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Pantanal. Vietnã é aqui: fazendeiro usa composto do ‘Agente Laranja’ para exterminar vegetação

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Barão de Melgaço (MT). Imagem: Polícia Civil

O fazendeiro usa venenos mortais para desmatar 80 mil hectares. Multado, ele é contumaz devastador na bacia do rio Cuiabá, que forma o Pantanal

O uso ilegal de agrotóxicos no Pantanal gerou a degradação de uma área similar a da cidade de Campinas (80 mil hectares), com potencial risco para a saúde humana e a fauna. Segundo a Secretaria de Fazenda de Mato Grosso, Claudecy Oliveira Lemes gastou 25 milhões de reais em agrotóxicos para desfolhar a vegetação natural com o intuito de plantar pastagens exóticas na bacia do rio Cuiabá, em Barão de Melgaço no Pantanal de Mato Grosso.

O processo de desmatamento usado pelo pecuarista é similar ao aplicado na Guerra do Vietnã, onde 70 bilhões de litros do herbicida conhecido como Agente Laranja, foram jogados pelos EUA para desfolhar 20% das selvas do país, na tentativa de facilitar o encontrar do exército dos vietcongs na Operação Ranch Hand. 

Um dos 25 agrotóxicos aplicado em Barão de Melgaço para desmatar foi o 2,4-D, o mesmo composto do Agente Laranja, segundo informações do professor Wanderlei Pignati, da Universidade Federal do Mato Grosso e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

O Agente Laranja foi criado pela Monsanto (comprada pela Bayer) e pela Dow, sua fórmula era constituída por partes iguais do ácido 2,4-Diclorofenoxiacético (2,4-D) e o ácido 2,4,5- Triclorofenoxiacético (2,4,5-T). A substância manipulada em altas temperaturas produz uma dioxina que não se decompõe na natureza e age por décadas contra a fauna e a saúde dos seres humanos.

 Passadas cinco décadas da Guerra do Vietnã, o país ainda não se livrou da contaminação que permanece no solo e em sedimentos, infectando alimentos e a população.  A Cruz Vermelha de Hanói aponta que mais de 3 milhões de vietnamitas ainda sofrem sequelas pelo contato com o Agente Laranja e mais de 150 mil crianças nasceram com malformações. A substância desencadeia 13 doenças, incluindo câncer e problemas cardíacos. 

Segundo a Secretaria de Meio Ambiente – SEMA/MT, o fazendeiro de Barão de Melgaço será multado em R$2,9 bilhões pelos crimes de desmatamento de área de proteção ambiental, uso indevido de agrotóxicos e poluição. Claudecy Oliveira Lemes tem um longo histórico de crimes ambientais contra o Pantanal, e é réu em dois processos, e 15 autuações. 

Na fazenda degradada em abril com veneno, havia um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público para recuperação florestal.  A área em pleno Pantanal apresenta imensas manchas cinzas na paisagem por conta do desfolhamento químico.

O uso de pesticidas é uma das grandes ameaças ao Pantanal, como denuncia a ECOA há décadas.  Em 2014, o estudo “Resíduos de pesticidas em sedimento de fundo de rio na Bacia Hidrográfica do Rio Cuiabá, Mato Grosso, Brasil”, detectou pesticidas tanto em amostras de sedimentos na parte alta como da planície pantaneira.

“Esses agrotóxicos utilizados na bacia do Rio Cuiabá e em seus afluentes podem atingir o Pantanal, sendo transportados adsorvidos ao material particulado. Devido às configurações geomorfológica e climatológica da região o escoamento proveniente do planalto acaba direcionado diretamente para o Pantanal, (planície)”, explica Alcides Farias, diretor da ECOA.

Juliana Arini

Jornalista

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