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Terceira crise na bacia do rio Paraná em menos de 10 anos. Continuará tudo como sempre?

5 minutos de leitura
Alcides Faria, diretor da Ecoa.

Texto publicado em 28 de agosto de 2024

– Nessa unidade ambiental está a maioria da população e a maior parte da economia do Brasil.

Está configurada uma nova crise hídrica na unidade ambiental que concentra a maior parte da economia e da população no Brasil: a bacia hidrográfica do rio Paraná. Fazem parte dela territórios de São Paulo, Minas Gerais, Goiás. Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná, sendo compartida com Bolívia, Paraguai e Argentina.

Considerando que o rio Paraguai é um afluente do rio Paraná e que uma seca extrema atingiu sua bacia entre 2020/2021, em 2024 a unidade está mergulhada na terceira crise hídrica em menos de 10 anos.

E quais os impactos mais graves da atual crise hídrica na bacia do Paraná?

O impacto mais grave evidentemente é social com a falta de água para o abastecimento urbano, obrigando a racionamentos, levando a gastos maiores de escassos públicos para fazer remendos no abastecimento. Famílias ficam às vezes dias com suas torneiras secas. Na região metropolitana de São Paulo, a queda no nível dos mananciais responsáveis pelo abastecimento agravou o racionamento de água: “seis dos sete sistemas de água que abastecem a região metropolitana de São Paulo estão mais secos hoje” que há um ano, informa a Folha de São Paulo. As preocupações com a saúde se multiplicam devido a concentração de poluentes em rios e represas com menos água. Várias cidades do interior do Estado, incluindo algumas de grande porte como Bauru, estão racionando água.

Outro impacto grave da crise hídrica é a queda no volume de água das represas destinadas a geração elétrica na bacia do rio Paraná. No Brasil, as represas da Bacia são responsáveis por mais de 60% da geração hidrelétrica. Quando o volume de água nas barragens se aproxima do crítico, se aciona algumas das 319 termelétricas em operação, um custo por KW muito maior, o que impacta diretamente a economia, aumentando os custos de produção e encarecendo a conta de energia das famílias, reduzindo seu poder de consumo geral, para, a rigor pagar as térmicas.

Outras áreas fortemente impactadas são atividades ligadas a água como algumas modalidades de turismo, a pesca, a produção pesqueira, a agricultura e a irrigação. O impacto direto e indireto sobre as águas subterrâneas é outro problema grave, pois com a seca, a recarga, o reabastecimento dessas águas não ocorre no ritmo necessário e ao mesmo tempo é aumentada a retirada de água para suprir os problemas trazidos pela falta de chuva.

Por fim, o grande impacto visível no momento trazido pela crise está a vista: os incêndios. Este tem sua base primária no clima, mas a ação humana é a base para o que acontece em São Paulo no momento e há vários meses no Pantanal.

Este terceiro alerta em 10 anos, mostrando que o berço esplêndido do hino foi quebrado e sua reconstrução será muito difícil. Mas há tempo para criar políticas novas para as águas considerando as mudanças climáticas, a começar no investimento pesado contra o desperdício e a ineficiência energética – ineficiência no uso de energia custa muita água.   Voltarei ao assunto.

Alcides Faria, diretor da Ecoa

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