O jornal Correio do Estado, do ‘bioma’ Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, publicou no dia 12 de setembro de 2011 matéria de página inteira com o título “Prejuízo é gigantesco no Pantanal” (imagem em destaque), tratando de dois extremos vividos por parte da planície pantaneira naquele ano: uma seca seguida de cheia excepcional.
Segundo analistas, o que se teve foram chuvas excepcionais nas sub-bacias dos rios Taquari e Miranda – estão na parte Sul do Pantanal – gerando uma primeira onda de cheia na região que a elas corresponde no Pantanal – as duas sub-bacias se sobrepõem -, seguidas por nova onda de águas que gradativamente chegaram da parte Norte da bacia do Paraguai. De certa maneira, as medidas dos níveis do rio Paraguai em Ladário (MS), pequeno município na fronteira com a Bolívia e vizinho a Corumbá (MS), mostram parte das excepcionalidades indicadas na matéria, como veremos a seguir.
Em dezembro de 2010, o rio Paraguai atinge, em Ladário, o mínimo de 1,08 metros, passando, a partir desse ponto, a recuperar seu nível até ultrapassar os 5 metros em abril de 2011, chegando a 5,62 metros em maio e mantendo-se nesse nível até junho. Na verdade, foram 4 meses acima de dos 5 metros, pois o mês de julho de 2011 também manteve águas altas em Ladário. Um fenômeno a registrar-se é que no mesmo 2011, em dezembro, a régua medidora no local marcou 80 centímetros, valor ainda mais baixo do que o registrado em dezembro de 2010.
A afirmação de que se teria, no mesmo ano de 2011, na parte de Sul do Pantanal uma seca seria correta? O fato de se ter já em dezembro a redução brutal de 4,82 metros entre junho e dezembro pode ser um indicativo. Outro conjunto de dados a se considerar são os da pluviosidade na fazenda Bodoquena, localizada entre os municípios de Miranda e Corumbá, no MS, região alcançada pelas águas dos rios Miranda e Paraguai nas cheias. Em 2011, o acumulado do ano na estação medidora da fazenda foi de 1.389 milímetros, acima do ano anterior (2010) e posterior (2012) e com uma concentração de 80% das chuvas nos primeiros 4 meses do ano, coincidindo com os meses de águas altas marcada na régua de Ladário. Nos 4 meses seguintes (agosto – dezembro) são registrados apenas 18,5 milímetros de chuva.
Prejuízos e danos por todo o Pantanal
Matérias publicadas em 2011 colheram depoimentos de pecuaristas sobre o impacto em suas propriedades e a mortandade do gado em várias fazendas devido a grande cheia. A estimativa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é que o prejuízo tenha alcançado os R$190 milhões, o que corrigido para valores de hoje aproxima-se dos R$500 milhões.
Para as comunidades e ribeirinhos os danos também foram de grande monta. Suas pequenas lavouras de subsistência foram destruídas e casas foram invadidas pelas águas repentinamente, fazendo com que perdessem grande parte de seus bens. O caso mais emblemático é o da comunidade tradicional da Barra do rio São Lourenço a montante de Corumbá (MS), na margem esquerda do rio Paraguai – por meses foram obrigados a viver em giraus dentro de casa ou mudarem-se para alguns dos poucos pontos mais elevados.
Decoadas intensas
A decoada é um fenômeno natural que ocorre no Pantanal no início das cheias devido a deterioração da qualidade das águas. Em 2011 ocorreram grandes mortandades de peixes em várias regiões do Pantanal devido ao fenômeno, mas com registros de ocorrência em larga escala no Parque Nacional do Pantanal/Barra do rio São Lourenço, na divisa entre MS e MT; no rio Negro, e na região de Porto Murtinho, na fronteira com o Paraguai. Porto Murtinho e o rio Negro estão na parte Sul do Pantanal.
Secas
Em 2008, ocorreu o fenômeno inverso: seca. Baías (lagoas) e corixos de parte da bacia do rio Miranda, entre os meses de junho e outubro, secaram precocemente. Os efeitos se fizeram sentir, por exemplo, sobre os coletores de iscas para a pesca turística – com as lagoas secas tiveram uma quebra drástica na renda familiar, obrigando-as a buscar alternativas de trabalho e renda para a sobrevivência, o que levou mais de 80% do grupo ao degradante trabalho nas carvoarias da região, contribuindo para o aumento do desmatamento no Pantanal.
Em 2020, outra grande seca, criou as condições para incêndios que devastaram mais de 4 milhões de hectares ou 30% de todo o Pantanal – a soma entre a seca excepcional e os incêndios resultou em cenas impressionantes em algumas regiões: redemoinhos de cinzas e poeira. As águas dos rios cobertas por cinzas e poeira ficaram inservíveis.
Em 2024, outra seca, ainda maior que a de 2020, foi a base para incêndios que tragaram mais de 2 milhões de hectares, uma área menor que a de 2020 graças à ação preventiva dos governos do estado de Mato Grosso do Sul e do Governo Federal.
A Ecoa
Mapear, analisar, capacitar e propor medidas mitigatórias são os caminhos apontados pela Ecoa para que a economia as populações mais vulneráveis do Pantanal estejam preparadas para enfrentar grandes alterações em seu ambiente natural. Os eventos climáticos estão se mostrando mais extremos a cada ano, claro que agravados pelo desmatamento e o mal uso dos solos em unidades ambientais como a Bacia do rio Paraguai e o Pantanal.