Sem água e comida, comunidades da Amazônia clamam por socorro

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Edmar Barros/Agência Pública

Combinando mudanças climáticas e El Niño, pior seca amazônica dos últimos 40 anos provoca um drama humanitário que atinge a vida de milhares de ribeirinhos.
Nascido e criado na área ribeirinha de Manacapuru (AM), o pescador e barqueiro Arnoldo Paiva, de 43 anos, lamenta o tapete formado no Lago do Piranha por milhares de peixes mortos, efeito da estiagem no rio Solimões. O município é um dos 19 em estado de alerta no Amazonas.
A casa do barqueiro é uma das flutuantes da comunidade de pescadores na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Piranha. Por passar mais tempo no rio que em terra firme, aprendeu a entender os sinais do Solimões, nas cheias e vazantes. E atesta que a estiagem de agora é incomum. “A seca está mais forte, mas se parar de descer (o nível do rio) em Manacapuru, não morre mais peixe. Mas se não parar…”, diz Paiva à Agência Pública.
A Agência Pública e o Amazônia Real apresentam o drama de famílias amazônidas atingidas pela seca extrema que atinge a região. Na capital amazonense, Manaus, e em cidades do entorno milhares de pessoas estão com suas vidas comprometidas por causa da estiagem. Com rios e lagos se transformando em leitos secos repletos de pedra e lama, os peixes, principal fonte de proteína dessas pessoas, estão morrendo. Falta água potável. E o deslocamento hidroviário, o principal meio de transporte da região amazônica, torna-se um desafio, dificultando tanto a chegada de suprimentos como a comercialização das produções locais.
É o que vem acontecendo com proprietários de barcos e lojas flutuantes do Lago Puraquequara. Como mostra a Folha, a vida está paralisada na vila flutuante do lago, agora encalhada em planícies lamacentas. Os barcos a motor inclinam-se na lama, não mais trazendo peixes, frutas e legumes, nem levando turistas para ver o encontro das águas dos rios Negro e Solimões, onde formam o rio Amazonas, próximo a Manaus. As coisas pioraram tanto no lago que há pouca água para beber ou cozinhar. Ivalmir Silva passou um dia inteiro cavando um poço no lodaçal seco para tentar conseguir água.
A estiagem mata peixes, botos e também gado, afetando principalmente os pequenos pecuaristas da região amazônica. Segundo Carlos Madeiro, do UOL, a falta de chuvas levou os reservatórios a praticamente secarem, assim como acabou com pasto dos animais. Com fome e sede, vacas e bois buscam reservatórios com resto de água e acabam morrendo atolados nesses locais, onde tentam amenizar o calor.
Sem chuvas, quatro dos seis principais rios da Bacia Amazônica, a maior do mundo, chegaram ao nível mais baixo já registrado no histórico de medições para o mês de setembro, segundo um relatório do Sistema Geológico Brasileiro (SGB) e da Agência Nacional de Águas (ANA) ao qual o g1 teve acesso. A estiagem recorde atinge os rios Amazonas, Negro, Branco e Purus. Situação semelhante também ocorre com o Rio Madeira, lembram CNN e BNC Amazonas. Em todos os casos, os níveis da água estão caindo numa vazão incomum, mesmo para um período de estiagem.
E a seca tende a se agravar. As previsões indicam que o volume de chuva vai seguir abaixo da média para a temporada até o fim de outubro. Aos poucos, o déficit de chuva deve se deslocar para a porção mais ao leste e ao norte da Amazônia, pegando também o semiárido nordestino.
O quadro só deve começar a apresentar alguma melhora em novembro. Mas há o risco de se estender até dezembro ou mesmo janeiro, conforme projeções da ANA, relata o Poder 360.

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