No dia 15 de abril comemora-se o Dia Nacional da Conservação do Solo. A data, estabelecida com a Lei Federal nº 7.876, foi escolhida em homenagem a Hugh Hammond Bennett, pai da conservação do solo nos Estados Unidos. Quando se trata do solo é preciso abordar a degradação.
Segundo o relatório da Food and Agriculture Organization (FAO), 33% dos solos do mundo estão deteriorados pela erosão, salinização, compactação, acidificação e contaminação. Em solo brasileiro, os principais problemas são a erosão, perda de carbono orgânico e desequilíbrio de nutrientes.
A conservação do solo é essencial para diminuir as alterações climáticas, pois este sequestra o carbono e gases do efeito estufa. Além dos prejuízos ambientais, a degradação também leva à insegurança alimentar por prejudicar a produção de alimentos. Mas o que exatamente é a degradação do solo e como tratar dessa situação?
Degradação do solo
A degradação do solo está relacionada com sua destruição. Para o engenheiro agrônomo, mestre e doutorando em Ecologia, Felipe Luis Gomes Borges, ao tratar do tema “primeiro temos que compreender que o solo é um sistema, ou seja, múltiplos elementos, bióticos e abióticos, interagindo de diversas maneiras. Quando degradamos um solo estamos interferindo em suas características funcionais. Por exemplo, ao desmatar um solo alteramos diversas funcionalidades, entre elas a estabilidade. Assim, a chuva que caía primeiramente na vegetação agora cai diretamente sobre o solo, o que gera desagregação. Nesses casos podemos esperar a intensificação de processos erosivos como voçorocas, deslizamentos etc.”
Causas do desgaste
A alteração das funcionalidades do solo pode ser gerada por erosão, salinização, desertificação, compactação ou degradação química. A erosão, um processo natural que pode ser intensificado pela ação humana, ocorre quando há desgaste devido a atuação de agentes externos, como vento, chuva e sol. Já a salinização, também algo natural que pode ser intensificado pelo ser humano, principalmente com práticas agrícolas incorretas, é o acúmulo de sais minerais.
Outra causa do desgaste é a desertificação, que embora tenha causas naturais, se intensifica com ações antrópicas como desmatamento, queimadas, mineração, irrigação incorreta e uso intensivo do solo pela agropecuária. A compactação é gerada pelo aumento da densidade do solo, causada por grande atrito da superfície ou pela pressão contínua. Ações que geram esse fenômeno são o pisoteio do gado, máquinas agrícolas e manejo incorreto do solo.
Por fim há a degradação química que ocorre devido ao uso indiscriminados de agrotóxicos, descarte incorreto de resíduos, lixões não fiscalizados e desmatamento.
As mudanças climáticas também afetam o solo com as altas temperaturas e eventos extremos, como secas e inundações.
Como evitar a degradação
O plantio correto, o reflorestamento, o manejo adequado e a rotação de cultura são formas de evitar a degradação.
A restauração ecológica é uma das formas de tratar o desgaste do solo. Essa alternativa faz com que, de forma sustentável, as funcionalidades do solo sejam restauradas. Para que a restauração seja feita é preciso primeiro identificar as causas da degradação. Em seguida um plano de intervenção é traçado com base nas especificidades do local. Por fim é feito um monitoramento para identificar possíveis manutenções e os sucessos da ação. Felipe Borges exemplifica: “em um solo que apresente erosão, ou seja, tenha sua estabilidade comprometida, podemos planejar e executar o plantio de espécies vegetais rústicas e com boa capacidade de produção de raízes, promovendo a agregação. Sendo o monitoramento posterior a avaliação do processo de controle da erosão”.
A restauração auxilia na recuperação das funcionalidades do solo. Foto: Victor Hugo Sanches
Projeto de restauração ambiental no Pantanal
O projeto “Restauração Estratégica e Participativa no Pantanal: APA Baía Negra” busca promover a restauração de 51 hectares deteriorados por mineração, queimada, deposição de lixo e invasão biológica pela Leucena.
A iniciativa é executada pela Ecoa e financiada pelo Fundo Global para o Ambiente (GEF Terrestre), com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) como agência executora. Tem como parceiros o Laboratório Ecologia da Intervenção (LEI), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, e a Universidade da Grande Dourados (UFGD).
As ações do projeto envolvem o plantio de mudas nativas, limpeza do lixo, reposição do solo e poda das plantas invasoras. O trabalho é feito com a participação da comunidade local.
Felipe Borges reforça que “todas as ações de restauração são importantes para a sustentabilidade do Pantanal. Em um contexto em que as alterações no uso do solo vêm gerando perdas gradativas a biodiversidade, nosso trabalho busca restabelecer as condições para que o ecossistema local permaneça funcional. A restauração caminha junto da conservação. Quando a última não é possível, a manutenção da qualidade ecológica depende da primeira”.