Diário da crise hídrica – 4 a 8 de outubro de 2021 – Tempestade de poeira, racionamento no interior de SP, nível do rio Paraguai e mais

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8 out. 2021

Itaipu – menos energia e dívida com pagamento anual de US$ 2 bilhões.

A CNN Brasil publicou extensa matéria sobre a hidrelétrica Itaipu; um dos pontos centrais é a menor geração de energia devido a eventos climáticos extremos e outra questão importante é a gigantesca divida paga anualmente desde 1973: “Apesar de menor, a energia gerada por Itaipu tende a ficar mais barata no futuro — muito mais barata, inclusive. Segundo cálculos do Ministério de Minas e Energia, o preço do MWh (megawatt-hora) produzido pela hidrelétrica deve cair de R$ 349 para R$ 124 a partir de 2023 — redução de quase 70%, o que deve derrubar as contas de luz de consumidores comuns do país em mais de 4%.

O motivo é simples: em 2023, Itaipu termina de pagar o empréstimo tomado para sua construção, iniciada em 1973. As parcelas do financiamento custam por ano US$ 2 bilhões (mais de R$ 10 bilhões na cotação atual) à usina. E esse valor representa cerca de 70% do orçamento anual da hidrelétrica.”

Itaipu é a ultima hidrelétrica no leito do rio Paraná em território brasileiro; são quatro: Ilha Solteira, Jupia, Porto Primavera e Itaipu. Entre Paraguai e Argentina está a quinta, Yacyretá.

 

7 out. 2021

A Câmara dos Deputados do Brasil está discutindo a Medida Provisória (MP) da Crise Hídrica; deputados enxertam propostas que custarão muito a consumidores.

– Os cálculos são de que geradores e consumidores arcariam com uma conta de R$ 33,2 bilhões em 15 anos
No Valor “A MP estabelece a criação da Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (Creg), que atuará como um comitê emergencial para monitorar o sistema elétrico e tentar dar respostas mais ágeis do governo no combate à crise hídrica. O grupo ficaria sob o comando do Ministério de Minas e Energia.”

No Correio Brasiliense: “Há um item na MP voltado para a construção de gasodutos, com gastos que podem ser repassados como mais um custo de geração de energia. Segundo estimativa feita pela Associação dos Grandes Consumidores de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), o relatório de Viana pode ter um impacto de R$ 46,5 bilhões no bolso do cidadão. Só para construir a ligação entre as usinas de energia e as refinarias de petróleo — que produzem o gás combustível —, os cálculos são de que geradores e consumidores arcariam com uma conta de R$ 33,2 bilhões em 15 anos.”

 

7 out. 2021

Sexta morte devido às tempestades de poeira

A Folha de São Paulo noticiou no dia 6 último a sexta morte em São Paulo. A vítima foi o “dono de uma pousada no Campinal, distrito da cidade [Presidente Epitácio] localizada às margens do rio Paraná, Valdir Greter, 68, pescava com um amigo em um barco quando ambos se viram em meio ao vendaval. Eles tentaram abrigo próximo a uma plataforma de pesca no meio do rio, mas acabaram à deriva depois que a embarcação virou.
O colega de Valdir foi resgatado com vida no sábado (2), usando um colete salva-vidas. Já o corpo do empresário só foi encontrado quatro dias após o temporal, a 8 km do local do acidente, próximo à margem sul-mato-grossense do rio, por pescadores que auxiliavam o Corpo de Bombeiros e a Marinha nas buscas.”

 

7 out. 2021

Risco de racionamento diminui (Climainfo)

Choveu mais no Sul, novas linhas de transmissão entraram em operação antes do previsto e importou-se mais eletricidade da Argentina e do Uruguai. Assim, segundo a consultoria PSR, o risco de racionamento neste ano diminuiu. Mesmo assim, segundo o Canal Energia e o Yahoo Notícias, o sinal de alerta para o ano que vem segue alto, pois os reservatórios estarão baixos no final do verão. Não houve menção a uma possível redução da demanda por conta dos pedidos do governo para empresas e sociedade reduzirem seu consumo de eletricidade. Ainda assim, segundo o G1, o ministro Bento de minas e energia, não vê a necessidade da volta do horário de verão nos próximos anos.

A ANEEL marcou para o final deste mês um leilão de eletricidade de reserva, valendo para entregas entre maio de 2022 e o final de 2025. Para as térmicas fósseis e as a bagaço, o preço teto do MWh será de R$1.619, quatro vezes e meia mais do que o das renováveis. As térmicas entram pela disponibilidade, enquanto as renováveis entram pela quantidade de energia entregue. Os contratos a serem assinados se referem apenas à região Sudeste/Centro-Oeste. A notícia saiu no Valor, Canal Energia e no InfoMoney.

Enquanto isso, o secretário de desestatização do ministério da economia se mostrou irritado com os jabutis enfiados na MP da crise hídrica. Segundo o Metrópoles, Diogo MacCord avisou que eles aumentariam ainda mais a conta de luz e tachando a narrativa de que não haverá impacto de “papo furado” e “narrativa maluca”. O Canal Energia conta que, na 3a feira, dez das mais importantes associações do setor elétrico soltaram um manifesto dizendo aos congressistas que o aumento na conta de luz reduzirá ainda mais a competitividade da indústria nacional.

A CNN fez uma matéria especial sobre Itaipu que se aproxima dos 40 anos de funcionamento (a matéria fala em 50 anos, mas a usina começou a operar em 1982). Este ano, ela está atravessando a maior seca da sua história, com 30% menos água chegando até seu reservatório. No ano passado, ela gerou pouco mais de ¾ da máxima geração que foi alcançada em 2016. Vale lembrar que Itaipu é uma usina a fio d’água e seu imenso reservatório foi implantado para elevar a cota da usina e não para armazenar água.

 

5 out. 2021

O nível do Rio Paraguai, em Isla Margarita, localizada em frente à cidade brasileira de Porto Murtinho (MS), continua em queda. Esse é um registro importante, pois, a rigor, esta é região final do Pantanal. A imagem é do serviço de Meteoreologia e Hidrologia do Paraguai.

 

5 out. 2021

Rio Paraguai e seca no Pantanal sem melhoras no curto prazo.

“Segundo o Serviço Geológico do Brasil, há previsão para pancadas de chuva pelo rio. Para as próximas semanas estão previstas ocorrências de pequenas precipitações na área da bacia do rio Paraguai, com uma maior incidência de pequenos acumulados de chuva, a partir da segunda semana do mês de outubro e se distribuindo de maneira aleatória sobre toda a área da bacia” (Midiamax)

 

5 out. 2021

O site Era Verde informa que a perspectiva para o rio Paraná é “descendente” na Argentina.
– Continuará baixando o nível no mês de outubro e novembro.
– Atenção deve estar no abastecimento urbano.
A perspectiva “descendente” se mantém segundo informa o Instituto Nacional de Águas (INA) da Argentina, afetando “a vida ambiental, econômica, produtiva e social das cidades ribeirinhas de [província] Entre Ríos. As alturas atuais já ultrapassaram as marcas de 1971 (0,50 metros), as de 2020 e 1970 (0 metros)”. O registro mais baixo foi o de 1944.
Segundo o INA o caudal da bacia está “em declínio gradual”. A tendência nos meses de outubro e novembro será “de queda em todos os trechos do rio Paraná” e que a atenção deve estar “na captação de água do rio para consumo urbano”.
Uma boa ‘régua’ para estabelecer cenários dos próximos meses é analisar as condições dos reservatórios do leito do rio Paraná em território brasileiro: Ilha Solteira, Jupiá, Porto Primavera e Itaipu.

 

5 out. 2021

Gráfico do nível do rio Paraguai em Ladário (MS), entre agosto  e 4 de outubro. Fonte Direción  de Meteorología e Hidrología do Paraguai

 

5 out. 2021

Bauru e Itu, São Paulo – O Nordeste é lá.

Para apoiar o abastecimento de água da cidade, em crise, a prefeitura passará a utilizar 13 caminhões pipa, a exemplo do que é feito no sertão do Nordeste. O objetivo é dar “folego” para a lagoa de captação, pois ela está 70 cm abaixo do “desejável”. A cidade está em pleno rodízio no fornecimento de água na base do 24 por 48: 24 com água e 48 sem. Solução futura? Furar poços artesianos e resolver para 2022.

Em Itu, o racionamento o sistema é de 24 horas com água por 48 horas desde 5 de julho. Dezoito caminhões-pipa são usados em apoio.

 

5 out. 2021

O Climainfo traz um apanhado do relatado a imprensa sobre as tempestades de poeira em alguns estados brasileiros. No Paraguai também uma gigantesca nuvem de poeira foi noticiada pelo Metsul e no Pantanal a nuvem foi de cinzas das queimadas, situação amenizada pelas chuvas observadas a partir de domingo, dia 5/9. Na sexta, dia 1 de outubro, o presidente da Ecoa, André Siqueira, esteve em Corumbá(MS) e observou fuligem por toda parte. O ar estava irrespirável.

 

Clima extremo: nova tempestade de poeira deixa quatro mortos no interior de SP
Pelo menos quatro estados brasileiros registraram tempestades de poeira na última 6a feira (1º/10). A situação foi mais grave no interior de São Paulo: em Presidente Prudente, o vento destelhou casas, derrubou árvores e provocou o fechamento do aeroporto da cidade. Ao menos quatro pessoas morreram em decorrência do fenômeno: três vítimas perderam a vida durante uma operação de combate a incêndios em Santo Antônio do Aracanguá, e outra morreu em Tupã depois do desabamento de uma parede em construção. As nuvens de poeira também causaram problemas em Goiás, Mato Grosso do Sul e Maranhão. Folha e O Globo repercutiram a notícia.
No domingo retrasado (26/9), uma tempestade de poeira cobriu a região de Franca e Ribeirão Preto. As imagens dramáticas registradas por moradores ganharam as redes sociais na semana passada, causando comoção. Na Folha, Reinaldo José Lopes lamentou a situação dramática do meio ambiente no interior paulista. “O vento que despejou em cima de Franca o que restava do solo fértil dos arredores mostrou, sem disfarces, o que eu já andava intuindo há algum tempo. Nós, caipiras, gastamos o nosso cheque especial ecossistêmico como se não houvesse amanhã – e está chegando a hora de pagar os juros. Spoiler: se não criarmos vergonha na cara, e rápido, vamos ter de penhorar até as calças”.
Os principais fatores por trás dos haboob são a seca que atinge boa parte do Brasil e o desmatamento geral. Com a falta de chuvas, o solo ressecado e exposto acaba levantando com mais facilidade em contato com o vento mais forte, causando nuvens de poeira.
Sonia Bridi, no Fantástico, apresentou uma matéria importante, completa e explicativa sobre o fenômeno, ressaltando as práticas agrícolas inadequadas que estão na raiz destes acontecimentos.
Folha e UOL destacaram o avanço do racionamento de água no interior de SP: com o nível dos reservatórios caindo dia após dia, a região chegou ao 6º mês seguido com cortes no abastecimento que já afetam pelo menos 2 milhões de pessoas. Na Grande SP, a situação é preocupante: o nível do Sistema Cantareira, principal reservatório de água para a região, está abaixo dos 30%, o menor índice em mais de cinco anos. O Estadão deu mais informações.
Além de problemas de abastecimento de água, a seca também prejudica a economia agrícola em um dos principais celeiros produtivos do país. A Folha destacou o impacto da falta de chuvas na produção, com agricultores sendo forçados a rever seu planejamento para o cultivo e suas perspectivas para a próxima safra.
Já o Valor abordou o reflexo da seca na região de Corumbá: a empresa Hidrovias do Brasil prevê que a redução do nível do calado dos rios pode impedir o funcionamento do transporte hidroviário no eixo Paraguai-Paraná no mês de outubro.

 

5 out. 2021

(Climainfo)

Edvaldo Santana, ex-diretor da ANEEL, explica no Valor como a sofisticação dos modelos do setor elétrico teimam em errar quando do advento de crises hídricas como a atual. “O setor elétrico tem algumas características interessantes que variam com o tempo. Mas uma delas, a insistência nos erros, é imutável.” O erro é considerar a tendência histórica mais importante do que a situação do momento. Historicamente, chove bastante entre outubro e novembro, enchendo os reservatórios. Logo, não há problema em esvaziá-los até lá. E assim foi, agravando um período de pouca chuva de verão. Santana tenta explicar, jogando a culpa na tendência humana de não querer mudanças e em interesses políticos para manter o sistema como está.

 

4 out. 2021

O governo brasileiro não deixa de surpreender com suas ações durante a gravíssima crise hídrica.

O governo federal extinguiu o SNM (Sistema Nacional de Meteorologia), órgão reunia os principais institutos do setor em três ministérios. O SNM nasceu há cerca de quatro meses, no entanto, a pedido Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República barrou o processo e tenta colocar em operação no lugar do SNM uma comissão criada há 18 anos.

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