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Diário da Crise Hídrica – de 13 a 16 de setembro de 2021 – Níveis baixos do rio Paraná na Argentina, PIB baixo, negação da gravidade da crise no Brasil e mais

24 minutos de leitura
Fonte: IAT/PR.

16 set. 2021

Consultoria aponta que racionamento de energia em 2022 pode zerar o PIB brasileiro (Climainfo)

A corretora XP somou um risco de racionamento de 30% com o aumento da inflação e as incertezas da política econômica e fiscal do governo para projetar um aumento na taxa de juros e um crescimento pífio da economia no ano que vem. Se o governo decretar um racionamento, nem crescimento haverá. Em conversa com jornalistas, economistas da corretora dizem estimar que um racionamento de 10% no consumo retira 1,2 pontos do PIB. A conversa foi relatada no UOL e na Folha.

Ao Valor Investe, Luiz Barroso, da consultoria PSR, disse que há um risco de racionamento de 20% e um risco de 30% de que o sistema elétrico opere de forma “apertada” neste ano, podendo sofrer com blecautes pontuais em horários de pico de demanda. Barroso entende que as iniciativas do governo ajudam a afastar o racionamento.

Para o Poder 360, o ministro Bento disse que “não há data determinada para isso terminar”, e, tentando justificar, acrescentou que “estamos vivendo uma crise hídrica que mês a mês as afluências são menores e isso tira a previsibilidade de quando essa crise hídrica vai terminar”. Os meteorologistas têm previsões bastante acuradas para a chuva que cairá nos próximos meses. O pior cego é o que diz que não consegue ver nada.

Camille Lichotti, na Piauí, liga corretamente os pontos: uma seca provocada pela mudança do clima que, por sua vez, vem sendo intensificada pelo desmatamento da Amazônia, o que faz o governo acionar todas as térmicas possíveis, aumentando as emissões de gases de efeito estufa e, junto, o aquecimento global. Acrescente-se que a redução do volume de grãos transportados pela hidrovia Tietê-Paraná leva a um aumento do transporte rodoviário responsável por 20% das emissões pela queima de combustíveis fósseis, ou 5% do total de emissões brasileiras.

A consultoria MegaWhat estima que a tremenda alta na conta de luz não será suficiente para pagar todas as térmicas este ano. Segundo matéria do Valor, ficará um ajuste de R$5 bilhões para entrar nos reajustes das tarifas (e não bandeiras) no ano que vem. Com o grave risco de que, em sendo ano eleitoral, o governo Bolsonaro pendure a conta para um possível futuro governo.

Para quem quer entender melhor a dimensão da crise e as perspectivas para 2020, vale ouvir o podcast d’O Globo com a conversa entre a jornalista Fernanda Trisotto e o economista Roberto Brandão, da UFRJ.

Um alerta para os defensores das térmicas a gás: não só o preço do gás disparou aqui, como ele vem aumentando mundo afora. No Reino Unido, o preço da eletricidade das térmicas a gás está 11 vezes acima do que seria considerado normal. Com o inverno chegando no hemisfério norte, a demanda por gás deve aumentar, arrastando o preço do fóssil para cima. Assim, as perspectivas para a virada do ano parecem trazer mais aumentos nas nossas contas de luz. Vale ver as matérias do Financial Times e The Telegraph.

 

16 set. 2021

Represas em São Paulo em situação crítica e a tendência é piorar

Pedro Luis Côrtes, professor do programa de pós-graduação em Ciência Ambiental do IEE (Instituto de Energia e Ambiente) da USP: “A situação vem piorando de maneira significativa e a tendência é permanecer nesse ritmo pelo menos até a virada do ano porque as previsões climáticas dão conta que as chuvas vão diminuir na primavera e no verão”. Segundo o especialista, os atuais níveis estão mais baixos que em 2013, ano anterior da pior crise hídrica da história do estado de São Paulo, de 2014 a 2015. Em 18 de agosto de 2013, o volume total armazenado era de 60,4%, cifra que atualmente é de 45%.

Resgatamos esse trecho do Agora São Paulo de 18 de agosto e é importante ter em conta que a situação realmente piorou. Um exemplo: o reservatório de Ilha Solteira (SP-MS), no rio Paraná chegou a ZERO% de volume útil.

 

16 set. 2021

Represas em situação crítica também na bacia do rio Paraguai

A represa de Manso, no rio do mesmo nome, localizada no Mato Groso, na alta Bacia do rio Paraguai, estava ontem, dia 15 de setembro, com 11,38% de volume útil. E para complementar o quadro, a afluência era de 55,24 ms3/segundo e a defluência 91 ms3/segundo.

Na bacia do rio Paraná a primeira das cinco represas no leito do rio, a de Ilha Solteira, estava com O% de volume útil no dia 15. A afluência era de 1.938,23 ms3/segundo e defluência era de 4.107 ms3/segundo.

 

16 set. 2021

Corrigindo informações publicadas em diferentes sites

A Hidrovia Paraná-Paraguai não tem conexão com a Hidrovia Tietê Paraná. A primeira conecta (quando tem água) Cáceres (MT) com Nueva Palmira no Uruguai, atravessando o Paraguai e a Argentina. A Tietê-Paraná conecta alguns estados brasileiros (MS, GO, MG, SP) através do rio Paraná e alcança Pederneiras (SP), no rio Tiete.

Outra: no leito do rio Paraná não existem 20 represas, como alguém disse para o Mongabay em espanhol. São 5: Ilha Solteira, Jupiá, Porto Primavera, Itaipu e Yacyretá. Itaipu entre Paraguai e Brasil e Yacyretá entre Argentina e Paraguai.

 

16 set. 2021

O estado do Paraná tem 21% da bacia do rio Paraná e praticamente todas as suas sub-bacias estão em situação crítica. Curitiba, a capital, está em emergência hídrica desde 2020. A população da Grande Curitiba é abastecida em sistema de rodízio.

Fonte: IAT/PR.

 

15 set. 2021

Artigo escrito por Alcides Faria, biólogo e diretor-executivo da Ecoa, publicado hoje, “Causas da crise hídrica: o desmatamento das florestas e do cerrado na bacia do rio Paraná”, apresenta dados como a quantidade de hidrelétricas no rio Paraná, a contribuição hídrica do Cerrado para a vazão da bacia do rio Paraná, e fatos como o desmatamento ocasionando crise hídrica na região.

“O desmatamento altera os processos naturais da água em cada microbacia hidrográfica. A vegetação nativa, adaptada, tem o papel de manutenção da umidade e controle da velocidade e volume das águas que chegam até os cursos d’água, tanto das águas que escorrem na superfície, como das águas que infiltram no solo, alcançando os lençóis subterrâneos”, diz Faria, e complementa: “Menos vegetação nativa menor abastecimento dos lençóis e menos água para córregos e rios.”.

Leia mais aqui.

 

15 set. 2021

Argentina

Gustavo D’Alessandro, presidente do Conselho Hídrico Federal.

As coisas até pioraram à medida que se sobe rumo ao norte. “O porto de Barranqueras está sem operar porque as barcaças não podem entrar”, informa D’Alessandro. Por ali chegam os hidrocarbonetos que abastecem quatro províncias do nordeste argentino, que agora devem ser transportados em caminhões, o que encarece o transporte, diminui a quantidade e aumenta o tempo de viagem.

 

14 set. 2021

Dragagem e explosões de rochas no rio Paraguai, no Paraguai

– Ex-ministro critica.

O Ministério de Obras do Paraguai faz dragagem do rio Paraguai no país em três regiões. O engenheiro responsável, Benjamin Martinez afirma que o Ministério prepara-se para explodir rochas no próximo ano para garantir a navegação. O ex-ministro do Meio Ambiente do País, Oscar Rivas, afirma que “Eles vão piorar o problema, pois com isso drenam o que sobrou de áreas úmidas! A pouca água conservada no território passará pelo canal a descoberto. Tudo para favorecer o transporte por um período muito curto. Vamos adaptar os barcos aos rios!!!!! E não dos rios para os barcos!!!”

 

14 set. 2021

Yaciretá, a represa que gera 14% da energia consumida na Argentina e situada entre este país e o Paraguai, está operando com 50% de sua capacidade. A queda dos níveis de água nos rios Paraná e Paraguai afeta a economia diretamente: 85% das exportações argentinas saem em grandes barcos dos portos do Paraná inferior. Por lá passam 73% das exportações paraguaias e 20% das bolivianas. No Brasil a hidrovia Tietê-Paraná foi fechada por falta de água para a navegação.

 

14 set. 2021

Andrés Sciara, professor e pesquisador na Universidade de Rosario, no documentário “Bajo Rio.”Desde 2015 não há uma grande inundação que gere o estímulo e o espaço de procriação de peixes que depois mantenha a população até o ciclo de chuvas seguinte. Se a situação atual continuar, o grupo de peixes mais pescado viverá uma situação crítica”.

 

14 set. 2021

Crise hídrica se agrava e o governo segue negando a gravidade (Climainfo)

Uma das maiores hidrelétricas do país está quase parada: o nível da represa de Ilha Solteira (3,4 GW) estava com menos de 1,5% da sua capacidade, segundo Gustavo Basso, no Yahoo Notícias. A chinesa CTG, dona da usina, disse que o nível está em 323 metros e que a usina pode operar até um nível de 314 metros.

A rigor, há duas crises hídricas se sobrepondo neste momento. A primeira é a que ocupa espaço em todos os jornais: choveu pouco no último verão e os gestores do sistema elétrico preferiram gastar água para tentar segurar a tarifa. Sérgio Cortizo escreveu para o UOL mostrando, a partir de dados do Operador Nacional do Sistema (ONS) que, entre o final de novembro e as chuvas de dezembro, faltará potência para atender à demanda do sistema. Suas contas indicam que haverá um déficit equivalente a uma semana de geração. Já o diretor geral do ONS, Luiz Ciocchi, acha que o sistema elétrico atravessará os próximos meses sem problemas. Como é de praxe nesse governo, não mostrou dados que sustentem sua opinião. Segundo matéria do Valor, ele disse que a recente inauguração de mais uma linha de transmissão e a entrada de mais uma térmica a gás darão conta do recado.

A segunda crise é que há 20 anos, em média, chove cada vez menos. Uma bola cantada por climatólogos e reforçada no recente relatório do IPCC. Ou seja, além de se recusar a enfrentar a gravidade do momento, o governo contribui para agravar a mudança do clima e, portanto, acelerar as próximas estiagens, ao insistir em ligar térmicas a gás e a carvão. Ricardo Baitelo, do IEMA, aponta para a necessidade de se diversificar a matriz elétrica, contratando-se mais eólicas, fotovoltaicas e a cogeração a biomassa: “Uma recuperação verde contra a bandeira vermelha”. Sob esse ótimo título, ele lembra, em artigo publicado no Valor, do desperdício de energia por conta do enorme parque de equipamentos ineficientes quando comparado ao que existe mundo afora.

Ontem o governo criou uma empresa que parece inspirada em animais mitológicos. Tem uma cabeça binacional para ser a parte brasileira de Itaipu, um corpo nuclear para cuidar das usinas de Angra e das projetadas e duas patas – uma para melhorar a eficiência do uso da eletricidade e outra para continuar subsidiando usinas renováveis do começo do século. A Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar) é a parte não privatizável da Eletrobrás e já nasce com um orçamento de R$4 bilhões para o ano que vem. Até ontem, o governo não explicou como será a estrutura organizacional do novo grifo (ou qualquer outro bicho fantasioso). O Globo soltou duas matérias sobre a ENBPar. A notícia também saiu na Folha e na CNN.

 

13 set. 2021

A crise energética derruba o PIB (Climainfo)

Por enquanto, o grande impacto da crise hídrica sobre o sistema produtivo é o aumento da conta de luz. Segundo o UOL, o presidente do Banco Central entende que os juros terão que subir para segurar a inflação. Juros mais altos reduzem a atividade econômica e, portanto, o PIB. Com menos PIB gasta-se menos água, mas aumenta-se o desemprego e o espectro da fome no prato de quem não tem como se defender.
A tragédia não para aí. As projeções de chuva para este final de ano não são das mais animadoras. Estima-se que os reservatórios passarão o réveillon com menos de 15% da sua capacidade.

Muita gente pede uma atuação mais decisiva do governo, como aconteceu em 2001. A avaliação é que, apesar do PIB ter caído em relação ao que vinha acontecendo desde o Plano Real, o tombo teria sido ainda maior sem medidas governamentais fortes. A crise foi um dos fatores importantes no ano seguinte quando Lula chegou à presidência pela primeira vez. Vale ver a matéria da Veja sobre apagões e os custos econômicos e políticos.

Edvaldo Santana, ex-diretor da ANEEL, voltou à carga no Valor. Ele afirma que a gravidade da atual crise estava claramente colocada ainda no começo do ano. A decisão de empurrar com a barriga é típica de quem não é do ramo, como o ministro Bento. Se um racionamento tivesse sido adotado em junho, o impacto sobre a economia e, principalmente, sobre os consumidores mais pobres já teria sido menor. Santana cita que, neste caso, o custo da crise estaria por volta de R$20 bilhões. Bem salgado, mas muito menor do que os R$110 bilhões que ela está custando agora. Parte gorda da diferença irá para o bolso dos donos das térmicas e para quem vende petróleo e gás para estas. Outra parte irá para quem aderir aos planos voluntários de redução de consumo.

Santana diz que os pequenos consumidores, responsáveis por ⅓ do consumo, pagarão mais de ⅔ da conta. Falando do vício de linguagem do setor, ele crava: “o fim, ‘nossas’ térmicas + ‘nossas’ hidrelétricas + ‘nossas’ distribuidoras + ‘nosso’ sistema de transmissão resulta bem maior que os ‘vossos consumidores’, vistos, sim, como meras externalidades a um sistema que é pródigo em criar e encarecer crises e em transferir despesas”.

Por falar em Bento, no meio de uma das piores crises energéticas da história, o ministro foi viajar para o exterior novamente, como fez em julho e, de novo, no mês passado. E, novamente, foi tratar de energia nuclear, sua paixão. A Veja e o Antagonista comentaram a viagem.
A ANEEL pretende contratar mais térmicas para fornecer energia entre abril do ano que vem e dezembro de 2025. A justificativa é poupar água dos reservatórios, sendo que, dada a urgência colocada pela crise hídrica, avaliam se é o caso de convidar empresas no lugar de realizar um leilão. Leilões foram adotados para comprar energia pelo menor preço. Ou seja, há um risco da conta de luz seguir alta até 2025, mesmo se voltar a chover bastante. Um preço que o próximo governo herdará.

A notícia saiu na Folha, n’O Globo e no Correio Braziliense. Vale ver a matéria do G1 sobre o nível dos reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste que bateram em 19% da sua capacidade neste final de semana.

 

13 set. 2021

Um video importante, com cerca de 11 minutos, elaborado pela Universidad Nacional de Rosário, Argentina, sobre os níveis muitos baixos do rio Paraná. Está em nosso canal do youtube.

 

13 set. 2021

A crise e os royalties de Itaipu para Paraguai

O Paraguai tem recebido menos de Itaipu porque a usina está gerando menos energia devido à crise da água na bacia do rio Paraná. Já quanto aos royalties – a compensação paga por Itaipu ao Brasil e ao Paraguai pela utilização das águas do rio, os valores aumentaram com relação a 2020. De janeiro a agosto, o Paraguai recebeu US$137,3 milhões, o que é 4,9% mais do que em 2020 no mesmo período, quando recebeu US$130,9.

O repasse de royalties é feito dois meses após o “fato gerador”. Isto é, o repasse de agosto, por exemplo, refere-se ao que a usina produziu dois meses antes, em junho quando tinha mais água para gerar energia. A partir de julho há queda na geração com menor uso de água.
Os royalties são compostos também pelo ajuste do dólar, que é referente à energia gerada no ano anterior. O valor dos royalties é repassado ao governo do Paraguai e, no Brasil, ao Tesouro Nacional, que depois distribui aos municípios, estados e órgãos federais que têm direito ao benefício.

Com H2Foz e ABC Color.

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