Por Alcides Faria, diretor executivo da Ecoa
– Repotenciar. Ações voltadas para melhorar os parâmetros de uma usina hidrelétrica, ampliando sua capacidade de geração, eficiência e evitando quebras que levam a perda na produção de energia.
– O Estudo lista 56 usinas como passíveis de repotenciação, 32 delas (57%) estão na Bacia do rio Paraná, bacia que, por seu turno, é responsável por mais de 60% da geração hidrelétrica no Brasil.
O tema “repotenciação” é complexo e espinhoso, tratado sempre por especialistas e os responsáveis pela construção das políticas públicas da área de energia, mas não tendo nenhuma dessas ‘qualidades’, fiz a aproximação possível do tema. A razão maior é a necessidade de sociedade munir-se de elementos para confrontar o ‘produtivismo’* na área de energia, principalmente o relacionado à construção de novas barragens na Amazônia ou a utilização das geradoras de energia movidas a gás ou óleo.
Se as atuais barragens podem ser renovadas por diferentes meios, oferecendo mais energia para as residências, comércios e indústrias, por que não incluir essa perspectiva nos Planos governamentais?
Estudo anterior, de 2018, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) trata do tema pelo viés do envelhecimento e as consequentes quebras de equipamentos, levando a paralização de unidades geradoras.
A partir do estudo BID elaborei o texto “Envelhecimento das usinas hidrelétricas no Brasil reduz capacidade de produção de energia”, no qual é mostrado que as interrupções no funcionamento das turbinas estão aumentando, provocando perdas na produção de energia. A quantidade de energia perdida devido a desligamentos forçados dobrou nos últimos 10 anos.
O valor da energia não gerada entre 2007 e 2018 devido a desligamentos programados dos turbogeradores foi de aproximadamente 4 bilhões de dólares. Entre 2007 e 2018 deixaram de ser gerados 208.963 GWh de energia por paradas forçadas, o equivalente a 12,762 bilhões de dólares pelo valor dos “leilões anuais de energia existente”.
Um aspecto fundamental e não considerado tanto no Estudo da EPE quanto o do Banco Interamericano de Desenvolvimento foi o da produção da água que passará pelas turbinas, ou considerado de forma equivocada no caso da EPE.
No Capítulo 7 do documento está fixado que “as hidrelétricas, por terem a água como força motriz, têm, conceitualmente, o custo de insumo de valor nulo”. Com o atual estágio de degradação ambiental, sabemos que a disponibilidade é condicionada pelo clima e também por ações humanas diretas como desmatamento e o mau uso do solo, com o consequente assoreamento dos cursos d’água, vias abastecedoras dos lagos das represas.
A chamada “Crise Hídrica” de 2021 – a anterior foi logo antes, em 2014-15 -, concentrada na bacia do rio Paraná, onde está a maior parte das unidades para geração elétrica de fonte hídrica, é um exemplo claro que a equação deve ser completa, garantindo antes a produção de água, mesmo frente a eventos climáticos extremos.
Repontencia-se, com custos altos, mas o abastecimento hídrico estará garantido? Aqui deve prevalecer uma política essencial: a restauração ambiental, com recuperação das microbacias. O Programa Cultivando Água Boa (CAB) da binacional Itaipu é um modelo. Em dezembro de 2021 completou o plantio de 24 milhões de árvores, dentre outros ganhos para a região.
Apesar de importante, este documento da EPE tem seu centro no “economicamente viável” para os operadores privados. A equação Brasil pode ser distinta.
*’Produtivismo’ na área de energia entendo como seguir criando cada vez mais meios de geração elétrica sem que se cuide de questões fundamentais como o desperdício e a eficiência energética e mesmo a garantia de produção de água.