“Nada impacta mais o clima global do que os fenômenos La Niña e El Niño” – NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) dos Estados Unidos.
Alcides Faria
Diariamente nos chegam informações sobre o clima e previsões para os próximos meses baseados nos famosos La Niña e El Niño, mas que são eles exatamente e por que influenciam tanto eventos climáticos no Brasil e na América do Sul, principalmente cheias e secas? É o que tentaremos responder a seguir de maneira simplificada.
As flutuações de temperatura relacionadas com o ENSO (El Niño Southern Oscillation) no Pacífico tropical, que têm impactos de grande alcance nos climas sazonais, não se referem a uma temperatura específica. Na verdade, trata-se de temperaturas relativas – determinada região estar mais quente ou mais fria do que o habitual e o caos climático que ocorre quando se foge do “normal”.
A definição operacional da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) dos Estados Unidos das condições de El Niño e La Niña é básica: temperaturas sazonais 0,5°C mais quentes (El Niño) ou mais frias (La Niña) do que a média no Pacífico tropical central. Uma “temporada” é qualquer média móvel de 3 meses: dezembro-janeiro-fevereiro, janeiro-fevereiro-março e assim por diante. O Centro de Previsão Climática mantém um registro online de todas as anomalias sazonais de temperatura desde 1950.
Durante um evento El Niño, as águas superficiais no centro e leste do Oceano Pacífico tornam-se significativamente mais quentes do que o normal. Essa mudança está intimamente ligada à atmosfera e aos ventos que sopram sobre o vasto Pacífico. Os ventos alísios de Leste (que sopram das Américas em direção à Ásia) variam e podem até virar ventos de Oeste. Isto permite que grandes massas de agua quente fluam do Pacífico Ocidental em direção às Américas. Também reduz a ressurgência de águas profundas, mais frias e ricas em nutrientes, interrompendo ou revertendo as correntes oceânicas ao longo do Equador e ao longo da costa oeste da América do Sul e Central.
A circulação do ar acima do Oceano Pacífico tropical responde a esta tremenda redistribuição do calor oceânico. Os sistemas tipicamente fortes de alta pressão do Pacífico oriental enfraquecem, alterando assim o equilíbrio da pressão atmosférica no Pacífico oriental, central e ocidental. Enquanto os ventos de Leste tendem a ser secos e constantes, os ventos de Oeste do Pacífico tendem a ocorrer em rajadas de ar mais quente e úmido.
Devido à vastidão da bacia do Pacífico – que cobre um terço do planeta – estas alterações do vento e da umidade são transmitidas para todo o mundo, perturbando os padrões de circulação, como as correntes de jato (fortes ventos de níveis superiores). Sabemos que estas mudanças em grande escala nos ventos e nas águas do Pacífico iniciam o El Niño. O que não se sabe é o que desencadeia a mudança. Isso permanece um mistério científico.
Texto elaborado com base em publicações do NOAA, com tradução livre de alguns trechos.