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Coleta de iscas – Base do turismo de pesca no Pantanal

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Mulheres coletoras de iscas (Foto: Iasmim Amiden)

Com o crescente turismo de pesca na região pantaneira, a demanda por iscas vivas fez com que algumas comunidades ribeirinhas se especializassem na coleta destas. Atualmente, as mulheres são maioria nessa profissão, assim a prática garante independência financeira para estas. As ‘isqueiras’, como são chamadas as coletoras de iscas, não possuem um ponto de coleta fixa, pois visitam diversas baías dependendo da oferta de iscas encontradas. 

Tuviras coletadas por isqueiras (Foto: Jean Fernandes)

Ao tratar da coleta de iscas, existem dois tipos básicos: “quebra” e “chama”.

A primeira coleta é realizada no período diurno quando é capturada a maioria das iscas, incluindo peixes e caranguejo. No procedimento, a tela é submersa e erguida rapidamente logo em seguida, para que fique retida parte da vegetação aquática com as iscas. 

Já a coleta “chama” tem como principal objetivo a captura de pequenos peixes chamados tuviras e é realizada no período noturno. Nessa modalidade de captura de isca é cortado um espaço suficiente na vegetação aquática para submergir a tela. Com esta submersa, as plantas são recolocadas no local. Para atrair a isca, são jogados cupins por cima da tela. Estalando os dedos na superfície da água, os isqueiros simulam a caída de alimento e ao perceber a presença dos peixes, eles levantam a tela rapidamente para capturá-los. 

Foto: Jean Fernandes

As insalubridades e riscos da profissão

Em algumas comunidades do Pantanal, a coleta de iscas é a principal atividade econômica desenvolvida. Para exercer a atividade, é necessário permanecer submerso em água por longos períodos, em turnos que podem durar até 10 horas. Tal situação faz com que riscos e insalubridades surjam. Além da ameaça de ataques de animais como jacarés, cobras e arraias, também há perigos para a saúde desse grupo.

Para minimizar os riscos, a solução viabilizada foi a distribuição de macacões de PVC. O trabalho da Ecoa para auxiliar essas profissionais ocorre desde 2000 e, desde 2012, o Ministério Público do Trabalho (MPT/MS) atua como parceiro para distribuir os equipamentos de proteção individual para as isqueiras

Antes do equipamento apropriado, as mulheres estavam expostas a doenças ginecológicas por falta de equipamento adequado, principalmente nos períodos de decoada, quando as águas apodrecem e ficam impróprias para uso.  

A base do turismo e as dificuldades

A coleta de isca é a base para outros setores econômicos importantes no Pantanal. A atividade das isqueiras relaciona-se diretamente com a cadeia produtiva da pesca e turismo de pesca. 

Com o aumento do turismo no Pantanal, muitos pescadores profissionais se especializaram na captura de peixes e crustáceos. A atividade foi regulamentada em Mato Grosso do Sul pelo Decreto n. 1.910 de 01/12/1998 e, posteriormente pelo Decreto n. 2.898 de 29/10/2004, que disciplinou a captura e a comercialização de iscas vivas. 

Com a pandemia e o consequente isolamento social, o turismo na região foi impactado fortemente, o que afetou diretamente o trabalho das isqueiras. 

Outro fator que trouxe grande impacto para a atividade é a seca extrema que atinge o Pantanal desde 2019. Com baías, lagos e corixos secos, a reprodução e disponibilidade das iscas caiu drasticamente, assim como a renda desses profissionais. 

Raquel Alves

Jornalista do núcleo de comunicação da Ecoa e comunicadora do projeto restauracción

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