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Fontes de renda afetadas no Pantanal são marcas permanentes dos incêndios

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Zezé é coletora de iscas e extrativista. Viu ambas atividades serem impactadas pelos incêndios e seca no Pantanal (Foto: Alíria Aristides)

Tudo na natureza está interligado. Isso significa que se um agente é afetado, outros também são. A seca e incêndios no Pantanal não afetam apenas a vegetação, os impactos desses acontecimentos se expandem para outros seres por um longo tempo. Quando o fogo se apaga os efeitos não desaparecem com as chamas. As fontes de renda de diversas famílias foram afetadas por esses fatores.  

A comunidade Porto da Manga é o lar de 47 famílias que vivem em casas de palafitas adaptadas para as cheias. A população vive da pesca, coleta de iscas, ecoturismo e extrativismo, mas essas atividades foram afetadas pela seca e incêndios.

Atualmente, a água que chegou no Pantanal não foi suficiente para alagar a planície, o que significa dizer que o ambiente continua seco e atividades que dependem da água estão inviabilizadas. Além disso, a vegetação da região está habituada à grande quantidade de água e sem esta não há frutos, afetando assim as atividades extrativistas da comunidade.  

Cozinha comunitária da Associação de Mulheres do Porto da Manga (Foto: Arquivo Ecoa)

A situação é crítica para as mulheres de Porto da Manga, já que suas duas principais fontes de sustento estão comprometidas: o extrativismo de frutos nativos e de iscas. A Associação de Mulheres da região trabalha com a extração da laranjinha de pacu, que é usada para produção de geleia e como isca, mas as árvores queimaram e algumas não se recuperaram até hoje devido aos incêndios e a seca.  

Situação atual

A Secretária Executiva da Rede de Mulheres Produtoras do Cerrado e Pantanal, Nathalia Ziolkowski, fez um levantamento em 2021 sobre a situação da laranjinha de pacu devido à sua relevância para geração de renda alternativa em comunidades ribeirinhas.

O fogo inviabilizou a produção que em 2020 foi de apenas três quilos de polpa. Em 2019, a produção foi de 90 quilos para a venda. Atualmente a situação é ainda mais crítica. Dona Elizete Garcia, pescadora e extrativista, relata que não há laranjinha.  

Fonte de renda das mulheres do Porto da Manga, produção com laranjinha de pacu foi inviabilizada (Foto: Nathália Eberhardt)

A seca que atinge o Pantanal desde 2019 é considerada a mais grave em meio século, segundo estudo do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) e a Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). Com a seca a probabilidade de queimadas aumenta. Só em 2020, mais de quatro milhões de hectares foram consumidos pelas chamas.  

Além do fogo que assolou a laranjinha também há a seca agravando a situação. A laranjinha nasce às margens dos rios e necessita de muita água. Com a seca, os frutos não se desenvolvem como deveriam e estão muito menos do que o normal.

À esquerda, tamanho normal da laranjinha de pacu. À direita, frutos não desenvolvidos devido aos incêndios e seca (Fotos: Alíria Aristides)

 “Ela gosta muito de beira de rio. Com a seca e incêndios, muitas morreram, queimaram, ficaram sem as folhas. Demora muito tempo para ela brotar e ela sente muito sem água” – relata Mara Soares, moradora do Porto da Manga. 

Dona Elizete também conta que não há iscas. Junto com uma amiga, a pescadora foi realizar uma coleta de isca e após passar a tela aproximadamente 50 vezes, apenas 13 caranguejos foram coletados. Tal situação demonstra o cenário crítico que a comunidade enfrenta ameaçando assim sua sobrevivência.  

Mulheres coletoras de iscas (Foto: Iasmim Amiden)

 O alerta para incêndios 

A maior planície alagada do mundo necessita de água para sua dinâmica. Sem a água para alagar a região, surge uma extensa área de vegetação com imenso potencial combustível para os incêndios. Além disso, o trabalho de contenção do fogo pode ser prejudicado em regiões onde os corixos, canais e baías estão sem água ou trancados por vegetação, impedindo a chegada de brigadistas para combater as chamas.

O cenário é preocupante ao associar com a previsão de baixa precipitação na região apresentada no Boletim Semanal de Monitoramento Hidrológico da Bacia do Rio Paraguai. 

Comunidades como a de Porto da Manga ainda lidam com os efeitos de incêndios que ocorreram em anos anteriores, por isso o alerta para o cenário nunca se fez mais necessário.  

Raquel Alves

Jornalista do núcleo de comunicação da Ecoa e comunicadora do projeto restauracción

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