Por Iasmim Amiden (Ecoa – Ecologia e Ação)
Iasmim é jornalista, graduada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e coordena o Programa Oásis de proteção aos polinizadores, da Ecoa
– O desaparecimento de abelhas é um problema generalizado e um dos mais graves enfrentados atualmente no mundo.
– Sabemos que sem elas, ou com sua redução, temos impactos negativos para a economia e, portanto, para toda a sociedade.
– No Brasil, as abelhas garantem a polinização de cerca de 60% das plantas cultivadas para alimentação, medicamentos, biocombustíveis e fibras.
– Diante do Colapso das Colmeias, buscam-se alternativas para solucionar este problema.
– Pensamos que procurar formas para sua conservação/proteção seja o curso mais adequado. Mas, cientistas do Japão já desenvolvem abelhas-drone para substituir as polinizadoras.
– Agora a frase “isso é muito Black Mirror” faz todo sentido!
A série britânica Black Mirror, que conquistou milhões de telespectadores por todo o mundo, principalmente os amantes da ficção científica, centra na sociedade moderna e nas novas tecnologias, em particular, nas consequências destas – com um belo tom satírico –, a partir de episódios trabalhados autonomamente, em um futuro próximo, ou, em alguns casos, em um presente alternativo.
“Odiados pela nação”, o sexto e último episódio da terceira temporada, traz à tona o que muitas pessoas desconhecem e de um modo até alarmante – aqui já deixo meu alerta spoiler, pois estou para revelar alguns dos acontecimentos retratados que nos causam preocupações.
O episódio envolve um assassino misterioso, detetives e muitas abelhas. E por que as abelhas? Bem, sabemos que são responsáveis pela polinização, tendo impactos diretos na economia. Os químicos, as queimadas e o desmatamento têm provocado seu desaparecimento, ou Colapso das Colmeias (CDD), o que coloca as polinizadoras em risco de extinção.
Para solucionar este problema global, no episódio, um programador desenvolve abelhas-drone, capazes de polinizar milhares de espécies da flora e até mesmo de formar colmeias e de se reproduzirem. Neste mesmo sistema, é possível obter dados de geolocalização.
Algumas mortes súbitas começam a acontecer, são vítimas alvos de críticas nas mídias sociais, atacadas pelas milhões de hashtags “#Deathto” (“Morte a” em português) que guiavam um jogo, no qual os jogadores precisavam fazer publicações com a hashtag indicada e um nome, especificamente da pessoa a qual você desejaria que estivesse morta. No final de cada semana, a pessoa que tivesse o maior número de ameaças online, morreria no dia seguinte.
Quando duas mulheres detetives passam a investigar os casos, elas encontram em todas as vítimas, abelhas-drone. Mas qual a relação? Como algo tão inofensivo – a princípio criado para salvar a humanidade – poderia causar a morte de alguém? Bem, sistemas e robôs estão suscetíveis de serem hackeados.
São tempos em que a sociedade está vulnerável ao sistema e a todo seu poder e controle sobre a mesma. Vejamos a inteligência artificial, por exemplo, substitui pessoas a todo o momento para os mais diversos fins. E como as pessoas, os animais que desempenham um importante papel ecossistêmico e garantem a vida da humanidade e são substituídos por drones.
Cientistas do Instituto Nacional de Ciência Industrial e Tecnologia Avançada (AIST, na sigla em inglês), no Japão, criaram drones com um adesivo projetado para pegar e depositar o pólen. O líder do projeto é o químico Eijiro Miyako e, segundo a página da GizModo, entre a lista de “Programas de TV sobre a crise de polinização, o declínio nas abelhas-de-mel e os últimos lançamentos robóticos”, não estava Black Mirror – o que não deixa de ser uma coincidência um tanto interessante.
E não para por aí, já temos registros de morcegos-drone (os chamados Bat Bot) também. Será essa a solução para o declínio dos polinizadores?
Oásis, um projeto feito pela Ecoa para proteção às espécies polinizadoras, traz outra proposta, a de oferecer condições para sua sobrevivência e conservação, em regiões onde não se utilizam agrotóxicos – ou com baixo uso – e que os efeitos do desmatamento não se fizeram sentir completamente. O Pantanal, por exemplo, pode ser um oásis a proteção das abelhas e outros polinizadores.