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Chuvas recentes não livram Pantanal de seca severa

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Na seca dos últimos anos, em alguns trechos do rio Paraguai era possível atravessar a pé Imagem: Alíria Aristides/acervo Ecoa

As chuvas das últimas semanas no Pantanal não foram suficientes para recuperar a planície de uma possível grande estiagem. Apesar de um início de abril chuvoso, a região do rio Miranda, entre Guia Lopes da Laguna e Bonito, em Mato Grosso do Sul, segue com bancos de areia visíveis nos trechos urbanos. 

Segundo o levantamento do Boletim de Monitoramento Hidrológico da Bacia do Rio Paraguai (SAH Paraguai – Pantanal), publicado no dia 02 de abril pelo Serviço Geológico do Brasil, quase todos os rios que formam o Pantanal apresentam medições abaixo do índice da normalidade.  

Na Bacia do Alto Paraguai (BAP), em Mato Grosso, que proporciona mais da metade das águas do Pantanal, as medições oficiais mostram que o rio Paraguai nas cidades mato-grossenses de Barra do Bugres e Cáceres está quase dois metros mais baixo do que a média histórica para o período. Mesmo os rios Manso e Cuiabá, que têm vazão impactada pelo reservatório da hidrelétrica de Manso, tiveram uma pequena recuperação, mas voltaram a declinar como mostram os números da estação de medição do Rio Cuiabá no Boletim de Monitoramento do início de abril.

O Pantanal é uma região megadiversa que depende do pulso das águas de seus rios. Desta forma, a água que nasce no planalto corre para baixo se espraiando pela planície inundável e carreando o que estiver pelo caminho. Um balanço de águas que dita um ritmo de vida complexo, delicado e muitas vezes cercado de eventos violentos, como terremotos, e alternância constante de cheias e secas.

“O Pantanal não é um paraíso idílico onde homem e natureza se encontram; formou-se com extremos eventos e segue convivendo com estes – como terremotos, cheias e secas.  Sua parte biológica é especial por ser um território de encontros de biomas. Mas, às vezes parece as portas do inferno – com mosquitaria que impede até de se abrir a boca; sua conformação sociopolítica deu-se violentamente, com guerras entre povos e a eliminação de muitos grupos  pelos portugueses. Quando pensamos em uma seca como a que se anuncia precisamos levar todos esses fatores em consideração “, afirma Alcides Faria, diretor da ECOA.

Alcides Faria, diretor da Ecoa

A seca nos rios que formam o Pantanal em 2024 já atinge toda a planície.  A situação mais grave pode ser verificada na régua da Marinha fixada na cidade de Ladário, que está com 1,12m,  com 72cm abaixo da seca de 2020, que até então tinha sido a pior seca dos últimos 50 anos. A medição atual mostra o declínio da vazante do rio Paraguai nos últimos quatro anos na região de Corumbá. No início de abril, em 2020, o rio tinha 1,65 metros de profundidade, em 2021, 1,64 metros, em 2022 estava com 1,68m,  em 2023, 2,07m e neste ano, 2024, não chega a um metro, com 84 centímetros.

Régua de Ladário, fixada no rio Paraguai na base da Marinha. Foto tirada em 14 de março de 2024, quando a régua marcava menos de 90 centímetros. Imagem Juliana Arini/ECOA

 

Os dados mais precisos para se verificar se as águas da planície estão de fato conseguindo atingir as baías pantaneiras estão nas medições da régua de Bela Vista do Norte, mas em 2024 os números desta região não foram publicados pela Marinha. Porém, em Porto Murtinho, o último ponto de medição, a situação segue a mesma de toda bacia hidrográfica. O rio Paraguai está abaixo da média histórica, com 96 cm a menos do que apresentou na seca de 2020, a pior dos últimos 60 anos. 

Para Alcides Farias, coordenador da ECOA, a seca traz problemas além do abastecimento das cidades e da navegação. Com pouca água e clima seco o risco de grandes incêndios torna-se quase iminente. “Primeiro tivemos o El Niño, que acabou proporcionando incêndios fora de época no ano passado, e agora  essa mudança de El Niño para La Niña. Devemos nos preparar para que se faça a prevenção aos incêndios. As chuvas na Bacia do Alto Paraguai, onde estão as águas que abastecem o Pantanal, são muito pequenas. E o nível do rio Paraguai está muito baixo”, analisa o diretor da Ecoa.

Para mitigar os incêndios que são uma das maiores ameaças ao Pantanal, a ECOA realizou em março, por meio do projeto Restauracicón, Paisagem Modelo Pantanal, com apoio do Serviço Florestal do Canadá.  um curso de formação para 30 entidades e brigadas que atuam no Pantanal. 

 

Juliana Arini

Jornalista

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