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Seca prolongada em 2024 e baixa pluviosidade em 2025 na sub-bacia do rio Miranda (MS) impacta o extrativismo

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Seca no rio Miranda, em Mato Grosso do Sul (2024). Foto: Fernanda Cano - Acervo Ecoa

A sub-bacia do rio Miranda, que drena para o Pantanal, enfrenta um cenário de grandes prejuízos sociais, econômicos e ambientais nos últimos anos. Incêndios, perda acentuada de vegetação nativa, a seca prolongada em 2024 e a baixa pluviosidade registrada em 2025 já causam impactos diretos na região, afetando a vegetação, a fauna e as atividades produtivas, como a pesca, a pecuária, a apicultura e o extrativismo de frutos nativos.

No Assentamento Andalucia, em Nioaque (MS), onde está localizado o Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação do Cerrado (Ceppec), os efeitos dessa situação são sentidos especialmente no agroextrativismo.

Água que não permanece no solo e safra de baru comprometida

Coletores extrativistas do assentamento relatam que, apesar das chuvas ocorrerem com certa regularidade na região, a água não se mantém no solo como antes. Açudes que costumavam se manter cheios por meses agora secam em poucas semanas. A ocorrência de ondas de calor cada vez mais intensas também tem afetado a produção do baru (Dipteryx alata), uma das principais fontes de renda da comunidade.

As árvores do baru chegam a ficar carregadas de flores, mas como estas são bastante sensíveis ao clima acabam abortando e impedindo a formação dos frutos. O resultado são dois anos consecutivos de safra comprometida (2023-2024). O mesmo ocorre com o pequi (Caryocar brasiliense), que também vem se tornando escasso.

Fome na fauna e impacto nas hortas

A redução da disponibilidade de frutos nativos também tem afetado a fauna silvestre. Durante a primeira oficina do projeto “Despertando o Viver no Cerrado: Mulheres Articulando em Rede”, as extrativistas e assentadas relataram que os animais estão invadindo suas hortas com mais frequência em busca de alimento.

A fome é tanta que os animais nem esperam mais os frutos e vegetais amadurecerem – “eles comem verde mesmo”. Rosana Claudina, do Ceppec, explica que por conta disso, no ano de 2024 eles decidiram não coletar o baru, “a produção foi muito pouca então deixamos para os animais”.

Pequenos criadores de gado também sentem os impactos

A pecuária de pequeno porte, uma das atividades mais praticadas no assentamento, também está sendo impactada. Devido à seca e o cenário de crescentes dificuldades para manter o gado, alguns criadores desistiram de suas atividades e chegaram a vender seus lotes.

A bacia do rio Miranda é uma das mais importantes sub-bacias do rio Paraguai e sua atual situação requer um trabalho cuidadoso para entender as consequências de eventos climáticos extremos sobre seus ecossistemas e as comunidades que dependem dela.

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