Quebrando o recorde de incêndios na maior e mais contínua área úmida tropical do mundo

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Com intuito de alertar a sociedade, o governo e gestores ambientais sobre as circunstâncias e consequências dos mega-incêndios de 2020 no Pantanal, acaba de ser publicado na revista americana “Journal of Environmental Management”, o artigo assinado por pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e gestores ambientais do PrevFogo/IBAMA e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO) que atuam diretamente no Pantanal.

Acesse o artigo na íntegra aqui.

Ele contém os seguintes destaques:

– A área afetada pelo fogo aumentou 376% em 2020 quando comparado ao esperado pelo valor médio das últimas duas décadas.

– 43% dessa área afetada em 2020 não havia sido queimada anteriormente desde as últimas duas décadas, afetando ecossistemas que atuaram como refúgios de incêndios durante eventos anteriores.

– 2020 também experimentou o nível de água mais baixo, durante o período de inundação, do Rio Paraguai nos últimos 17 anos, o máximo atingiu apenas 2,1 m em 2020, um nível não visto desde 1973. Anos excepcionalmente secos criam condições ideais para incêndios, pois o pico do nível da água permanece baixo demais para inundar os campos ao longo do rio. Consequentemente, a grande quantidade de biomassa produzida durante a última inundação permanece disponível como combustível, resultando que a maioria dos incêndios ocorreu na zona de inundação ao longo do rio Paraguai, formando nas suas margens um corredor de incêndio

– Contribuíram para este aumento: seca e outros fatores climáticos, combustível seco acumulado na margem dos corpos d’água, limitações dos brigadistas devido à COVID-19 e cortes orçamentários e manejo do fogo escasso.

– Incêndios são comumente tratados de forma improvisada, ao invés de investir em combates durante crises, sugerimos um Manejo Integrado do Fogo (MIF) sócio-ecologicamente sensível com brigadas permanentes em regiões estratégicas, bem equipadas e treinadas, incluindo a participação de indígenas, realizando o manejo do fogo ao longo do ano todo.

– É preferível o manejo de pastagens nativas através do manejo integrado do fogo de forma planejada do que a conversão de pastos nativos à braquiária, considerando os impactos das espécies de Urochloa na biodiversidade, assim, o MIF diminuiria a dependência dos pecuaristas a essa gramínea exótica invasora e também evitaria grandes incêndios a um custo baixo. Alertamos isso, pois o oposto foi recentemente promulgado pelo Decreto No 15.654 de 2021, art. 38, inciso VI

– A queima prescrita e planejada, sob as condições climáticas e temporais ideais e no espaço (protegendo com aceiros a vegetação que abriga espécies sensíveis ao fogo e as infraestruturas) e reconhecendo o conhecimento ecológico local bem como o conhecimento científico, apoiada por sistemas de alerta, pode efetivamente reduzir as cargas de combustível e diminuir a inflamabilidade evitando eventos catastróficos.

– Avaliações científicas são claramente necessárias para fundamentar a tomada de decisão quanto às áreas prioritárias para ações urgentes de investimento financeiro para o manejo, proteção e restauração de espécies sensíveis ao fogo

– Os incêndios desastrosos de 2020 foram claramente um tópico central do debate público em todo o país e mobilizaram pessoas e instituições.

– A incidência do incêndio de 2020 foi o resultado de uma interação complexa entre fatores meteorológicos / climáticos, paisagem e humanos. Mudanças climáticas e do uso da terra irão agravar a frequência desses eventos extremos e ações urgentes, discutidas neste estudo, são necessárias para prevenir que essa catástrofe ocorra novamente.

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