste e Centro-oeste”, com 53% de sua capacidade, um percentual muito acima do observado na crise hídrica anterior, em 2021, quando desceram a 16%. Na Folha de São Paulo de hoje, 12/9, o colunista econômico Vinicius Torres afirma que os reservatórios na mesma região estavam com 53,1% no começo de setembro.

No mesmo período do ano passado estavam com 76%, em setembro de 2021 com 16,8% e em 2014 com 25,2%.

– A ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) implementou políticas para preservar água nas hidrelétricas tendo como um dos suportes o “crescimento acelerado das fontes eólica e solar, que passaram a atender grande parte da carga de energia”, segundo a LSEG. Mesmo assim se está acionando as termelétricas para os horários de pico.

– E o impacto na economia?

Impacto nos preços e na inflação

– A perspectiva atual de energia natural afluente (ENA) muito baixa é considerado no cálculo das bandeiras tarifárias.

– Tem gordura em reservatórios, mas em ENA está mal, a pior da história, “na casa de 9,2 GW (em setembro), é assustador, nunca vi isso acontecer no sistema elétrico brasileiro”.

– Atores do mercado financeiro manejam preços e inflação considerando os cenários hídricos/climáticos. As projeções para o IPCA variam de 4 a 4,53%, dependendo da bandeira a ser aplicada, o que é feito considerando o estoque de água nas represas e necessidades de geração.

Este texto reflete a necessidade de acompanhar e estudar de perto as possibilidades hídricas e climáticas na bacia do rio Paraguai e, logicamente, no Pantanal, buscamos constantemente dados disponíveis como os fornecidos por fontes como a Marinha do Brasil e a Dirección de Metereologia e Hidrologia do Paraguai sobre os níveis do rio Paraguai – isso permite ‘desenhar’ o estado da maior parte da planície pantaneira quanto a ocupação pela água. Outras áreas analisadas e estudadas são predições de frentes frias vindas do Sul e as publicações do Climate Prediction Center dos Estados Unidos sobre os fenômenos La Niña e El Niño (“nada afeta mais o clima global do que esses fenômenos”), cotejando com eventos de anos mais recentes.

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