Texto originalmente publicado em 5 de dezembro de 2016
Via Grupo Cultivar
A pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Carmen Pires é uma das autoras de artigo divulgado na edição online da revista norte-americana Science apontando dez prioridades de políticas públicas para proteger os polinizadores no mundo. O artigo tem como base estudo internacional coordenado pela Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), que reuniu especialistas do Reino Unido, Brasil, Suécia, México, Austrália, Argentina e Japão, a fim de avaliar o declínio das populações de abelhas e propor medidas protetivas a esse e a outros polinizadores que participam diretamente da produção de alimentos.
Versão resumida do estudo será apresentado na 13ª reunião da COP/CDB (Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica), que se realiza em Cancun, México, até o próximo dia 17. Avaliação do IPBES confirma a evidência de declínios em larga escala de polinizadores selvagens em partes da Europa e da América do Norte e a necessidade urgente de monitoramento mais efetivo desses organismos.
Os polinizadores são importantes para as pessoas em todos os lugares, tanto do ponto de vista econômico quanto cultural. “As políticas que sugerimos ajudam a apoiar e a proteger os polinizadores como parte de um futuro sustentável e saudável”, afirmou Carmen Pires.
Síndrome
O desaparecimento crescente de colônias de abelhas, atinge especialmente a espécie mais utilizada para a polinização de plantas cultivadas, a Apis mellifera (abelha europeia), que se adapta facilmente a diferentes ecossistemas e formas de manejo. Juntamente com outros insetos e animais, as abelhas têm responsabilidade direta no aumento da produtividade agrícola, já que cerca de 70% das plantas utilizadas no consumo humano dependem de polinização. A dizimação, associada a várias causas, têm sido tratada como síndrome: o distúrbio do colapso das colônias (CCD).
Segundo a pesquisadora da Embrapa, o desaparecimento de abelhas melíferas no mundo é um somatório de problemas, entre os quais destacam-se uso de defensivos, perda dos habitats naturais em decorrência do uso da terra, patógenos e parasitas que atacam as colônias e mudanças climáticas.
No Brasil, casos de enfraquecimento, declínio e colapso têm sido relatados especialmente nos estados de São Paulo e Santa Catarina, que somam grandes perdas. Apesar de não confirmar a ocorrência da síndrome no país, o estudo deixou claro que o risco é iminente porque muitos dos fatores associados ao colapso já são encontrados. Em cerca de um terço do território nacional, houve perda de grandes áreas de vegetação natural. Somado a isso, os possíveis impactos da fragmentação de habitats sobre as comunidades de abelhas não têm sido devidamente avaliados.
Impacto econômico
Estima-se que o valor econômico da polinização feita por insetos, principalmente abelhas, corresponde a 9,5% da produção agrícola mundial. No Brasil das 141 espécies de plantas cultivadas para uso na alimentação humana, produção animal, biodiesel e fibras, aproximadamente 60%, ou seja, 85 espécies dependem da polinização animal. Além disso, a produção de mel no Brasil movimenta mais de 300 milhões de reais. Por esses dados, é possível prever o quanto um colapso nas populações de abelhas poderia causar de prejuízos à economia nacional.
Entre os problemas enfrentados no País hoje, destacam-se a ausência de um sistema de monitoramento das colônias de abelhas nos apiários e no ambiente natural, o uso intensivo de agrotóxicos nas lavouras, a inexistência de um cadastro amplo e organizado de apicultores e meliponiculltores, entre outros.
Diretrizes
O estudo traz dez diretrizes para auxiliar governantes na elaboração de políticas públicas voltadas à preservação dos polinizadores:
1 – Aprimorar os padrões regulatórios de pesticidas
2 – Promover o manejo integrado de pragas (MIP)
3 -Incluir efeitos indiretos e subletais na avaliação de riscos de culturas geneticamente modificadas
4 – Regular o movimento dos polinizadores manejados entre os países
5 -Desenvolver incentivos, tais como seguros, para incentivar os agricultores a utilizar serviços ecossistêmicos, como polinização, ao invés de agroquímicos
6 – Reconhecer a polinização como insumo agrícola nos serviços de extensão
7 – Apoiar sistemas agrícolas diversificados
8 – Conservar e restaurar os habitats de polinizadores nas paisagens agrícolas e urbanas
9 – Desenvolver o monitoramento de polinizadores a longo prazo
10 – Financiar pesquisas participativas para intensificar o uso de práticas de agricultura orgânica,
O artigo
O artigo da revista Science está disponível no link: science.sciencemag.org