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Presença de agrotóxicos em papinhas infantis aponta para necessidade de legislação específica

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Substâncias tóxicas presentes nas papinhas infantis podem ter origem no cultivo dos alimentos, segundo pesquisadora - Fernando Frazão/ Agência Brasil

Redação Brasil de Fato 

As papinhas que fazem parte da alimentação dos bebês podem esconder uma ameaça invisível. Uma pesquisa realizada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Espanha identificou a presença de oito tipos diferentes de agrotóxicos nesses produtos industrializados.

A concentração das substâncias tóxicas “em baixíssima quantidade” está dentro dos patamares permitidos na Europa. No Brasil, no entanto, não há legislação específica para regulamentar os limites toleráveis de resíduos em papinhas, por isso a engenheira de alimentos Rafaela Prata, responsável pelo estudo, se baseou na lei europeia.

“O que fica de alerta é a questão do fato de não termos legislação. Como a gente teve que se basear numa legislação da Europa, dentro dos limites estabelecidos por lá, estaria ok. Mas, e daqui? Se tivesse sido encontrada uma quantidade maior, não teria como fiscalizar, por não termos em quê se basear”, pontua em entrevista ao programa Bem Viver desta quarta-feira (08).

No Brasil, há uma legislação geral sobre os limites máximos de resíduos (LMR), que utiliza como base as determinações da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Ao todo, 50 amostras foram analisadas pelo estudo, e os resíduos foram encontrados em 68% delas. Uma hipótese apontada pela pesquisadora é a de que as substâncias presentes nos alimentos infantis venham do campo.

“A teoria mais plausível é que [os pesticidas] venham da própria matéria-prima, porque não são coisas adicionadas na indústria. Muitas das papinhas analisadas não possuem sequer conservantes, somente os ingredientes. Então acredito que venham do campo mesmo, do cultivo”, diz.

O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro liberou 2.182 agrotóxicos para uso no campo entre 2019 e 2022, o maior número de registros para uma gestão presidencial desde 2003, segundo dados da Coordenação-Geral de Agrotóxicos e Afins (CGAA) do Ministério da Agricultura.

Ao ressaltar a necessidade de uma legislação específica para determinar os limites de resíduos nas papinhas, a engenheira de alimentos é categórica ao afirmar que o ideal seria não expor crianças ao consumo de pesticidas, ainda que em baixa quantidade. Mas ela pondera que essa é uma realidade pouco provável.

“Por se tratar de alimentos destinados às crianças, ao público infantil, acredito que não deveria ter sido encontrado [agrotóxico]. Mas é uma realidade muito fora. Mesmo que a gente utilize somente produtos orgânicos, não temos 100% de certeza de que ali não tem nada. Não sabemos do histórico de onde foi cultivado, se vai ter uma contaminação no solo, mesmo que o produtor não tenha aplicado”, explica a pesquisadora.

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