Tradução livre de texto de Dan Dinicola, da Universidade de Washington.
O desenvolvimento de pequenas barragens hidrelétricas é generalizado em todo o Brasil e em outras partes do mundo, sobrepondo amplamente os grandes projetos hidrelétricos.
A proliferação dessas barragens pequenas é uma resposta às crescentes necessidades de energia e segurança, mas sua expansão, no entanto, ameaça muitos dos rios de fluxo livre que restam em regiões tropicais biodiversas, interrompendo as migrações de peixes de água doce, dos quais dependem o sustento de milhões de pessoas.
Um novo artigo da Universidade de Washington publicado em 11 de janeiro na Nature Sustainability quantifica essas comparações entre a capacidade de geração hidrelétrica e os impactos na conectividade dos rios para milhares de barragens atuais e futuras projetadas em todo o Brasil. Os resultados confirmam que pequenas centrais hidrelétricas são mais responsáveis pela fragmentação dos rios do que suas contrapartes maiores devido à sua prevalência e distribuição.
“Os impactos cumulativos de muitas pequenas barragens hidrelétricas foram ignorados; em vez disso, o foco tem sido em analisar isoladamente, resultando em alegações de que seus impactos são pequenos”, disse o co-autor Julian Olden, professor de ciências aquáticas e pesqueiras da UW.
Este estudo foi conduzido por Thiago Couto, um recém-graduado como doutor na Escola de Ciências Aquáticas e Pesqueiras da UW – agora é um pesquisador fazendo pós-doutorado na Florida International University.
As barragens restringem o movimento de peixes migratórios ao longo das redes de rios e isolam habitats críticos, como áreas de desova e alimentação, que podem contribuir para extinções locais, declínio populacional e colapso dos estoques pesqueiros. Isso torna as espécies de peixes migratórios em alguns dos organismos mais vulneráveis ao desenvolvimento da energia hidrelétrica nos trópicos.
Uma pequena barragem hidrelétrica no Brasil. (Crédito: Victor Baptista)
Os autores enfatizam que muitas das espécies de peixes migratórios impactadas pela fragmentação são de alta importância ecológica e socioeconômica, e que algumas comunidades podem sentir os impactos mais do que outras. Como exemplo citam que algumas pequenas barragens hidrelétricas foram associadas ao declínio dos estoques de peixes dos quais grupos indígenas brasileiros dependem muito e a razão é que porque os peixes não estão mais migrando da maneira segura que ocorria historicamente.
Outra preocupação citada pelos autores é que as pequenas hidrelétricas superam em muito o número das grandes hidrelétricas, mas sua produção combinada de energia é muito menor. No Brasil, as pequenas centrais hidrelétricas respondem por apenas 7% da capacidade total de geração, embora representem mais de 85% do total das usinas hidrelétricas do país.
Os impactos coletivos do rápido crescimento de pequenas hidrelétricas no Brasil na fragmentação de rios e sobre espécies de peixes migratórios, são extensos e não mostram sinais de redução à medida que a construção das novas barragens planejadas continua, explica o estudo. Projeta-se que a fragmentação dos rios aumentará em 21% no futuro e dois terços das 191 espécies migratórias avaliadas no estudo ocupam bacias hidrográficas que sofrerão as maiores perdas de conectividade. Os autores defendem um melhor planejamento estratégico no desenvolvimento de energia hidrelétrica, com critérios ambientalmente considerados para minimizar os potenciais efeitos ecológicos adversos.
“Estávamos motivados pela esperança de que a sociedade possa ser mais inteligente com relação a construção de novas barragens no futuro”, disse Olden. “O estudo demonstra que, com um planejamento cuidadoso, o Brasil pode atender às necessidades futuras de produção de energia com impactos modestos na fragmentação dos rios e peixes migratórios.”
Foto de Capa: (Arquivo/Ecoa).