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Resgatando uma publicação história sobre a Hidrovia Paraná Paraguai

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Victor Agostinho, Folha de São Paulo

 

Ambientalistas protestam contra hidrovia

Ambientalistas de 70 ONGs (organizações não-governamentais) do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia denunciaram ontem que a construção da hidrovia Paraguai-Paraná vai causar impacto capaz de comprometer todo o ecossistema da região.

A denúncia foi feita na abertura do seminário internacional que debate a hidrovia Paraguai-Paraná, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

Como está projetada, a hidrovia terá 3.440 quilômetros e um custo estimado de construção na faixa de US$ 1,3 bilhão, financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Sairá de Cáceres, no Mato Grosso, e chegará a Buenos Aires (Argentina).

As obras prevêem retificações e rebaixamento do leito do rio Paraguai além de explosões de rochas e construção de diques nos afluentes.

Segundo Sérgio Guimarães, da ONG Fórum Matogrossense do Meio Ambiente, o estudo de impacto ambiental da hidrovia está sendo feito em paralelo com os estudos de engenharia. “Nós esperamos que, no mínimo, a decisão de se iniciar a obra seja tomada depois de pronto o estudo de impacto ambiental”, disse.

Oscar Rivas, da ONG paraguaia Sobrevivencia, afirmou que a retificação do rio e a explosão de rochas vão modificar os ecossistemas e interferir na vida de comunidades de pescadores, camponeses e índios.

Na região cortada pela hidrovia vivem, pelo menos, os índios bororos, guaranis, terenas e guatós. A representante dos grupos indígenas da região, a índia Marta Guarani, disse que as comunidades estão preocupadas: “Vão mexer com a nossa vida e nós não estamos sendo consultados. Os nossos rios já estão contaminados com mercúrio e agora vão começar os barcos”.

Na opinião de Silvia Ribeiro, da Rede de ONGs do Uruguai, o projeto é inviável até pelo seu aspecto econômico. Ela afirmou que a hidrovia vai beneficiar basicamente a cultura da soja.

Para Sérgio Guimarães, a hidrovia vai “impor um modelo econômico ultrapassado. E se o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul não viabilizarem a soja? Certamente vai fracassar todo o projeto. Sem contar que o grupo do empresário Olacyr de Morais está construindo a Ferronorte, uma ferrovia que vai concorrer com a hidrovia pelo mesmo produto”.

Ao mesmo tempo que denunciam o possível impacto nocivo ao meio ambiente –incluindo boa parte do pantanal–, os ambientalistas reconhecem que a hidrovia é a espinha dorsal das exportações do Mercosul e a saída para o Atlântico, há muito tempo procurada pela Bolívia.

“Mas se o interesse da hidrovia for na geração de empregos e de receita, a pesca pode gerar empregos ao mesmo tempo que o turismo no Pantanal gerou ano passado US$ 30 milhões com a movimentação de 100 mil turistas”, afirmou Alcides Faria, do Fórum de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Mato Grosso do Sul.

Hoje, a partir das 9h, será debatida a “Visão Oficial” da hidrovia. Estarão presentes representantes do BID e do PNUD, financiadores do projeto.

Amanhã, também a partir das 9h, será feita a avaliação do trabalho em conjunto. O debate final começa às 15h45.

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