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A vila que vai sumir sob o Rio Madeira

2 minutos de leitura

Texto originalmente publicado em: 16/03/09

O distrito de Mutum-Paraná, a 200 quilômetros de Porto Velho (RO), vai desaparecer do mapa. A escola, o posto de saúde, a base da Polícia Militar e as 458 propriedades que formam o lugarejo fundado no fim do século 19, durante o primeiro ciclo da borracha, vão sumir debaixo das águas do Rio Madeira até 2011, após seu represamento a alguns quilômetros acima, onde é construída a Usina Hidrelétrica Jirau – um dos maiores projetos em andamento na área de energia do governo federal.

“Se eu pudesse escolheria ficar aqui, que foi onde tive meus três filhos e é de onde tiro meu sustento. Aqui trabalho com a madeira e, se falta dinheiro, vou até o rio e pesco o que vamos comer”, diz Odilson de Souza Lima, de 55 anos, conhecido como Amazonas.

Na quinta-feira, as atenções estiveram voltadas para as obras de construção da usina que já emprega 1.100 pessoas e pode criar até 12 mil postos de trabalho diretos nos próximos anos – uma verdadeira revolução para uma região em que as pessoas tentam sobreviver com o extrativismo da madeira e do ouro e da pesca.

O megaempreendimento, encravado no coração da selva amazônica, no vizinho distrito de Jaci-Paraná, recebeu a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mutum-Paraná, a 50 quilômetros dali, ficou fora da agenda presidencial.

Uma hora depois da passagem do presidente pelas obras da usina, a reportagem do Estado visitou o povoado. Mais de 1.800 pessoas ainda moram no local. As casas são de madeira, as ruas maltraçadas, de terra barrenta.

Mutum-Paraná surgiu com a extração da borracha. Desde lá, o vilarejo viveu fases alternadas de esquecimento e bonança, como durante as obras da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré ou com o período mais recente da febre do ouro. Atualmente é a extração da madeira a principal ocupação dos moradores.

(Foto de capa de Wilson Dias via International Rivers)

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