Bolívia: riscos de construção de hidrelétricas no Rio Madeira

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Texto originalmente publicado em: 27/05/09

Especialistas de cinco países advertiram que a construção das usinas de Santo Antônio e de Jirau, que juntas formam o Complexo Hidrelétrico no rio Madeira, na fronteira com a Bolívia, provocará inundações na Amazônia boliviana e afetará economicamente 16 mil famílias.

As inundações podem provocar um aumento de doenças tropicais, como a malária, e uma redução gradual da pesca amazônica, com efeitos negativos não apenas pela perda de terras de cultivo e pastagem.

Especialistas de Bolívia, Brasil, Equador, Estados Unidos e França se reuniram em La Paz, por iniciativa do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD, sigla em inglês) e do Fundo Mundial para a Natureza (WWF, sigla em inglês), para avaliar o impacto das hidroelétricas próximas à fronteira com a Bolívia.

O fórum se baseou em trabalhos de pesquisa sobre os possíveis impactos econômicos, sociais e ambientais que serão acarretados pela construção das usinas no rio Madeira.

Segundo Marc Pouilly, do IRD, “existem dados que prevêem que as inundações afetarão atividades de aproveitamento de recursos naturais e aumentarão doenças como a malária, a febre amarela e a dengue”.

Pouilly advertiu, no entanto, que ainda devem ser feitos estudos para estimar a extensão da área de selva amazônica que pode ser inundada.

Paul Van Damme, da associação Faunagua, ressaltou que outro impacto será a redução gradual da pesca, pois 80% dos peixes da região são migratórios e algumas espécies de alto valor comercial e de subsistência serão afetadas.

“A diversidade, população e tamanho dos peixes vão diminuir consideravelmente depois das represas” construídas na região tropical, afirmou Miguel Petrere Júnior, da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Jean Remy Davée Guimarães, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse, por sua vez, que outros impactos observados em represas nas regiões tropicais são a deflorestação da área e, do traçado de linhas de transmissão, a contaminação por herbicidas para a manutenção dessas linhas, a retenção de sedimentos e a erosão das ribeiras do rio.

No caso do Brasil, 65% da população na área do Madeira (se estimam 1,1 mil famílias) terá que se mudar deixando seu habitat natural e seus bens materiais, segundo Manuel Antonio Valdez, da Universidade Federal de Rondônia.

A diretora do IRD, Marie-Danielle Demelas, reconheceu o papel importante das represas para o desenvolvimento humano, mas lembrou que, em muitos casos, essas construções geraram “um custo inaceitável” e freqüentemente desnecessário em termos sociais e ambientais.

Em março deste ano, o vice-ministro do Meio Ambiente boliviano, Juan Pablo Ramos, expressou “preocupação” pelo efeito da construção das usinas hidroelétricas de Santo Antônio e Jirau, situadas perto da fronteira com a Bolívia.

Logo após o anúncio dos projetos, em 2006, organizações não-governamentais, como o Foro Boliviano de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Fobomade), haviam denunciado os impactos ambientais que as hidrelétricas de Jirau, a cerca de 50 quilômetros da fronteira com a Bolívia, e de Santo Antônio, próximo a Porto Velho, em Rondônia, causariam ao país.

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