– Espécies como dourado, pintado, pacu, cachara, piapara, surubim, piau estão sob risco muito alto.
– O Pantanal tem 23 espécies migratórias que percorrem mais de 100 kms para a desova.
– Bacias do Cuiabá e Taquari teriam 70% de suas vias migratórias barradas.
Seis cientistas investigaram os danos que a construção de 104 represas nos rios das bacias hidrográficas que alimentam o Pantanal causaria para a reprodução de peixes migradores. Dos 6 cientistas 2 são de universidades dos Estados Unidos e 4 da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), sendo estadunidenses Hans M. Tritico (University of Mount Union, Alliance) e Stephen K. Hamilton (W. K. Kellogg Biological Station, Department of Zoology, Michigan State University). Da UFMT são eles Pierre Girard, Peter Zeilhofer, Marcel Medinas de Campos e Ibraim Fantin-Cruz.
– Considerar que Pantanal é uma vasta área úmida localizada no Brasil, Bolívia e Paraguai com cerca de 190 mil kms2 – 140 mil dos quais em território brasileiro.
Nota: Texto aberto a correções.
O texto a seguir baseia-se, principalmente, em partes das conclusões apresentadas na revista Wiley, em inglês, de dezembro de 2019, com o título “Predicted impacts of proposed hydroelectric facilities on fish migration routes upstream from the Pantanal wetland (Brazil)”. Os autores partem da informação de que o Pantanal hospeda 23 espécies de peixes migratórios de longa distância (viajam mais que 100 Kms) – buscam os afluentes das terras altas para desovar.
No trabalho foi utilizado um SIG (Sistema de Informação Geográfica) para prever o impacto das barreiras interpostas nas potenciais rotas de migração, identificando nas análises as barragens para hidrelétricas e as barreiras naturais. As barreiras naturais são consideradas os taludes críticos de entre 10 e 25%, valores acima dos quais previu-se que os peixes seriam incapazes de ultrapassar.
O modelo permitiu demonstrar que entre 2 e 14% dos rios são naturalmente bloqueados à migração dos peixes do Pantanal. Outros 5 a 9% são atualmente bloqueados por 35 instalações hidrelétricas já construídas.
Caso todas as barragens previstas na análise fossem construídas a área inundada por novos reservatórios das represas triplicará e os quilômetros de rios bloqueados duplicarão. Tal quadro, o bloquei seria de entre 25 a 32% do sistema fluvial para a migração dos peixes. O Taquari e as sub-bacias do rio Cuiabá seriam as mais impactadas, pois cada uma delas ficaria com mais de 70% da seus rios bloqueados.
Quatorze das barragens propostas estão a montante das barreiras existentes e, portanto, não restringirão ainda mais as rotas de peixes migradores de longa distância. As barragens novas previstas fechariam entre 11.000 e 12.000 km adicionais de canais fluviais.
Está registrado cientificamente que ocorrem perdas generalizadas nas rotas de migração dos peixes quando os sistemas fluviais são fragmentados, especialmente quando se constrói barragens, como demonstrado por Agostinho, Gomes e Pelicice (2007).
Existem 23 espécies de peixes migradores de longa distância (>100 km) no Pantanal, incluindo algumas das espécies abundantes em um número que são importantes para atividades artesanais, comerciais e recreativas.
A lista de espécies apresentada no trabalho com os nomes conhecidos popularmente.
Piraputanga – Brycon hilarii
Piapara – Leporinus elongatus
Piau de 3 pintas – Leporinus friderici.
Piauçu – Leporinus macrocephalus.
Piava – Leporinus obtusidens.
Pacu peva/Pacu prata – Mylossoma orbignyanum
Pacu – Piaractus mesopotamicus.
Sairu – Potamorhina squamoralevis.
Curimba / curimbatá – Prochilodus lineatusa.
Peixe cachorro – Rhaphiodon vulpinus.
Dourado – Salminus brasiliensis.
Ximburé – Schizodon borelli.
Jurupoca – Hemisorubim platyrhynchosa.
Armal – Oxydoras knerii.
Jau – Paulicea luetkeni.
Mandi – Pimelodus maculatusa.
Barbado – Pinirampus pirinampu.
Pintado – Pseudoplatystoma corruscansa,e,f.
Cachara – Pseudoplatystoma fasciatuma,e.f.
Abotoado – Pterodoras granulosus.
Cascudo preto – Rhinelepis áspera.
Surubim – Sorubim lima.
Surubim-do-Iguaçu – Steindachneridion sp (70–110).