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Estação instalada em reserva no Pantanal de Mato Grosso registra 2,2 mil abalos sísmicos

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Via Sesc Pantanal

O tremor de terra de 4,5 na escala Richter registrado no Pantanal de Mato Grosso chamou a atenção dos moradores do município de Poconé (MT), neste mês. Os abalos sísmicos, porém, são muito mais frequentes do que se imagina, mas não são sentidos pelas pessoas. Somente na estação instalada na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal e monitorada pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), foram captados dois mil eventos nos últimos três anos.

Tais registros são de diferentes partes do mundo, não apenas de ocorrências em Mato Grosso. Portanto, quanto mais forte a magnitude do evento, maior é seu alcance, sendo identificado em diferentes estações do planeta. Os terremotos com magnitude a partir de 6 (o máximo já registrado pela escala Richter foi de 9,5, no Chile, em 1960) tem esse potencial. O maior já registrado pela estação da RPPN Sesc Pantanal foi de 7,7, ocorrido no sul do Oceano Pacífico, em 2023.

Áreas remotas, como a RPPN, contribuem significativamente para a apuração dos terremotos, uma vez que locais com muito tráfego de veículos, por exemplo, inviabilizam a instalação de estações de monitoramento. Além disso, as estações em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são importantes devido ao histórico de ocorrência de sismos na região.

De acordo com o ecólogo e gestor da RPPN, Alexandre Enout, o registro recente em Poconé é histórico entre as pesquisas realizadas na Reserva, localizada em Barão de Melgaço. “Fazemos parte de uma importante rede de estações presentes em diferentes partes do mundo que ajudam a localizar um evento, como o ocorrido em Poconé (MT), recentemente. A RPPN tem centenas de pesquisas realizadas e o monitoramento contínuo de abalos sísmicos é uma delas, apoiando e desenvolvendo estudos científicos em parceria com diversas universidades”, explica.

Monitoramento em todo o mundo

A USP, por meio do Instituto e de seu Centro de Sismologia, monitora e estuda esses fenômenos que, embora geralmente não sejam motivo de preocupação, auxiliam na compreensão da dinâmica da Terra. Atualmente, o instituto opera diretamente 146 estações (uma delas na RPPN), cujos dados são integrados a outras redes de registros nacionais e internacionais.

Os terremotos de maior magnitude geralmente ocorrem em regiões onde há colisão e movimentação de blocos litosféricos, conforme proposto pela Teoria das Tectônicas de Placas, como no Chile e nas proximidades da Cordilheira dos Andes. A litosfera é a camada sólida da Terra, composta por rochas, minerais e solos, funcionando como uma espécie de “casca” do planeta.

As placas tectônicas são grandes fragmentos dessa litosfera que “flutuam” sobre o denominado manto astenosférico, que é parcialmente fluido devido às altas temperaturas e pressões. O movimento dessas placas, impulsionado por correntes de convecção no manto, resulta em interações como colisões, afastamentos ou deslizamentos laterais. Quando a tensão acumulada nessas zonas de contato ultrapassa o limite de resistência das rochas, ocorre uma liberação brusca de energia, gerando terremotos de maior intensidade.

Quando o terremoto é de baixa intensidade, ele é chamado de abalo sísmico ou tremor de terra, a diferença está na extensão da ruptura. Os terremotos geralmente são de magnitude superior a 6 e geram destruição.

No Brasil, por estar na região interior de uma dessas placas, ocorrem movimentações menos intensas do que nas bordas. Mesmo nesse interior, há falhas ou fraturas na crosta terrestre que podem se movimentar, explica o professor George Sand França, do IAG-US. “O tremor que as pessoas sentem é resultado de uma movimentação repentina em alguma falha ou fratura, que “escorrega” por causa das pressões geológicas” afirma.

O IAG-USP disponibiliza um canal para que a população relate experiências com tremores, chamado “Sentiu aí?”, disponível no link: https://www.moho.iag.usp.br/eq/dyfi.

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