Por Luana Campos (Ecoa)
Estudo do Butantã: “Se (os agrotóxicos) não matam, causam anomalias”. A declaração foi dada ao jornal Estadão pela diretora do Laboratório de Toxinologia Aplicada do Butantã, Mônica Lopes-Ferreira. A imunologista foi a responsável pela condução de uma análise, encomendada pelo Ministério da Saúde, com 10 dos agrotóxicos mais utilizados na agricultura brasileira.
A metodologia utilizada pelos pesquisadores/as do Butantã, para testar a presença de toxinas na água, é referência mundial, e revela que, mesmo um trigésimo da dosagem do uso de pesticidas recomendado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não pode ser considerado seguro. Pelo contrário, são “extremamente tóxicos ao meio ambiente e à vida em qualquer concentração”.
Glifosato: Entre os pesticidas analisados, o campeão entre os mais usados é o glifosato, amplamente relacionado à mortandade de abelhas e outros polinizadores ao redor do mundo. Ao El País Brasil, a jornalista Eliane Brum aponta que entre dezembro e fevereiro de 2019, mais de 500 milhões de abelhas foram encontradas mortas em quatro estados brasileiros – 80% no Rio Grande do Sul. A substância também é apontada como potencialmente cancerígena para mamíferos e humanos pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
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Envenenamento progressivo: Com sua economia fortemente apoiada no modelo de monocultura para exportação, o Brasil tornou-se um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. Os efeitos sobre a saúde do ambiente e dos humanos ocorre em cadeia, explica Mônica Lopes-Ferreira, “conforme o agrotóxico é borrifado nas verduras e nas frutas, ele cai no solo, na água, contamina todos os animais que estão ali e também o homem que se alimenta desses animais e desses vegetais”.
Liberação indiscriminada: Desde janeiro de 2019, o governo brasileiro liberou a comercialização de 290 novos produtos agrotóxicos – 87 são considerados extremamente tóxicos.
1/3 possui na sua composição, substâncias proibidas pela União Europeia conforme revela a pesquisadora, Larissa Bombardi (USP), autora do Atlas Geográfico do Uso de Agrotóxicos no Brasil.
Mais de 2.000 venenos aguardam ‘na fila’ para aprovação. Atualmente, 2.356 produtos agrotóxicos são comercializados no país.
Dos 290 produtos agrotóxicos liberados pelo governo Bolsonaro, apenas 27 são considerados “pouco tóxicos”. E mais de 65% serão produzidos por empresas estrangeiras. pic.twitter.com/m3Znh55Lth
— Robotox (@orobotox) July 26, 2019
Nova classificação: No final de julho, a Anvisa publicou um novo marco regulatório para a avaliação de risco de agrotóxicos – 1.924 produtos foram reclassificados (87,4% do total). O órgão afirma que o novo critério segue padrões internacionais, mais restritivos. No entanto, com a medida, 600 produtos saíram da classificação de extremamente tóxicos para assumir posições mais brandas.
Durante uma entrevista coletiva, a atual Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, defendeu que o Brasil precisa continuar aprovando novos registros para ‘modernizar’ os produtos, o que segundo ela, reduziria a taxa de toxidade.
E organizações como o Greenpeace, veem na mudança um afrouxamento, já que só serão classificados como extremamente tóxicos os agrotóxicos que representarem risco à vida humana.
Foto de Capa: Via Civil Eats
Referências:
Pesquisa indica que não há dose segura de agrotóxico – UOL Notícias
Ei, Bolsonaro, até o pênis está diminuindo – El País Brasil
Um terço dos agrotóxicos usados no Brasil inclui alguma substância proibida pela UE – El País Brasil
Tereza Cristina diz que liberar agrotóxicos não prejudica saúde do consumidor – O Globo
Conheça o Robotox, um robô que tuíta sempre que o Governo Federal libera um novo registro de agrotóxico – Por trás do Alimento
Entenda o que muda na classificação dos agrotóxicos pela Anvisa – G1