Por Alcides Faria, biólogo, diretor-executivo da Ecoa, Ecologia e Ação.

 

– Na bacia do rio Paraná estão 57 grandes hidrelétricas, as quias geram 54% da energia elétrica consumida no País.

– Florestas e Cerrado eram as coberturas vegetais originais da maior parte da unidade ambiental “Bacia do rio Paraná”.

– A retirada de grandes extensões de vegetação nativa afeta o regime de chuvas ao provocar mudanças no clima regional, como amplamente demonstrado.

– A contribuição hídrica do Cerrado para a vazão da bacia do Paraná, por exemplo, chega a 50% e, mais, cerca de 50% da energia consumida no Brasil é gerada com as águas do Cerrado.

– As Florestas, apesar de devastadas, ainda são grandes ‘produtoras’ de água para abastecer cidades.

O desmatamento altera os processos naturais da água em cada microbacia hidrográfica. A vegetação nativa, adaptada, tem o papel de manutenção da umidade e controle da velocidade e volume das águas que chegam até os cursos d’água, tanto das águas que escorrem na superfície, como das águas que infiltram no solo, alcançando os lençóis subterrâneos. Estes lençóis, por seu turno, são os ‘armazenadores’ de água que abastecem gradativamente os córregos e rios ao longo do tempo, mesmo nos períodos mais secos.

– Menos vegetação nativa menor abastecimento dos lençóis e menos água para córregos e rios.

Outro processo a ter em conta é a perda do papel que tem a vegetação nativa na contenção do transporte de sedimentos pelas águas das chuvas para os pontos mais baixos, reduzindo o assoreamento. Bacias hidrográficas com pouca vegetação nativa facilitam o enchimento de reservatórios com sedimentos, diminuindo a capacidade de armazenamento de água, e, consequentemente, ao longo do tempo, reduz o potencial de geração de energia pelas turbinas de hidrelétricas.

As Florestas e o Cerrado são os 2 principais biomas que originalmente cobriam a bacia do rio Paraná. Estes biomas foram devastados aceleradamente ao longo dos últimos 60 anos e, vale registrar, o período em que se construiu a maior parte das represas existentes nos rios formadores da bacia.

– Na bacia do Paraná foram desmatados mais de 4,2 milhões de hectares entre 1985 e 2019 (Mapbiomas).

O Cerrado ocupa quase 25% do território brasileiro, com uma área de 20 milhões de hectares. É um espaço crítico para a produção de água no Brasil, como mostra a Rede Cerrado: o bioma “abriga oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras e abastece seis das oito grandes bacias hidrográficas do país: Amazônica, Araguaia/Tocantins, Atlântico Norte/Nordeste, São Francisco, Atlântico Leste e Paraná/Paraguai”. A Rede Cerrado destaca também que a cobertura vegetal do Bioma é fundamental para garantir os fluxos hídricos entre as diversas regiões do Brasil. Além disso, é nele onde estão três dos principais aquíferos brasileiros: Bambuí, Urucuia e Guarani.

Imagem: WWF/Wikipedia.

– A bacia do rio Paraná, o Cerrado e as represas.

A contribuição hídrica do Cerrado para a vazão da bacia do Paraná chega a 50% e cerca de 50% da energia consumida no Brasil é gerada com as águas do Bioma, o qual tem 57 grandes hidrelétricas responsáveis, por seu turno, por 54 % da energia consumida no País.

As sub-bacias da bacia do rio da Prata. Em verde a sub-bacia do rio Paraná e sua distribuição por Brasil, Paraguai e Argentina.

A crise de água está centrada na parte do País em que está a maior parte da economia – mais de 50% do Produto Interno Bruto PIB) -, fato que multiplica efeitos.  A bacia do rio Paraná tem 87,98 milhões de hectares e uma população de mais de 60 milhões de habitantes, predominantemente urbana (93% do total). Essa unidade ambiental abarca estados populosos e de peso na economia brasileira nas áreas de serviços, indústrias e agricultura. São eles: São Paulo com 25% da bacia; o Paraná 21%; Mato Grosso do Sul 20%; Minas Gerais 18%; Goiás 14%; Santa Catarina 1,5% e o Distrito Federal 0,5%.

Uma ‘aproximação’ de São Paulo ajuda a entender a repercussão ampla da crise hídrica para várias atividades. Com cerca de 22% da população brasileira e produzindo quase de 34% do PIB brasileiro, concentra o maior parque industrial do país. O Estado, banhado por 2 bacias, a do Paraná e do Atlântico Sudeste, tem apenas 12,06% de seu território com vegetação nativa. Dos 15% originalmente ocupados pelo Cerrado resta cerca de 1%.  Já quanto a ocupação do território se tem o seguinte: 38,74% de sua área com lavouras, 44,66% com pastagens, e 4,53% como mancha urbana (governo de SP). No estado do Paraná, usando mais um caso para exemplificar, já em 1980 restavam 22,5% da cobertura vegetal original – hoje ela é menos de 10%.

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