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Um terço da produção mundial de alimentos vai para o lixo

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Via Procel Info

“É preciso deixar de ser energívoro”, alertou José Rogelio Medela, diretor adjunto do Departamento de Meio Ambiente (DMA) da Fiesp. A afirmação foi feita na abertura do I Simpósio Nacional de Eficiência Energética e Sustentabilidade para Conservação de Alimentos, realizado no último dia 8 de março, e voltado especificamente ao setor alimentício com ênfase para a eficiência energética e sustentabilidade, fundamentais para as boas práticas na conservação de alimentos. Esses pilares na área supermercadista, e também nos locais que ofertam alimentação fora do lar, são essenciais para a redução do custo e preservação do meio ambiente.

Para Mario Hirose, também diretor adjunto do DMA, os temas tratados no Simpósio são transversais, envolvendo inclusive logística, quando se trata do desperdício ocorrido desde a produção até o transporte do alimento pela percepção que se tem de abundância. “Por isso, devemos perseguir a eficiência. Pois quem paga a conta somos todos nós”, disse.

O primeiro painel ficou a cargo de Rodolfo Pinheiro da Silva, engenheiro e professor Escola Senai Jorge Mahfuz, cuja unidade é vocacionada ao tema com três núcleos, um de energia, outro de eficiência energética e um terceiro dedicado a energias renováveis. “A eficiência energética está baseada no tripé custo de energia (estou contratado energia da forma correta?), consumo (o equipamento utilizado é o mais eficiente?) e uso (o equipamento só funciona realmente quando é preciso?). “De 2013 a 2016 houve acréscimo de 59% no valor da energia com impacto nos negócios”, afirmou.

Ao detalhar a composição de uma conta de luz e as bandeiras tarifárias que são estipuladas pelo governo, Silva explicou como se dão acréscimos pontuais elevando o valor a ser pago. Com programação racional de algumas tarefas industriais, que podem ser realizadas fora do horário de pico, é possível obter economia. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) define que durante três horas consecutivas diárias, a energia será mais cara em função da demanda, o chamado horário de ponta que, pela AES Eletropaulo é das 17h30 às 20h30. Outro ponto assinalado é a demanda contratada, por exemplo, se o contratado foi 100 kW e o limite for ultrapassado, a diferença será cobrada em dobro. “Às vezes se paga por uma demanda que não se utilizou e aí é preciso avaliar a demanda contratada versus a utilizada”, explicou.

Nas gôndolas

Portanto, para o setor alimentício, há diversas formas de economia, desde se utilizar a climatização apenas no momento necessário, o que pode ser resolvido com uma programação mais eficiente de uso e o auxílio de um temporizador. A mesma atenção se deve dar a um projeto de adequação de iluminação de gôndolas e demais prateleiras, pois há lâmpadas mais caras e que consomem menos energia, mas que distorcem a cor do produto, dando-lhe uma aparência envelhecida. Portanto, “se não for atacado o tripé citado, custo de energia, uso e consumo, não se está sendo eficiente”, concluiu.

Na sequência, o foco do debate foi a tendência para a conservação de alimentos com qualidade e redução de custos – Panorama Europeu e Americano com Sandra Mian, doutora em engenharia de alimentos, especialista na conservação de alimentos no que diz respeito à tecnologia do frio, autora de estudos sobre tendências mundiais – Canadá, Europa, Brasil –, e há mais de 20 anos estudando mercados internacionais.

O primeiro alerta da especialista foi sobre o impacto causado ao planeta pela alimentação e o paradoxo registrado: 868 milhões de pessoas estão desnutridas, no mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), e 1,5 bilhão sofre com excesso de peso. Por ano, morrem 36 milhões por falta de comida e 29 milhões por excesso. E “e se hoje estamos consumindo 1,5 planeta Terra, em 2050 deveremos consumir três”, afirmou.

Segundo a especialista, “há um forte custo ambiental, além do humanitário. O que se desperdiça por dia é 2 mil kilocalorias/dia, ou seja, o que daria para se alimentar outra pessoa. Em termos de desperdício, a perda de alimentos também envolve o desperdício de 60 m3 de água e 832m2 de terra arável. Ou seja, 1/3 da produção vai para o lixo: 45% das raízes, tubérculos, legumes, frutas e verduras se perdem, 35% dos pescados e frutos do mar, 20% de todas as carnes, 30% dos cereais, 20% dos grãos e lácteos. Os grandes problemas? Transporte, distribuição e processamento, etapas que envolvem fortemente refrigeração, em sua avaliação.

Novos comportamentos

Mian também sinalizou questões comportamentais. Há uma tendência positiva protagonizada pelas novas gerações. Em termos históricos, temos a geração silenciosa, nascida entre a I e II Guerras Mundiais; os baby boomers (1946-1964), pós-guerra; X ou yuppies (1965-1976); geração Y ou millennials (1980-1990), sendo sucedida pela geração Z.

Os millennials têm preocupação com o desperdício relacionado aos alimentos e à água. São influenciados e influenciam família e amigos quanto aos hábitos de consumo, buscando opções mais saudáveis, atentos às informações nutricionais, pois querem saber a origem e o processamento do alimento e muitos deles se referem a si mesmos como foodies. São multiculturais e globais, ativos nas redes sociais para compartilhar histórias sobre alimentação, e preferem comidas feitas em casa, não são fãs de micro-ondas, e quanto mais fresco o alimento, melhor. Esse comportamento levou ao aumento do consumo de frutas, verduras e legumes no Canadá, por exemplo.

Essa geração está mais predisposta a pagar a mais por uma comida mais natural e orgânica, minimamente processada e bem fresca, o que leva mais uma vez à importância da refrigeração. Nesse sentido, comida também é experiência, o que gera impacto no marketing experiencial. E crescem muitos hábitos vegetarianos e veganos para essa geração millennials. O maior crescimento se dá no Brasil de acordo com Mian, porque a alimentação precisa ser saudável não somente para si, mas para todo o planeta e, em termos éticos, inclusive para os animais.

Para finalizar, Mian sinalizou a importância de uma etiqueta “limpa”, em função da presença de aditivos e conservantes, e de se manter o foco em tecnologia de ponta. Uma das saídas encontradas no Canadá foi o contrato estabelecido entre consumidores e produtores, uma cadeia curta que permite a quem produz trabalhar com qualidade e, quem recebe a produção, ter a certeza de estar adquirindo um produto saudável.

Um terceiro painel tratou da automação em supermercados com Felipe Assumpção (engenheiro da Full Galge Control). E, para encerrar, como gerenciar a energia na conservação de alimentos por Alexander Dabkiewicz (gerente da ACS) com foco nos processos e sistemas, além da apresentação de cases de supermercados.

* Com informações da Fiesp

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