Via Procel Info
No início do ano passado, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no Brasil (PNUD-BR), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, a Secretaria de Mudanças Climáticas e o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), entre outros, lançou um edital de licitação pública internacional para a escolha da empresa que integraria a terceira fase de um dos fomentos do governo federal de apoio ao Projeto “Transformação do Mercado Para a Eficiência Energética no Brasil”, o BRA/09/G31.
Financiado com recursos do GEF (Global Environment Facility) e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o objetivo do projeto é promover eficiência energética no setor privado e público, além de capacitar agentes desses dois setores, visando a redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE).
O projeto foi dividido em seis etapas. Na primeira, foi realizada uma chamada pública para envio de informações de consumo pelo setor público, na qual foram levantados dados de mais de 300 edifícios. Na segunda etapa, foram escolhidos 20 edifícios com potencial para projetos de eficiência energética. Na terceira fase, que ainda está em andamento, estão sendo instalados medidores inteligentes nos 20 edifícios selecionados. Os próximos passos serão auditorias energéticas e a consolidação da linha de base do benchmarking, além da elaboração de uma ferramenta online com acesso aos resultados para possibilitar que edifícios não participantes possam conhecer sua posição no benchmarking nacional.
A ideia é que as informações proporcionadas otimizem eventuais investimentos em auditoria, comissionamento e retrofit de edifícios, além de servirem como base de comparação para projetos de eficiência energética.
Estima-se que, hoje, no Brasil existam mais de 28 mil prédios públicos dentre as várias tipologias, como escritórios, escolas, hospitais e universidades. Esse setor, portanto, apresenta um grande potencial de contribuição para a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e do desperdício de energia.
ACS fornece ferramenta de monitoramento energético
A empresa escolhida para a terceira fase do projeto foi a paulistana ACS – Automação, Controles e Sistemas Industriais Ltda, com o sistema Follow Energy, que será fornecido e instalado em cada um dos 20 edifícios selecionados. Esta ferramenta será a responsável pela coleta, armazenamento, disponibilização e processamento dos dados de energia.
“Nossa empresa foi responsável pela instalação e fornecimento do sistema de transmissão e gerenciamento dos dados de energia via internet. Em geral, cada edifício recebeu dois pontos de medição de energia, sendo um geral – medindo toda a energia consumida no prédio – e outro que mede a carga de maior consumo – como, por exemplo, o sistema de ar condicionado”, explica Felipe Ramalho, engenheiro eletricista da ACS.
A companhia trabalha no ramo desde 1985, e a ferramenta contratada está no mercado desde 2015. Atende, atualmente, mais de 4500 empresas, como o Banco Santander, Cinemark, C&A, Ultragaz e Grupo Pão de Açúcar, dentre outros médios e grandes consumidores de energia elétrica.
“A ACS orgulha-se de ter sido a vencedora de uma licitação pública internacional desta importância e, especialmente, de poder fazer parte deste projeto que busca contribuir para um mundo mais eficiente e sustentável”, declara o gerente geral de vendas da empresa, Alexander Dabkiewicz.
Crises alavancam projetos sustentáveis no Brasil
O contrato entre a PNUD-BR e a ACS foi firmado em maio do ano passado e, no final de junho de 2016, as instalações começaram a ser realizadas. Foi instalado um sistema na região Norte (Belém), oito no Sudeste (um no Rio de Janeiro, dois em São Paulo, Limeira Catanduva, um em Penápolis, um em Itápolis e um em Belo Horizonte), seis no Centro-Oeste (quatro em Brasília, um em Morrinhos e um em Goiânia), dois no Nordeste (um em Recife e um em João Pessoa) e três no Sudeste (um em Porto Alegre e dois em Florianópolis).
“A próxima etapa será a consolidação do banco de dados, do benchmark, e a estruturação de uma ferramenta – uma calculadora online – na qual agentes públicos, que não participaram do projeto, vão inserir seus dados e saber onde eles se posicionam dentro dessa linha de consumo dos edifícios”, explica, Ludmilla Diniz, coordenadora técnica do Projeto 3E (Eficiência Energética em Edificações) no PNUD.
Segundo estudo publicado em 2014 pelo Conselho Americano por uma Economia com mais Eficiência Energética (ACEEE, na sigla em inglês), o Brasil aparece em 15º lugar entre os 16 maiores países do mundo em um ranking sobre eficiência energética, ganhando apenas do México. E um dos motivadores desse avanço no setor foram as crises; primeiro a energética, ocorrida em 2001, e, posteriormente, a econômica. Dado este, lembrado pela coordenadora do Projeto.
“As crises trazem oportunidades, principalmente quando se fala em uso eficiente de recursos. Em 2001, a crise energética contribuiu para que o país avançasse em algumas medidas, mas, antes disso, já investíamos em eficiência energética. Nesses anos, executamos muitos programas, como, por exemplo, o PBE (Programa Brasileiro de Etiquetagem), coordenado pelo Inmetro; temos o Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica), executado pela Eletrobras, que trabalha há mais de 30 anos com eficiência energética; o Conpet (Programa Nacional da Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural), executado com apoio técnico e administrativo da Petrobras; o Projeto 3E com o Ministério do Meio Ambiente, dentre outras iniciativas.”
A intenção com estes projetos, conforme explica Ludmilla, é trazer outros elementos para desenvolver o mercado de eficiência energética, como o contrato de desempenho no setor público, a capacitações técnicas e gerenciais, a medição e verificação para uma maior gama de profissionais, além da estruturação desse benchmark que a ACS participa.
“Com essas medidas podemos avançar mais dentro do contexto Latino Americano e mundial, principalmente no que diz respeito a países em desenvolvimento, na questão da eficiência energética”, conclui a coordenadora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Ações sustentáveis envolvem baixo custo e grandes economias para governo federal
Para avançar, o Brasil não tem medido esforços, segundo declara a coordenadora técnica do projeto de eficiência energética do Ministério do Meio Ambiente e analista de infraestrutura da Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental, Alexandra Maciel:
“Investir em sustentabilidade é, principalmente, investir na conservação de energia com manutenção do conforto ambiental.”
Alexandra Maciel explica que medidas simples como o aproveitamento da ventilação e iluminação natural, o uso correto de proteções solares nas fachadas e sistemas de condicionamento de ar de alta eficiência, permitindo sua utilização combinada a estratégias passivas, envolvem baixo custo e podem contribuir com uma economia de até 50% no consumo de energia elétrica, se comparado ao desempenho de um edifício sem preocupação com a integração ambiental.
“Investir em capacitação, na elaboração de projetos energeticamente eficientes e na gestão e monitoramento do desempenho energético das edificações representa pouco em termos de investimentos, mas muito em termos ambientais e econômicos”, conclui coordenadora do Ministério do Meio Ambiente.
* Com informações da ACS