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Chega de mato queimado!

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Ao chegar do trabalho na noite passada, tive a desagradável surpresa de encontrar a pequena área de serviço da casa onde vivo (de aluguel) cheia de fuligem de mato queimado. Um futuro vizinho, que está construindo seu pequeno castelo na rua de cima, ateou fogo no terreno em frente à sua obra, atrás de minha humilde residência. O vento trouxe as cinzas e a densa fumaça para o aconchego de meu lar.

Às roupas que estavam no varal, restam uma nova lavada após mais uma chamada à mensalista que faz a faxina de casa e lava as roupas da família. Fora esse gasto adicional que terei, motivado pelo egoísmo de meu futuro vizinho, não consegui dormir à noite. A casa ficou tomada pelo odor do mato queimado que penetrou cada fresta das janelas e parece incrustada em minha garganta. A fuligem passou pelo vão da porta dos fundos e sujou o piso da sala e da cozinha.

Após o relaxante banho pós uma bela segunda-feira “de branco”, constato que a felpuda toalha está impregnada do odor do fogo na relva. “Deus abençoe este incendiário”, pensei. Após a janta, tento dormir, mas já tenho até o gosto do mato queimado na garganta e nas vias aéreas.

Durante a insônia, quebro a cabeça pensando no que fazer para dar o troco ao tal futuro vizinho: espero ele se mudar e ponho fogo no mato novamente, pagando na mesma moeda? Ou vou até lá amanhã cedo, educadamente, tomar satisfação com ele? Ou será que mando confeccionar uma faixa com os dizeres “Respeite a vizinhança, não ateie fogo no terreno”, em frente à sua casa, para que talvez perceba que incomodou alguém? Ou tento mais uma vez um financiamento da casa própria, sonhando livrar-me de infortúnios como esse e me ver longe de situações como essa? (Se é que isso resolve…)

O fato fez-me lembrar de um tio no Rio de Janeiro, que quando os vizinhos levavam lixo para o canteiro da avenida em frente à casa dele, pegava o mesmo lixo e seguia-os, deixando os mesmos sacos catinguentos nas portas de suas respectivas casas. A ideia é boa, confesso. Porém no meu caso, não a mais apropriada, já que não vou tocar fogo na obra do vizinho.

Há duas semanas participei do lançamento da campanha Queimada Mata, idealizada pela organização não-governamental Ecoa (Ecologia e Ação), ocorrida na principal avenida da cidade. Infelizmente não vi muitas pessoas ali ajudando a difundir a idéia. Em bom número, apenas os engajados pela causa; no mais, alguns poucos simpatizantes. Por estar em sua sexta edição, numa cidade que em toda época de estiagem as queimadas e a baixa umidade relativa do ar são os assuntos preferidos em bares e elevadores, penso que a população deveria participar voluntariamente, afinal a iniciativa é para o bem-estar da comunidade. De qualquer forma, foi e está sendo muito válida.

Foi bacana de ver as pessoas aceitando a ideia, colando os adesivos em seus carros, levando os folhetos informativos para casa. Bacana também ver anúncios oportunistas nos jornais por parte de empresas que exploram o meio ambiente (e acham que com tais folhetins estão sendo vistos com bons olhos pelos seus consumidores). Mas será que a mensagem atinge seus objetivos?

O que fazer para mudar a cultura do povo de que essa forma rápida e simples de se desfazer de mato ou material acumulado em obras é nociva à saúde de homens e animais, além de causar prejuízos econômicos e materiais? Sinceramente, falta algo mais. Penso que as autoridades governamentais deveriam realizar uma força-tarefa, como fazem em relação ao combate à dengue, e à leishmaniose, por exemplo, com o objetivo de conscientizar a sociedade em relação aos perigos das queimadas.

Agentes de saúde passando de casa em casa, sim. Difundindo a educação ambiental. Multando aqueles que atearam fogo no terreno. Recomendando a população a denunciar os vizinhos egoístas que não pensam na roupa no varal dos outros.

Prega o artigo 54, da Lei Federal 9.605, de 12/02/1992 e o parágrafo 2º, do artigo 18, da Lei Municipal 2.909, de 28/07/1992, que queimada em regiões urbanas é proibida e pode levar o autor a responder por crime ambiental e à uma possível pena de reclusão de 2 a 4 anos.

Decidi não pagar na mesma moeda. Após vários telefonemas, descobri que para denunciar focos de incêndio em terrenos devemos ligar para o Disque Denúncia da prefeitura (3314-3562), e quando tiver conhecimento do causador do incêndio ligar para a Delegacia de Crimes Ambientais (DECA), da Polícia Civil, no fone: 3318-9010.

Prepare-se, futuro vizinho! Seja bem-vindo à comunidade.

Fabio Pellegrini* é jornalista, quer ir morar no mato, longe da comunidade.

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