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A proteção do Pantanal precisa ir além das fronteiras políticas

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Pantanal em chamas. Imagem: Jean Fernandes

O Pantanal é um dos maiores patrimônios da humanidade, inclusive com parte dele reconhecido pela Unesco como Reserva da Biosfera. Não há como proteger essa região de cerca de 190 mil km² sem ter estratégias e ações que integrem Bolívia, Paraguai, e outros países, pois ela é parte do maior sistema de áreas úmidas do Planeta – o Sistema Paraguai Paraná de Áreas Úmidas, distribuído entre Bolívia, Paraguai, Brasil, Argentina e Uruguai – afinal, a natureza não reconhece fronteiras.

As queimadas são uma das principais ameaças ao Pantanal.  A incidência do fogo no Pantanal pode ser um problema sobretudo em um ano como  2024, marcado por extremos climáticos e a intensificação de um El Niño, que entre abril até junho deverá se converter em uma La Nina, segundo informações de 14 de março da NOAA  (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional). Dados da Agência apontam que o atual El Nino caminha-se para uma frase neutral e lá por julho teremos o início do La Ninã, com o resfriamento das águas do Pacífico.

Nada impacta mais o clima das paisagens do Centro Oeste Brasileiro que a alternância desses dois fenômenos. Conhecidos como “anomalias” na temperatura da superfície do Pacifico.  “Durante os incêndios que devastaram o Pantanal entre 2020 e 2021 prevalecia o La Niña, ocasião em que 26% do território foi consumido pelas chamas”, relembra Alcides Farias, diretor da ECOA.

O diretor da Ecoa, Alcides Faria.

Buscar  estratégias conjuntas para evitar que queimadas se tornem incêndios de grandes proporções é a principal razão para se promover o diálogo entre os governos e instituições do terceiro setor dos países que abrangem o Pantanal. Esse também foi um dos objetivos do Curso de SCI 200 para as instituições parceiras/resposta aos incêndios florestais no Pantanal”, que aconteceu entre 12 a  14 de março, em Corumbá (a 426 km de Campo Grande). 

Profissionais de combate ao fogo no curso de SCI200 em Corumbá.

Cerca de  30 profissionais de combate ao fogo  participaram da iniciativa viabilizada pela ECOA por meio do projeto Restauracción, com apoio do Serviço Florestal Canadense.  “Os incêndios florestais não reconhecem fronteiras geográficas e políticas. É importante ter pessoas dos países que também abrangem o Pantanal, como a Bolívia. Vemos também que países que não sofriam com frequência incêndios florestais como a Colômbia, agora enfrentam esses problemas. Por isso faz-se tão necessária essa troca com nosso parceiros latinos”, explica André Nunes, coordenador do projeto Restauracción executado pela Ecoa. 

André Nunes, coordenador do projeto Restauracción da Ecoa.

Uma das cenas que melhor representou esse alerta foi registrada no dia 02 de fevereiro. Imagens de satélite do Firms (Fire Information for Resource Management System), sistema de monitoramento da NASA (Agência espacial dos Estados Unidos) mostram as chamas tomando grande parte do norte da América do Sul.

Para a pesquisadora e bióloga colombiana, Suzana Rodriguez Buritica, do Instituto Humboldt, o curso foi uma oportunidade para se repensar como funciona a organização de um combate aos incêndios florestais. “Na região onde atuamos o fogo tem atingido sobretudo pequenas comunidades e produtores familiares. Por isso, foi muito importante para nós compreendermos como as brigadas comunitárias podem integrar um sistema maior de resposta ao fogo”.

Para Pedro Pablo Ribera, da Fundação Amigas de La Naturaleza, a reunião em Corumbá também proporcionou a chance de trocar informações com diferentes atores que participam do sistema de combate a incidentes no Brasil. “Estavam presentes o Corpo de Bombeiros Militar dos dois estados do Pantanal e representantes do Ibama-prevfogo. É muito bom ter esse contato, muitas vezes estamos combatendo incêndios na Bolívia que vem do Brasil, e vice-versa, mas a falta de conhecimento e burocracia impedem as brigadas de atravessarem as fronteiras. O que dificulta muito controlar ou combater um incêndio antes que este tome grandes proporções.”, diz Pedro Pablo.

Pablo Pedro Ribera, da Fundação Amigas de La Naturaleza, Bolívia

Os incêndios são a maior ameaça à integridade  do Pantanal. Cerca de 57% da região já foi atingida por incêndios entre 1985 e 2020, segundo dados do Map Biomas.  As queimadas recorrentes podem secar essa imensa área úmida, que hoje funciona como um reservatório de água no coração da América do Sul, sendo refúgio de espécies de flora e fauna e um regulador do clima do país. 

 

Juliana Arini

Jornalista

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