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Centro-Oeste perde mais com clima quente, diz estudo

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Texto originalmente publicado em 08/02/10

O Centro-Oeste sofrerá as maiores perdas econômicas do Brasil, em termos proporcionais, com aquecimento global. Até 2050, o prejuízo pode atingir R$ 639 bilhões, o equivalente a dois anos e meio de crescimento. Só em Mato Grosso, principal polo do agronegócio da região, o valor chega a R$ 333 bilhões. É como se o Estado parasse de gerar riquezas durante mais de cinco anos.

As informações fazem parte de uma nova etapa do estudo “Economia do Clima”, que no fim do ano passado estimou prejuízo de até R$ 3,6 trilhões nos próximos 40 anos em todo o Brasil. Um novo relatório, com lançamento oficial previsto para o primeiro trimestre, detalha onde e como acontecerão os estragos.

Agricultura

Em entrevista à Folha, Carolina Dubeux, coordenadora operacional do projeto (que reúne 11 instituições de pesquisa), adiantou alguns resultados. Segundo a pesquisadora da Coppe/UFRJ, os indicadores demonstram uma diminuição significativa das áreas “aptas às culturas alimentares”.

Sobretudo por conta do clima mais quente e seco e do acesso à água mais limitado.

O estudo baseia-se em dois cenários do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) -um com emissões menores de gases-estufa, outro com emissões maiores. A medida de comparação é o PIB, soma de todas as riquezas produzidas, de 2008.

No Nordeste, as áreas de cultivo podem encolher 23% até 2070. No pior cenário, a região perde R$ 653,7 bilhões, quase duas vezes seu PIB de 2008. Alagoas tem prevista a maior perda relativa da região (R$ 95 bilhões), quase cinco anos de crescimento jogados fora.

No Norte, as quedas variam entre R$ 91,6 bilhões e R$ 267 bilhões. Roraima, cujo PIB (de R$ 4,2 bilhões) é o menor do Brasil, perderá, no mínimo, o equivalente a 14 meses de produção. Na pior hipótese, amargará estragos comprometendo três anos de sua economia.

O estudo alerta que a redução nas áreas de cultivo aumentará a pressão sobre as florestas nativas. A expansão do pasto também é uma preocupação, afirma Dubeux. “As pastagens têm baixa produtividade, mas em algumas regiões, elas serão uma opção tentadora para substituir as lavouras. É uma situação preocupante.”

Tanto o Nordeste quanto o Norte enfrentarão ondas de calor. A quantidade de chuvas também deve diminuir, reduzindo a vazão dos rios e, assim, prejudicando a geração de energia. Embora o estudo não detalhe quais seriam os impactos específicos em cada empreendimento, as bacias hidrográficas que alimentam as três maiores hidrelétricas planejadas ou em construção no Brasil -Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, e Belo Monte, no Pará- poderiam ser afetadas.

A redução nas vazões também deve chegar ao Centro-Oeste, onde, segundo o Plano Decenal de Energia, Goiás receberá 15 novas hidrelétricas nos próximos oito anos.

Poluição atrai poluição

“Precisaremos de investimentos muito grandes para compensar os efeitos negativos da redução dos recursos hídricos”, diz a coordenadora do estudo, que aponta uma queda de até 31,5% da capacidade de geração de energia firme [aquela garantida mesmo sob condições climáticas adversas].

A dificuldade para gerar energia nos rios deve impulsionar o uso das usinas termelétricas, mais poluentes.

Segundo Eduardo Haddad, professor da USP e coordenador de modelagem econômica da pesquisa, isso aumenta a dependência do uso do petróleo e seus derivados, “amenizando parte do impacto econômico nos Estados produtores”, como Rio de Janeiro e Sergipe. As consequências ambientais, por outro lado, podem se agravar com a energia “suja”.

A agricultura, pilar econômico da região Centro-Oeste, deve sofrer efeitos em todas as culturas. As áreas favoráveis à produção de arroz e feijão podem encolher 12% e 10% respectivamente até 2050. As plantações de soja também serão afetadas, com redução de área potencial de até 34%.

(Foto de capa:  Xavier Coiffic via Unsplash)

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