Por André Nahur
Via Folha de São Paulo
É tempo de bandeira amarela! O símbolo, que mais uma vez aparece na conta de energia, avisa que o consumidor final brasileiro deverá lidar novamente com tarifas mais altas de energia, agora com valor reajustado.
Junto ao alerta, porém, este domingo (5) relembra que é possível deixar o caminho menos custoso. Hoje é Dia Mundial da Eficiência Energética.
A data, ainda pouco conhecida no Brasil, foi criada há 19 anos na Áustria, durante a primeira conferência internacional sobre o tema, buscando ampliar o conhecimento geral sobre o uso consciente de energia e contribuir para a solução da crescente crise energética, que – longe de ser uma exclusividade tupiniquim – assola a todo o planeta.
Ineficiência energética ocorre no desperdício de recursos ou uso de equipamentos que gastam mais do que deveriam. Para cumprir o prometido no Acordo de Paris e dar sua parcela justa nas emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa), países de todo o mundo têm investido em formas de energia que não emitam ou emitam menos desses gases.
Buscar mais fontes e menos perdas é essencial para permitir o crescimento econômico sem comprometer a segurança climática e ainda dar acesso a mais de 1,5 bilhão de pessoas que não possui eletricidade no mundo.
No Brasil, de acordo com a Abesco (Associação Brasileira de Empresas de Serviço de Conservação de Energia), cerca de 50 mil gigawatts-hora por ano são gastos por falta de eficiência. Isso equivale à capacidade plena de usina de Itaipu e uma economia de R$ 12 bilhões (a preços de 2014).
Ações individuais de uso consciente dos recursos são essenciais e o movimento A Hora do Planeta, que acontece no próximo dia 25, é um bom momento para lembrar de bons hábitos, como um menor tempo no banho, desligar luzes de cômodos que não estão sendo usados ou diminuir o uso de veículos individuais motorizados.
Porém, para que o resultado seja expressivo, é crucial o envolvimento do governo.
Em relatório do International Energy Efficiency Scorecard com as principais economias consumidoras de energia, o Brasil aparece em penúltimo em políticas para eficiência energética, à frente apenas da Arábia Saudita.
Boas iniciativas existem, como é o caso do Selo Procel (criado em 1993) ou do Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEf). Nela, o Brasil prevê reduzir 10% no consumo até 2030, o equivalente a uma economia de 106 TWh e redução de 30 milhões de toneladas de CO2 naquele ano.
Falta implementar e pensar a energia desde o início, como em sistemas de transporte mais eficientes ou construção de edifícios que aproveitem luminosidade e ventilação naturais sem depender de ar condicionado, o grande vilão do aquecimento global nas residências.
Países como Austrália, Estados Unidos e Reino Unido tiveram bons resultados na criação de políticas e modelos de eficiência energética para a construção civil.
O investimento em sistemas de mini e microgeração de energia elétrica também é interessante, pois diminui a demanda de energia de grandes centrais hidrelétricas e termelétricas, com benefícios para o planeta, empregos para o país e redução de tarifa para o consumidor.
O WWF-Brasil, por meio do seu programa Mudanças Climáticas e Energia, desenvolve estudos, ações e campanhas buscando que o ser humano tenha qualidade de vida, vivendo em harmonia com a natureza. Acreditamos que há boas oportunidades em cada crise e esperamos que esta bandeira amarela possa também acenar novas e mais sustentáveis alternativas para o setor elétrico.
* André Nahur, biólogo e coordenador do programa Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil