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O rio Madeira e a grande seca na bacia Amazônica – é preciso atenção além do território brasileiro

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(Foto: Ariom Alejandra - Wikimedia Commons / https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Caudal_de_r%C3%ADos_de_Villa_Tunari.jpg)

Por Alcides de Faria, Diretor da Ecoa.

“O Madeira é um rio subestimado a nível global, mas é tão grande como o Yangtzé, na China, em vazão líquida. Os rios que vêm dos Andes se juntam perto da fronteira brasileira e terminam em um funil”. Edgardo Latrubesse, geólogo e professor da Universidade Federal de Goiás, em matéria do National Geographic.

A grave seca na bacia amazônica evidenciada diariamente em meios de informação nacionais e internacionais, teve na sub-bacia do rio Madeira uma mostra ampla dos problemas trazidos por eventos climáticos extremos determinantes para excessos ou escassez de água.

O rio atingiu seu nível mais baixo desde o início da medição há 50 anos: 1,19 metros, o que fez com que os ribeirinhos ficassem sem água potável em seus poços, prejudicou a navegação até Manaus, aumentando o tempo de viagem, e uma hidrelétrica deixou de gerar energia.

A seca na Amazônia e o quadro específico do rio Madeira tem como causa indicada alterações climáticas trazidas pelo aquecimento das águas do oceano Pacifico, fenômeno denominado “El Niño”, apontado desde 2022 por cientistas da área. Ao El Niño são atribuídos outros eventos extremos em diferentes regiões do Chile, Peru, Bolívia, Brasil, Argentina e Paraguai durante 2023.

No Brasil, não é comum ter-se em conta que a grande bacia do rio Madeira é compartilhada com Bolívia e Peru, sendo metade da área localizada na Bolívia, 10% no Peru e 40% no Brasil. As cabeceiras dos rios formadores (Beni e Mamoré) se localizam na cordilheira dos Andes, sendo Cochabamba na Bolívia a mais distante – são 3.300 km de extensão das nascentes até a foz. O Madeira agrega cerca de 15% de toda a água e sedimento descarregado no Atlântico pelo rio Amazonas, sendo, em razão disso, o maior tributário.

As maiores cidades localizadas na bacia do Madeira são La Paz (dois milhões de habitantes na região metropolitana), Santa Cruz de La Sierra (dois milhões) e Cochabamba (um milhão), todas localizadas na Bolívia, e Porto Velho (500 mil) no Brasil.

As indicações de que a crise na bacia estava em “preparação”

Afora as informações amplamente disponíveis sobre o aquecimento das águas do Pacífico, há uma indicação clara de que alterações climáticas extremas ocorreriam desde o ano de 2022. Na Bolívia, nas regiões das cabeceiras dos rios formadores do Madeira, a falta de chuvas e problemas trazidos pela pouca precipitação de neve durante o inverno, acarretando em menor contribuição das águas do degelo para lagos e cursos de água abastecedores de Cochabamba e El Alto, por exemplo, estavam noticiados há meses.

Conclusão

As indicações do forte El Niño e o que ocorre há meses na Bolívia deveriam ser consideradas pelo governo brasileiro para tomada de medidas preventivas e mitigatórias em diferentes áreas. Neste momento as indicações são de que o quadro crítico deve seguir nos próximos meses, com informações sobre a possibilidade de um “Super El Niño”, o que, caso se configure, poderá colocar em cena mais um elemento desastroso para a Amazônia e todo o país: os grandes incêndios.
Entendemos que é fundamental que os governos da América do Sul se associem para desenvolver suas capacidades de entendimento das crises trazidas pelas alterações climáticas em seus territórios, principalmente nas bacias hidrográficas compartilhadas. Universidades e instituições de investigações nas áreas de clima e hidrografia são fundamentais nesse processo, que deve contar com o apoio de instituições como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

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