O Assentamento Andalucia, em Nioaque (MS), deu início nesta semana às atividades do projeto “Quintais Produtivos”, coordenado pela ECOA e pelo CEPPEC (Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação do Cerrado), com apoio do Fundo ECOS. A iniciativa marca um passo importante na valorização da agricultura familiar e na geração de autonomia para mulheres e comunidades do Cerrado.
Dez famílias receberam sementes e materiais para a implantação de hortas teladas, que fortalecerão a segurança alimentar – para humanos e fauna silvestre – e a geração de renda local. Além da estrutura, elas contarão com acompanhamento técnico contínuo, que inclui orientações práticas e o compartilhamento de saberes tradicionais para o plantio e a condução dos quintais.
Esse suporte será guiado por uma filosofia de trabalho baseada na troca e não na imposição de conhecimento. Como explica Nélida Tainá, indígena do povo terena, engenheira florestal e técnica do projeto:
“Eu não estou aqui para ensinar alguma coisa, porque quem sou eu? Quando a gente entra nos territórios como uma pessoa técnica, a gente nunca está indo para ensinar, mas para apoiar. Diante de todas as mudanças climáticas, que alteraram completamente a agricultura que antes era guiada pela lua e pelo clima, meu papel é dar um suporte com um olhar mais técnico, ‘O que a gente pode implantar agora?’. Os quintais produtivos são um exemplo claro de que podemos diversificar e adaptar as culturas. Espero que seja uma parceria de partilhas, uma troca genuína de conhecimentos e experiências. Que a gente partilhe, e que esse projeto seja só o começo de um modelo para muitas outras famílias.”
Na ocasião, Nathalia Ziolkowski, presidenta da Ecoa, e Rosana Claudina (Preta), agroextrativista e liderança do CEPPEC, assinaram o acordo que oficializa as doações e a execução do projeto.
Preta destaca a importância da iniciativa:
“Esse projeto é, primeiro, um exercício, mas a gente quer que dê tão certo que mais atores possam olhar para essa iniciativa e dizer: ‘Precisamos ajudar a agricultura familiar com esse modelo’. Não é um modelo para dez famílias; é um modelo para a agricultura familiar. A gente é um embrião. Hoje as famílias estão assentadas, mas não estão produzindo alimento. Mas como produzir sem ter um mínimo de estrutura? Com esse apoio, vamos amparar a produção e diversificar alimentos, o que é muito importante pra nós. Isso pode virar um modelo, porque nós não temos um modelo de assistência técnica ou acompanhamento da produção. Com essa estrutura de recursos e equipamentos, que ninguém nunca teve aqui, a gente vai se firmar, se adaptar às mudanças climáticas e mostrar que podemos contribuir muito mais com nosso país, nosso município e nosso estado.”
Tecendo saberes e resistência no Cerrado
Além dos quintais produtivos, o projeto inclui ações de recuperação de nascentes nos Assentamentos Andalucia e Bandeirantes, com cercamento e plantio de mudas nativas – medidas essenciais para mitigar a crise hídrica na região, considerada estratégica para a conservação do Pantanal.
Outro eixo do projeto é o fortalecimento do extrativismo sustentável, com a aquisição de uma câmara fria e um novo forno para o CEPPEC, que permitirão o beneficiamento e a comercialização de produtos derivados de frutos nativos do Cerrado, como pequi, bocaiuva e cumbaru.
O projeto “Quintais Produtivos” semeia autonomia, resistência e esperança e marca um passo concreto para mostrar que, com estrutura adequada e organização comunitária, a agricultura familiar pode florescer, transformando realidades e inspirando futuros modelos de desenvolvimento mais justos e sustentáveis.