/

Estudo da UFMT associa câncer a agrotóxicos

8 minutos de leitura
Câncer e agrotóxico
Foto: Michel Filho / Agência O Globo

Câncer e agrotóxico são temas de pesquisa feita pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT);

Mato Grosso é um dos estados que utiliza agrotóxicos no Brasil, além de ser o estado com maior número de acidentes envolvendo aplicação de agrotóxicos;

Estudo revela que existe alta incidência de câncer em municípios onde agrotóxicos são amplamente aplicados.

 

Por Instituto Humanitas Unisinos

Relação entre incidência de câncer e agrotóxicos é investigada no Mato Grosso – onde o agronegócio aplica mais de 1 bilhão de litros de herbicidas por ano.

Um estudo realizado pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) aponta a alta incidência de câncer em diversos municípios do estado de Mato Grosso e estabelece uma relação entre a doença e o uso de agrotóxicos pelo agronegócio nessas localidades.

Os pesquisadores ressaltam que a maioria desses municípios mato-grossenses é produtora de commodities agrícolas para exportação e concentra um grande contingente de pessoas envolvidas na agricultura e pecuária. Nessas localidades, a baixa escolaridade dos trabalhadores do setor dificulta o manejo adequado de agrotóxicos e maior exposição ocupacional e ambiental aos venenos.

O estudo, denominado Ambiente, saúde e agrotóxicos: desafios e perspectivas na defesa da saúde humana, ambiental e do(a) trabalhador(a) tem por objetivo tratar do cenário atual das contaminações por agrotóxicos no ambiente, nas águas, nas populações e classe trabalhadora. O trabalho foi organizado por Pablo Roccon, Haya Del Bel, Alane Souza Costa e Wanderlei Pignati.

Leia também: Quem resiste – os impactos dos agrotóxicos para comunidades tradicionais no MS

Os pesquisadores da Federal também propõem desafios para atuação do poder judiciário e do Ministério Público e a produção de uma vigilância popular; as contribuições de saberes plurais, ancestrais e originários para o enfrentamento da realidade de destruição socioambiental analisada.

Em um trecho, os pesquisadores questionam o forte apelo em torno do agronegócio, com discursos que defendem a atividade como sendo o melhor negócio para seus países, apresentando alta do Produto Interno Bruto (PIB) e avanços tecnológicos como algumas de suas vantagens.

“De fato, o Brasil é um dos maiores produtores agropecuários do mundo e o segundo maior exportador de commodities, mas a que custos social e ambiental?” indaga o trabalho.

Em uma reportagem publicada em maio deste ano, a Mídia Ninja apontou que o Mato Grosso, além de ser o maior produtor do agronegócio do país, também é o estado com maior incidência de acidentes envolvendo agrotóxicos. O setor, afirma, se tornou completamente dependente do veneno para ser produtivo.

“Eu chamo esse modelo econômico de modelo químico dependente de fertilizante. Isso leva ao risco sanitário, alimentar, ambiental. É claro que Mato Grosso é campeão nacional de produção de soja, de milho, de algodão, mas também é campeão nacional de consumo de agrotóxico”, destacou o professor Wanderlei Pignati, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso.

Leia também: Agrotóxicos que matam abelhas são despejados no Brasil pela Europa

câncer e agrotóxico

Câncer e Agrotóxico – Acidentes de trabalho

A publicação da Universidade Federal do Mato Grosso aponta ainda que o Mato Grosso é também campeão nacional de acidentes e mortes no trabalho, com 70% dos casos relacionados à agropecuária, frigoríficos, usinas de açúcar e álcool, madeireiras e transporte e silagem de grãos.

“Em 2020, por exemplo, o Brasil plantou 75,6 milhões de hectares de lavouras em 21 dos maiores tipos de cultivos, nos quais foram pulverizados um total de 1,2 bilhão de litros de herbicidas, inseticidas e fungicidas e usados 7 bilhões de quilos de fertilizantes químicos. Destes agrotóxicos, 15% eram extremamente tóxicos, 25% altamente tóxicos, 35% medianamente tóxicos e 25% são pouco tóxicos na classificação de toxicidade aguda para humanos”, revela o estudo.

A contaminação por venenos ocorre principalmente pelo manuseio e aplicação mecânica inadequados e contaminação no próprio consumo.

Os autores da pesquisa afirmam que as maiores taxas de câncer estão concentradas em município das zonas Norte, Centro e Sul do estado.

“A exposição ambiental e ocupacional por agrotóxicos pode estar relacionada, pois os municípios da região Norte, Centro e Sul do estado com maior concentração de casos são também os maiores produtores agrícolas do Centro-Oeste e com alto consumo de agrotóxicos”, resume.

O estado registrou quase 11 mil internações hospitalares por câncer infantojuvenil. Desse total, 30% eram crianças de zero a quatro anos.

Câncer e agrotóxico – afetando crianças e adolescentes

Os dados já expostos em outro estudo da mesma universidade intitulado Câncer Infantojuvenil: nas regiões mais produtoras e que mais usam agrotóxicos, maior é a morbidade e mortalidade no Mato Grosso revelam ainda que 406 jovens com idades até 19 anos morreram por câncer. Em um terço desses casos as vítimas tinham de 15 a 19 anos.

Mais de 50% dos pacientes desenvolveram leucemias e 37,2% das mortes foram causados pela leucemia linfóide, caracterizado pelo surgimento de linfócito (célula de defesa do organismo) com mutação. De acordo com o estudo, há uma correlação entre o uso médio de agrotóxicos em litros e a média de mortes e internações por câncer infantojuvenil.

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

Mais recente de Blog

Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) são entregues às brigadas comunitárias do Trevo Carandazal e Bandeira, em Miranda (MS). A entrega dos EPIs marca a concretização de todo um processo conduzido pela especialista da Ecoa, Fernanda Cano, responsável pela mobilização comunitária, levantamento de brigadistas ativos/as, aquisição e organização logística dos equipamentos, além da articulação local para viabilizar a formação. A iniciativa integra o projeto Fortalecendo Brigadas Comunitárias Voluntárias e Ações de Manejo Integrado do Fogo, apoiado pelo Fundo Casa Socioambiental em parceria com o Juntos pelo Pantanal, projeto do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), com apoio do GEF Terrestre, por meio do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). A Prefeitura de Miranda também colabora com a ação, que conta com a parceria técnica do Prevfogo/Ibama.

VEJA MAIS: Brigada é criada em área estratégica para prevenção de incêndios em Miranda (MS)