Além do impacto ambiental das queimadas no Pantanal para a fauna, a flora e a qualidade do ar, o prejuízo econômico também tem sido bastante elevado. Segundo dados do Lasa/UFRJ (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro), desde o início do ano foram devastados 897 mil hectares do bioma, equivalente a quase 6% de seu território, e o cenário levou os governos estadual e federal a investir ao menos R$ 204,8 milhões em ações de combate.
A situação deve piorar, uma vez que análises técnicas colocam os meses de agosto e setembro como período crítico para incêndios. A Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação) divulgou uma nota técnica em que calcula perdas de R$ 17,2 milhões para a agropecuária pantaneira apenas entre o período de 10 de abril a 12 de junho. Contudo, o levantamento não leva em conta os 434 mil hectares que foram queimados em todo o mês de junho, tampouco os danos vistos em janeiro, que somaram mais 127 mil hectares destruídos; considerados todos os números vistos nesse primeiro semestre, os prejuízos tendem a ser maiores.
“Os prejuízos provocados pelos incêndios são expressivos, tanto no que se refere aos aspectos ambientais quanto às perdas econômicas, e estão relacionados a diversos componentes, entre eles a vegetação, o solo, a fauna, os bens materiais e a vida humana”, diz a nota da Semadesc.
O estudo realizado pela secretaria serviu de base para que o Governo de Mato Grosso do Sul declarasse situação de emergência no dia 21 de junho. O decreto tem validade de 180 dias e vai até dezembro deste ano. O que se viu na sequência foi a liberação de recursos extraordinários por parte da União para tentar conter os danos.
O primeiro grande montando veio através da Medida Provisória 1.241/2024, publicada no dia 21 de junho. De um total de R$ 137,6 milhões, R$ 72,3 milhões foram alocados no Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, para ações de combate aos incêndios florestais; R$ 59,7 milhões destinaram-se ao Ministério da Defesa, para apoio às Forças Armadas; e R$ 5,7 milhões foram para o Ministério da Justiça.
Na semana seguinte, a Força Aérea Brasileira iniciou operações com a aeronave de transporte KC-390 Millennium, operada pelo Esquadrão Zeus, do 1º GTT (Primeiro Grupo de Transporte de Tropa) da base de Anápolis. O cargueiro precisa de apenas 40 minutos para abastecer seu tanque de 12 mil litros de água e chegou a realizar quatro sobrevoos por dia nos períodos mais críticos.
Houve ainda repasses para o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis) e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), com valores de R$ 38,1 milhões e R$ 34,1 milhões, respectivamente. O crédito foi utilizado principalmente para contratação de brigadistas pelo Prevfogo/Ibama, compra de EPIs (equipamentos de proteção individual) e custeio de despesas de diárias, como locação e transporte.
O governador de MS, Eduardo Riedel, comentou recentemente sobre a importância desses investimentos.
“Nós, quando estamos falando aqui de R$ 200 milhões, [cerca de] R$ 150 milhões do governo federal, até agora, e mais R$ 50 milhões do governo do Estado desde 2019, não é um volume de recursos desprezível. Somos uma potência ambiental. Isso tem valor na diversidade, tem valor na contenção e na mitigação de crédito de carbono. Isso tem valor na nossa cultura, assim como tem as nossas atividades econômicas tradicionais.”
O tom do discurso é semelhante ao adotado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em uma de suas visitas recentes a Corumbá neste mês. Segundo Marina, o presidente teria dado carta-branca para reverter a situação dramática no Pantanal.
“O presidente Lula disse o seguinte: contrate o número de brigadistas que for suficiente e gaste o que tiver que gastar para preservar o meio ambiente do Pantanal, que não é um patrimônio pessoal de Mato Grosso do Sul, é um patrimônio do Brasil”, reforçou a ministra.