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Diário da crise hídrica – Brasil, Argentina e Paraguai

11 minutos de leitura
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Por Luiza Rosa.

 

O Diário da Crise Hídrica é um trabalho de monitoramento feito pela Ecoa para  trazer ao público as várias faces e causas da falta de água que afeta principalmente a bacia hidrográfica do rio Paraná (Brasil, Paraguai e Argentina). Este território é o centro econômico desses países e a falta de água tem efeitos sobre várias atividades, até mesmo sobre o abastecimento humano. Curitiba (PR), por exemplo, está sob emergência hídrica desde 2020. A Hidrovia Paraná-Paraguai, na Argentina, tem problemas desde o ano passado e a Tietê-Paraná deixou de funcionar no dia 27 de agosto de 2021. Na bacia do rio Paraguai, onde está o Pantanal, a crise é gravíssima, o que pode ser medido pelos incêndios de 2020.

Localização da Bacia do rio Paraná na América do Sul. Mapa desenvolvido pela Ecoa.

Somente no Brasil, a região hidrográfica do rio Paraná, cuja vegetação nativa é o Cerrado, tem uma área de 879,86 Km, quase 88 milhões de hectares, 10% do território brasileiro. Mais de 60 milhões de brasileiros vivem nela, é o centro da economia do país. Fazem parte da bacia os estados de São Paulo (25% da região); Paraná (21%); Mato Grosso do Sul (20%); Minas Gerais (18%); Goiás (14%); Santa Catarina (1,5%) e o Distrito Federal (0,5%).

O Cerrado é a “caixa d’água” do Brasil: é a origem de oito das 12 bacias hidrográficas brasileiras. O iminente colapso do bioma, em decorrência do desmatamento, e o agravamento das secas acarreta menos água para as populações rurais e urbanas e para a agricultura. A menor vazão dos rios também afetará a geração de energia hidrelétrica, com provável escassez.

Entenda o que vem ocorrendo em cada país da bacia do rio Paraná e Paraguai, de julho até hoje.

 

Argentina

A crise hídrica no país, já havia sido anunciada por movimentos ecologistas, segundo o advogado ambientalista Jorge Daneri, que declarou, no dia 13 de julho, que o país está planejando um Comitê da Bacia para gerenciamento da crise.

No dia 9 de julho, houve um chamado urgente para que fosse vedada a pesca na bacia do rio Paraná enquanto se mantivesse as condições hidrológicas de seca. O governo argentino decretou, no dia 28 de julho, “emergência hídrica” por 180 dias.

Não há água nem para navegar no rio Paraná, muitos navios cargueiros estão saindo do maior polo agroexportador da Argentina, em Rosário, com menos carga do que o normal devido ao baixo nível do rio Paraná.

A represa Yacyretá está com operação em 50% e o Centro de Monitoreo Meteorológico (SAT) emitiu um informe especial que aponta para baixa possibilidade de chuvas durante a primavera e o verão em toda a bacia do rio da Prata (rios Paraná, Uruguai e Paraguai).

A baixa histórica do rio Paraná, na Argentina, pode ser vista pela imagem produzida pela Comisión Nacional de Actividades Espaciales (CONAE), reproduzida abaixo, que compara a condição do rio em 2014 e em 2021.

Imagem gerada por DEFIS/Comissão Europeia. Fonte: Metsul.

O advogado ambientalista Enrique Viale publicou em seu twitter imagens chocantes da seca no rio Paraná, que podem ser vistas abaixo:

 

Paraguai

O Paraguai está em chamas e a temperatura chega aos 40°C.

Os rios Paraguai e Paraná encontram-se em seca histórica nunca vivida e está ocorrendo um desmatamento record.

A COVID-19 segue deixando rastros terríveis.

 

Brasil

A crise da falta de água na bacia do rio Paraná não começou em 2021, mas agora se agravou muito em algumas regiões e vai muito além de problemas para a geração de energia. O lago da usina hidrelétrica de Furnas, em Minas Gerais, no rio Grande, um dos formadores do rio Paraná, recuou 8 kms e os usos da água como irrigação, a piscicultura, os clubes náuticos, a hotelaria, passam por grandes dificuldades em vários municípios.

O uso de usinas termelétricas por conta da escassez nos reservatórios das principais hidrelétricas deve custar R$13,1 bilhões até novembro deste ano aos consumidores. Devido à crise hídrica, o governo autorizou o uso de todas essas usinas, até mesmo as mais caras, para garantir o abastecimento de energia no País. A despesa bilionária será embutida nas tarifas de energia no próximo ano.

Oito das vinte turbinas de Itaipú estão desativadas em decorrência da estiagem. O nível dos reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste continua caindo e, no dia 27 de julho, bateu o recorde histórico. Segundo Lauro Jardim, n’O Globo, foi menor até do que o ponto mais baixo registrado durante o Apagão de 2001. O sistema segue vulnerável e pode comprometer a retomada da economia pós-pandemia, seja pelo alto custo de operar as térmicas, seja pela necessidade de deslocar o consumo do horário de ponta.

A Hidrovia Tietê Paraná está paralisada desde o dia 27 de agosto, por falta de água.

Brasil pode ter a energia mais cara do mundo no fim do ano. País ocupa 2º lugar no ranking da tarifa mais alta, atrás apenas da Alemanha, cujos recursos hídricos são muito inferiores ao do Brasil.

Dezenas de municípios de cinco Estados brasileiros racionam água: problema está concentrado nas bacias do rio Paraná e do rio Paraguai.

No Paraná a capital, Curitiba e mais 28 cidades da região metropolitana enfrentam racionamento de água, com 36 horas com abastecimento e outras 36 sem água. Em julho, choveu 14,6 milímetros na região, diante da média histórica de 92,4 mm no mês. Curitiba enfrenta problemas e está sob emergência hídrica há mais de um ano.

No Pantanal, a cidade de Corumbá (MS) enfrenta problemas para captar água do rio Paraguai, pois o nível está muito baixo, comprometendo a ponte de captação, o que leva a necessidade de uso de bombas móveis e outras medidas. Já em Coxim (MS) município que tem parte de seu território no Pantanal, o problema está no abastecimento na zona rural, pois rios secaram e a administração trabalha com caminhões pipa.

O problema também alcança Minas Gerais, onde a Grande Belo Horizonte está sob risco. O Rio das Velhas, “responsável por abastecer 60% da região, entrou em estado de alerta no dia 3, segundo o Comitê da Bacia Hidrográfica”.

O prejuízo estimado para o PIB brasileiro é de ao menos R$ 60 bilhões, decorrente da safra menor no campo; do aumento da tarifa elétrica e seus efeitos nos setores industriais e de serviços; e do crescimento da inflação. Sem os impactos adversos do clima, a economia brasileira poderia crescer 5,5% neste ano; no entanto, por causa do clima extremo, o crescimento projetado do PIB é de 4,7%.

Cresce o risco de apagão e o governo dá sinais da possibilidade com medidas como redução na vazão das hidrelétricas, incentivos à indústria para a redução do consumo de energia nos horários pico e flexibilização nas margens de segurança na transmissão de energia. Em setembro novas medidas virão. É o que diz o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Traçarão metas de redução do consumo para clientes residenciais e pequenos empreendimentos em troca de bônus. Como pode-se deduzir, são medidas frágeis diante da gravidade da crise hídrica.

 

Imagem de capa: Geraldo Bubniak / Agência Estadual de Notícias do Paraná.

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