Hoje celebramos o dia do Pantanal, uma convenção criada em 2008, pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e uma lei estadual de Mato Grosso do Sul (nº 5.518, de 2 de junho de 2020), que além de instituir o dia do Pantanal homenageia Francisco Anselmo de Barros, ambientalista sul-mato-grossense que ateou fogo em seu próprio corpo, em 2005, durante manifestação, que ocorreu em Campo Grande (MS), contra a instalação de usinas de álcool no Pantanal.
Francelmo, como era chamado, foi um grande aliado da Ecoa. Entenda mais as circunstâncias de seu protesto, que o poeta Manoel de Barros considerou um ato heroico, aqui.
A Ecoa atua no Pantanal desde sua fundação, em 1989, com pesquisa, organização social, defesa da socio-biodiversidade e monitoramento de grandes obras de infraestrutura e seus impactos. Além disso, a organização integra a Rede Pantanal e é responsável pela sua direção executiva. A Rede Pantanal é um coletivo formado em 2002 com o intuito de reunir entidades e comunidades em prol do desenvolvimento sustentável do Pantanal.
A Ecoa no Pantanal: Comunidades, monitoramento de projetos de infraestrutura e o combate aos incêndios
A Ecoa possui duas bases físicas no Pantanal: uma no Porto da Manga, localizada à jusante de Corumbá (Mato Grosso do Sul), e outra no Porto Amolar, localizada também no distrito de Corumbá, onde foi instalada uma mini-usina de tratamento de água e conta com energia solar e internet. Conheça mais aqui.
No que tange às comunidades tradicionais pantaneiras, a Ecoa atua junto aos coletores de iscas, de frutos da biodiversidade e mulheres artesãs, beneficiando suas atividades econômicas, e lidera processos de estruturação de organizações, como associações, por meio de duas metodologias: Desenvolvimento Integral de Comunidades e Construção de parcerias e alianças. Conheça mais sobre a atuação da Ecoa junto às comunidades aqui.
Acerca do monitoramento de grandes projetos de infraestrutura no Pantanal e seus impactos, a Ecoa milita contra a construção da Hidrovia Paraguai-Paraná, contra a instalação de usinas de álcool e açúcar e contra a instalação de represas.
Este ano, articulação da Ecoa com outras organizações não-governamentais levou para o maior congresso mundial sobre a conservação da natureza, da União para a Conservação da Natureza (IUCN), moção que reconhece impactos de hidrelétricas na bacia do rio Paraguai e a necessidade de programas de apoio de instituições internacionais para a região e o Sistema Paraguai-Paraná de Áreas Úmidas.
E quanto aos incêndios, que preocupam principalmente no período de seca do Pantanal, que tem início em maio e vai até setembro, a Ecoa iniciou suas ações de combate, em 2000, com a campanha Queimada Mata!, e, a partir de 2006, partiu para a articulação de formação de brigadas comunitárias voluntárias, junto ao Prevfogo/Ibama.
Ao todo, a Ecoa articulou a formação de 17 brigadas comunitárias, totalizando 125 pessoas treinadas para combater o fogo no Pantanal – somente este ano, a Ecoa articulou a formação de cinco brigadas comunitárias, em aldeias indígenas e comunidades de pescadores, em parceria com o WWF-Brasil.
Veja breve depoimento de Alcides Faria, diretor executivo da Ecoa, acerca do combate aos incêndios no Pantanal:
A Ecoa também produz conhecimento científico relacionado ao Pantanal. O diretor científico da organização, Rafael Moraes Chiaravalloti,
pós-doutorando pelo Smithsonian Institution, dos Estados Unidos, e pesquisador do Emperial College de Londres, vem publicando diversos artigos a respeito, por exemplo, da metodologia Ciência Cidadã e do aplicativo Sapelli, e sobre práticas sustentáveis na pesca artesanal.
Desafios enfrentados em 2021
Este ano, o Pantanal enfrentou a falta de alimentos em decorrência da falta de trabalho que a pandemia provocou, a dificuldade de acesso à vacinação contra a COVID-19, incêndios que destruíram 990 mil hectares, a pior seca dos últimos 50 anos e ameaças à sua socio-biodiversidade em decorrência de projetos de instalação de usinas hidrelétricas no rio Cuiabá, um dos afluentes do rio Paraguai, projetos que foram, felizmente, barrados pela justiça de Mato Grosso.
Em cooperação com o Ministério Público do Trabalho (MPT); da Comitiva Esperança (CE); da Ação pela Cidadania e da Legião da Boa Vontade (LBV) e municipalidades como a de Corumbá (MS), a Ecoa articulou a distribuição de 16.500 quilos de alimentos, 6.000 litros de água potável e 4.500 máscaras protetoras e kits de higiene. Todo o sistema de comunicação e cooperação com emissoras de rádio que alcançam o Pantanal foram utilizados para informar as pessoas sobre cuidados nas cidades pantaneiras e nas regiões mais distantes.
A organização pressionou órgãos públicos para a vacinação dos grupos prioritários, nos quais se enquadram os ribeirinhos, e ela ocorreu a partir do dia 13 de abril.
A Ecoa monitorou os focos de incêndio na região, com base em dados oferecidos pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) e pela plataforma ALARMES, do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA), da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Os incêndios deste ano ameaçaram 990 mil hectares, um número menor do que os 4,5 milhões de hectares destruídos pelo fogo no ano passado, mas, ainda assim, preocupante.
Estamos acompanhando a seca enfrentada pelo Pantanal e produzindo notícias como esta aqui.
E, para além dos desafios enfrentados, não podíamos deixar de nos alegrar com uma conquista: depois de grande campanha contra a instalação de seis represas no rio Cuiabá, o Pantanal venceu. Uma liminar deferida pelo juiz Rodrigo Roberto Curvo, da Vara especializada em meio ambiente de Cuiabá (MT), suspendeu a instalação das usinas hidrelétricas no rio Cuiabá, um dos formadores do rio Paraguai.