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Pesticidas no Pantanal

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– Sedimentos analisados mostram que agrotóxicos alcançam a planície.
– Ao se buscar os efeitos dos biocidas que são usados nas lavouras da bacia do Paraguai, é encontrado todo um compêndio de morte. Para o clorpirifós, por exemplo: “efeitos neurológicos, atrasos e problemas no desenvolvimento de crianças”. Para o malation é sabido que “tem potencial capacidade de alterar o ciclo celular e produzir distorções em nível de replicação do DNA Celular, aberrações cromossômicas e associam-se sua ação a diversas patologias como o câncer, Arteriosclerose, Parkinson, Alzheimer, malformações congênitas, infertilidade e esterilidade (PÓVOA et al, 1997; RODRIGUEZ et al, 2003).

O Pantanal é uma grande depressão no centro da América do Sul com uma área aproximada de 190 mil km2, distribuído por Bolívia, Brasil e Paraguai. Nas suas bordas, na parte alta da bacia do rio Paraguai, em território brasileiro, é praticada uma agricultura intensiva, com uso em larga escala de agrotóxicos.

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Rio São Lourenço deságua no rio Paraguai, ao fundo a serra do Amolar. Imagem:Arquivo Ecoa

 

Os efeitos destes biocidas sobre o Pantanal é um tema pouco estudado e não muito considerado quando se discute os maiores problemas da região. Porém, trabalhos científicos existentes trazem dados e informações que devem, no mínimo, servir de alerta, tendo em conta que esta é uma área que requer monitoramento por seu potencial de danos para o ambiente e as pessoas.
A revista Ambiente e Água (vol. 9 n. 1 Taubaté – Jan. / Mar. 2014) publicou o estudo “Resíduos de pesticidas em sedimento de fundo de rio na Bacia Hidrográfica do Rio Cuiabá, Mato Grosso, Brasil” (Juliana Possavatz, Peter Zeilhofer, Alicio A. Pinto, André Luiz Tives e Eliana Freire Gaspar de Carvalho Dores) – o Cuiabá é um dos principais rios que drenam para o Pantanal.  As nascentes dos rios Cuiabá e São Lourenço estão em áreas da parte alta da bacia do Paraguai, percorrendo a planície e desembocando no rio Paraguai como rio S. Lourenço. Os autores afirmam que a “bacia apresenta características tanto de rio de planalto como de planície, e as atividades desenvolvidas nas áreas mais altas podem causar impactos nas áreas baixas”.
O ponto de partida para as análises foi o fato de que “os sedimentos desempenham importante papel para a caracterização da poluição de rios devido a seu potencial de acumulação de poluentes”. O estudo “objetivou avaliar a contaminação por pesticidas usados nas lavouras plantadas na bacia do rio Cuiabá, MT”. As amostras de sedimento de fundo foram coletadas mensalmente de agosto de 2011 a julho de 2012.

A bacia do Cuiabá/ S. Lourenço e os pontos de coleta. Imagem autores.
A bacia do Cuiabá/ S. Lourenço e os pontos de coleta. Imagem autores.

 

“As principais culturas na bacia estudada correspondem a soja, milho e algodão, que vêm crescendo nos últimos 30 anos, sendo que entre os anos de 2008 e
2012 apresentaram um aumento de 32,4%, superior ao crescimento em área plantada dessas mesmas culturas registrado no país e na região Centro-Oeste”.
A partir dos dados de utilização de pesticidas nos municípios que compõem a bacia do Cuiabá identificou-se que os mais utilizados foram acefato, atrazina, carbofurano, cardosulfano, clomazona, clorpirifós, diurom, endossulfam, glifosato, metomil, parationa metílica, permetrina e tebuconazol.

Foram encontrados resíduos dos pesticidas tanto em amostras de sedimentos na parte alta como da planície pantaneira: “Os resultados obtidos no presente estudo indicam que pesticidas utilizados na bacia do Rio Cuiabá e em seus afluentes podem atingir o Pantanal (presença de endossulfam sulfato, clorpirifós, malationa e λcialotrina em pontos de coleta na planície), sendo transportados adsorvidos ao material particulado. Uma vez que as configurações geomorfológica e climatológica dentro da bacia fazem com que o escoamento proveniente do planalto seja direcionado diretamente para o Pantanal, as ações produzidas na parte superior da bacia (planalto) podem ocasionar impactos diretos sobre o Pantanal e áreas à jusante”.

Os autores apresentam outros estudos que trataram do assunto:
“Em estudo desenvolvido por Laabs et al. (2002) na região nordeste do Pantanal, no qual foram coletadas amostras de sedimento de fundo nos rios São Lourenço e Cuiabá e na Baía de Siá Mariana na planície pantaneira, foram detectados ametrina, p,p’DDT, p,p’DDE, desetilatrazina, ß-endossulfam, sulfato de endossulfam e simazina em concentrações variando de 0,4 a 4,5 μg kg-1, valores estes inferiores aos detectados no presente estudo. Aqueles autores coletaram amostras de novembro de 1999 a março de 2000, ou seja, somente no período chuvoso, época em que, apesar dos processos de transporte superficial serem intensificados, há também maior vazão nos rios e portanto menos deposição. Por outro lado, na área de planície os autores encontraram somente os organoclorados, mais persistentes, sendo os demais pesticidas detectados somente no planalto. No presente estudo, os pesticidas foram detectados com mais frequência nos pontos localizados no planalto, apesar de terem sido encontrados também nas amostras coletadas na planície. Cunha (2003) avaliou o nível de contaminação de 37 pesticidas no sedimento de rio, coletados nos principais rios às bordas do Pantanal. A amostragem foi feita em duas épocas, novembro de 2001 e fevereiro de 2002, que corresponde ao início das chuvas e final das chuvas respectivamente. Este autor detectou alacloro, ametrina, clorpirifós, p,p’DDE, p,p’DDT, endossulfam sulfato, beta endossulfam, metolacloro, metoxicloro, metribuzim, simazina, terbutilazina, trifluralina. Dos princípios ativos detectados por Cunha (2003), da mesma forma, o metolacloro, o endossulfam sulfato e o clorpirifós foram também detectados em amostras de sedimento de fundo de rio avaliadas no presente estudo.

Miranda et al. (2008) verificaram a contaminação por resíduos de pesticidas nos sedimentos de fundo de 17 rios formadores do Pantanal, dentre eles, o Cuiabá, o São Lourenço e o Vermelho, que também foram avaliados no presente trabalho. Os compostos identificados em amostras de sedimento incluíram λ-cialotrina (1,0-5,0 μg kg-1),
p,p’DDT (3,6 μg kg-1), deltametrina (20,0 μg kg-1) e permetrina (1,0-7,0 μg kg-1). Os princípios ativos λcialotrina e permetrina também foram avaliados no presente estudo, entretanto, somente a λcialotrina foi identificada em amostras de sedimento de fundo de rio apresentando concentrações superiores àquelas verificadas por Miranda. Inseticidas piretróides têm sido detectados em sedimentos de fundo de rio em diversos países do mundo (Delgado-Moreno et al., 2011; Ensminger et al., 2013; Li et al., 2013; Toan et al., 2013) com destaque para a cipermetrina, deltametrina, bifentrina, λ-cialotrina e permetrina, sendo estas duas últimas detectadas no presente trabalho. Tal fato deve-se provavelmente ao uso intensivo dessa classe de pesticidas em diversas culturas associado aos elevados coeficientes de sorção (Koc entre 100.000 e 1.000.000 mL g-1) destas moléculas ao solo que contribui para seu carreamento para os cursos d’água associados ao particulado. Outros pesticidas detectados com frequência em sedimento por vários autores em diferentes regiões do mundo são o endossulfam (isômeros alfa e beta e seu principal metabólito sulfato de endossulfam) e o clorpirifós (Masiá et al., 2013; Miglioranza et al., 2013; Li et al., 2013; Silva et al., 2008).

Em estudo realizado no Pantanal por Laabs et al. (2007) no qual foi avaliada a dissipação de nove pesticidas usando mesocosmos, os autores observaram que o endossulfam beta seguido do metolacloro, atrazina, simazina e clorpirifós …..93 Resíduos de Pesticidas em Sedimento de fundo de rio … foram os mais persistentes nestes ambientes sendo que o endossulfam e o clorpirifós tenderam a se acumular no sedimento, o que explica a detecção dessas moléculas nas amostras analisadas“.

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