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Frutos de muito trabalho: resultados do projeto que articulou 150 famílias coletoras de baru

12 minutos de leitura
Processamento do baru por famílias articuladas em projeto executado pela Ecoa junto com Ceppec

Ao longo de 18 meses, a Ecoa executou o projetoCadeia Socioprodutiva do Baru: agregando renda às famílias agroextrativistas no MS e a proteção do Cerrado”, com apoio da Fundação Banco do Brasil e em parceria com o Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação do Cerrado (CEPPEC). Como o título deixa evidente, o principal desafio do projeto consistia em estruturar a produção de castanha de baru, da colheita até seu escoamento e comercialização. Tudo isso aliando a geração de renda com a conservação de um dos biomas mais importantes e ameaçados no Brasil.  

Com a finalização das atividades do projeto, é possível afirmar que não apenas alcançamos as metas, como algumas foram ultrapassadas. Entre os resultados, estão a significativa ampliação da Cadeia Socioprodutiva do Baru e diversos resultados econômicos, sociais e a conservação do Cerrado. 

A equipe mobilizou e articulou 14 comunidades que passaram a compor o corredor extrativista do Baru em 7 municípios no Cerrado de Mato Grosso do Sul. Ao todo, a iniciativa articulou 224 coletoras e coletores de baru. Foram inclusos moradores e moradoras de assentamentos rurais, comunidades indígenas e quilombolas de cinco municípios sul-mato-grossenses. Dos extrativistas alcançados nesta articulação, 60% eram mulheres e 25% jovens.  

Para operacionalizar a produção, foram adquiridos um veículo utilitário; equipamentos como refrigeradores, seladora, balança digital, prateleiras e mesa inox, notebook para controle das receitas fiscais e estoque, etc. Além disso, a iniciativa também garantiu o aumento de 80 toneladas de fruto na capacidade de armazenamento com a compra de contêineres.

Adriel Abreu, técnico de campo contratado pelo projeto

Nathália Eberhardt, coordenadora do projeto, socióloga e pesquisadora da Ecoa, salienta que os resultados do projeto são ainda mais importantes por terem sido alcançados mesmo durante o período da pandemia de coronavírus. “Infelizmente, até os dias de hoje, ainda vivemos a pandemia e suas consequências e isso teve impactos negativos para o projeto, mas os ganhos e crescimento foram tão significativos que conferiram ao projeto o status de maior ação desenvolvida para e pelo extrativismo sustentável do baru nesse território”. 

Segundo Nathália, os resultados demonstram os benefícios proporcionados para as famílias articuladas.

“A cadeia produtiva e comunitária do baru tem agora um grande potencial de crescimento social e territorial, além da possibilidade de acesso direto ao mercado internacional, uma vez que o consumo do baru tem ganhado a Europa e a Ásia agora. Certamente o projeto trata-se de um marco para passos mais largos e estruturados dessa cadeia. Agradecemos ao Banco do Brasil e a Fundação do Banco do Brasil pelo apoio e por ter tornado possível a realização de todos esses feitos.” 

Nathália com a castanha de baru. Foto: Iasmim Amiden

PARCERIAS 

Para esta importante missão, contamos com a parceria do CEPPEC, referência nacional na coleta, produção e comercialização do baru. A ideia para estruturar a articulação de extrativistas surgiu em uma oficina ministrada na Ecoa por Rosana Claudina e Altair de Souza, extrativistas e diretores do CEPPEC. Na ocasião, o potencial que o fruto apresentava se tornou ainda mais evidente, assim como as dificuldades enfrentadas naquele momento para que atividade do baru tivesse sustentabilidade. 

Altair de Souza, agricultor familiar, extrativista e diretor secretário do CEPPEC, reforça que o projeto permitiu avanços significativos na articulação territorial e no potencial produtivo da cadeia do baru.

Foto: Raquel Alves

“Não só como diretor, mas um dos participantes dessa cadeia, posso dizer que esse apoio foi de suma importância para potencializar essa cadeia, deixando-a mais forte, mais robusta, para organizar as comunidades que foram articuladas, fortalecendo a comercialização desse produto como mecanismo de geração de renda. Hoje podemos dizer que temos em mãos um mecanismo consolidado, dando respaldo à comercialização, impulso e visibilidade ao trabalho comercial, ambiental e social na vida de cada uma das famílias envolvidas nesse projeto”. 

É importante reforçar que o projeto contou com muitas parcerias e instituições desenvolvendo atividades em conjunto. Entre eles estão a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, o Impact Hub, Conexsus e Central do Cerrado. Atualmente, o WWF-Brasil, com apoio da União Europeia, também trabalha em sinergia com nosso projeto com o CEPPEC. 

PRINCIPAIS RESULTADOS 

Renda

Com a verba produzida a partir da coleta, quebra e comercialização da castanha de baru, as 150 famílias extrativistas cadastradas no projeto receberam um total de R$ 97.145,80 durante a safra 2021-2022. O valor recebido por cada família é equivalente a um crescimento de pelo menos 20% na renda mensal das famílias, que em média é de R$1000. Esse aumento diz respeito ao período de safra que vai do mês de julho a outubro de cada ano. 

Armazenamento 

Um dos principais desafios para a cadeia de baru era a capacidade de armazenar as sacas de frutos coletados. Com o projeto, foi possui ampliar a estrutura de armazenamento de 50 toneladas para 80 toneladas, capacidade total de estocagem de frutos de baru. Para isso, foram adquiridos 2 containers de 40 pés cada, que são mantidos na sede do CEPPEC para aumentar a capacidade logística de armazenamento de frutos.  

Logística

Um carro foi adquirido para realizar toda articulação nos territórios e a retirada da safra coletada. Com o fim do projeto, o carro foi doado pela Ecoa ao Ceppec, para continuidade do trabalho nas próximas safras. 

Mapas 

Dois mapas foram produzidos a partir das atividades desenvolvidas no projeto: O Mapa Dinâmico sobre Extrativismo Sustentável do Baru e o Mapa de Georreferenciamento do Território de Coleta. 

O mapa de georreferenciamento deve ser utilizado para gestão territorial e contém informações sobre os pontos de coleta do fruto na região articulada. O material é de uso restrito aos coletores e também permite visualizar informações de período de florada e frutificação nos territórios, uma forma de organizar a cadeia do baru e preparar as negociações comerciais.  

Já o mapa dinâmico apresenta as comunidades, suas contribuições com o projeto e a cadeia do baru como um todo, bem como um pouco de sua história e envolvimento com o extrativismo. Esse mapa mostra aos interessados na atividade, pesquisadores e compradores, a origem do produto desde a base, mostra o corredor extrativista consolidado pelo projeto e, mais recentemente, em sua atualização, mostra também as áreas de queimada dentro do corredor extrativista, uma maneira encontrada de subsidiar políticas públicas de conservação das espécies nativas do Cerrado. 

Os mapas foram produzidos a partir dCiência Cidadã, metodologia utilizada pela Ecoa neste e em outros projetos desenvolvidos. Os dados que compõem o mapa foram coletados pelos próprios extrativistas das comunidades por meio do Sapelli, um aplicativo para celular. 

Participação feminina e jovem

Mulheres e pessoas jovens foram dois públicos representativos alcançados pelas ações do projeto.

Ao todo, 25% dos coletores e coletoras articulados são considerados jovens, com idade entre 18 e 24 anos. A promoção de atividades que geram renda são um incentivo à permanência do jovem no campo. Por meio delas, foi possível apontar alternativas no campo, além de estreitar vínculos de pertencimento e a compreensão sobre os territórios manejados e conservados.

Além disso, há também o envolvimento expressivo de mulheres no projeto, que representam 60% das pessoas articuladas na iniciativa. Com o incentivo à participação de coletoras, o intuito é a  promoção da autonomia econômica delas. Por fim, as atividades buscaram promover também a valorização da sabedoria tradicional e práticas sustentáveis promovidas por essas mulheres que são fundamentais no extrativismo sustentável.

Processamento

A melhora da qualidade do desempenho para o processamento no CEPPEC também estava nos planos. Este objetivo foi alcançado por meio da aquisição de equipamentos para a etapa de processamento, tais como câmara fria, ultracongelador, mesas e estantes, balança digital e seladora. 

Materiais

Para disseminação de informações e saberes sobre a atividade do extrativismo sustentável, foi produzido um curso virtual com 10 vídeos, cartilha e boletins que abordam assuntos importantes sobre o tema. Além disso, os jovens envolvidos no projeto passaram por uma oficina de gerenciamento de redes sociais e produção de conteúdo para divulgar o cotidiano e o trabalho dos extrativistas. 

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