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Assoreamento nos rios da Bacia do Alto Paraguai

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Via Correio do Estado
Por Luana Rodrigues

Despejos de esgotos sanitários, exploração mineral e principalmente o manejo inadequado do solo utilizado para plantio extensivo de soja e pecuária de corte têm sido os responsáveis pelo assoreamento dos rios da Bacia do Alto Paraguai (BAP), no Pantanal. Pelo menos 22 importantes cursos d’água, localizados nas regiões noroeste e oeste de Mato Grosso do Sul, estão sendo “invadidos” por sedimentos, que entopem nascentes e causam preocupante desequilíbrio ambiental.

“Começando pelo Rio Aquidauana, até o Miranda, e já quase chegando à foz, em Albuquerque, grande parte dos rios já não tem APP (Área de Preservação Permanente). Existe acesso de gado aos rios e plantio de soja e arroz muito próximo da água, inclusive, tem uma fazenda de produção de arroz que drena água do rio e faz com que passe por todo o mecanismo de cultivo deles”, pontua André Luiz Siqueira, diretor-presidente da organização não-governamental Ecoa – Ecologia e Ação. Para ele, “os rios têm sofrido, isso é notório, é muito comum navegar no rio com 50 a 60 centímetros de altura.

“E não se tem hoje no Estado o levantamento da qualidade da água para ver o nível tóxico de defensivos agrícolas. Não são feitos exames, não existe nada”, sustentou. Estão entre os prejudicados os rios Correntes, Paraguai, Paraguai Mirim, Taquari e Taquari Velho, Piquiri, Jauru, Coxim, Aquidauana, Negro, Capivari, Miranda, Salobra, Nioaque, Nabileque, Aquidabã, Branco, Amanguijá, Perdido, Santo Antônio, Apa e Caracol. No planalto da sub-bacia do Rio Taquari, a situação começou ainda em meados da década de 70, com a expansão da atividade agropecuária, e intensificou a entrada de sedimentos na Planície Pantaneira, dando origem ao mais grave problema ambiental e socioeconômico do Pantanal.

Preocupada com essa situação, em 2006, a Embrapa Pantanal, juntamente com instituições de pesquisa e desenvolvimento, realizou um trabalho de diagnóstico das causas e efeitos do assoreamento do rio. De lá para cá, foram sugeridas várias ações de preservação, mas até agora nada de efetivo foi feito.

“Nós fizemos uma análise sob ponto de vista ambiental, social e econômico, o estudo foi apresentado para o sindicato rural e autoridades responsáveis. Nossa parte nós fizemos, o Estado e o governo devem usar esse material que nós fizemos para direcionar ações. Uma ação, por exemplo, é a dragagem do rio, foi feito o cálculo, uma série de estudos, e nós disponibilizamos tudo isso, mas até agora parece que quase nada foi feito”, disse o pesquisador da Embrapa, Carlos Padovani.

Santo Antônio

“Cardumes de peixes estão bem raros, a vegetação de barranca sumiu, algumas partes da barranca estão se desprendendo e caindo no rio, causando aquela lama. Se há 20 ou 30 anos nós tínhamos uma água transparente, com cardumes de peixes, e hoje temos essa água turva, que rios vamos ter daqui dez anos?”.

O questionamento é do mestre em biologia Ilzo Audicio Meirelles, que há mais de 20 anos acompanha a transformação dos rios Miranda e Santo Antônio. Para o especialista, é urgente a criação de um plano de manejo sustentável para tentar recuperar os rios, que nos últimos anos têm “sumido” em meio ao lixo e a sedimentos decorrentes do assoreamento.

“O que a gente tem percebido é que modificou a coloração da água, hoje se tem uma água extremamente vermelha, a barranca do rio está envolvida com material orgânico e a quantidade de matas ciliares também diminuiu. Nossa proposta é um plano de manejo envolvendo todos os poderes, em conjunto com a população. Análise de solo, de impacto, um trabalho da população, da prefeitura, da União”, considera.

Saiba Mais:

Projeto Nacional

No ano passado, um decreto assinado pelo presidente Michel Temer (PMDB) previa a criação de um fundo para conversão de multas decorrentes de crimes ambientais em projetos de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas, que incluía o Rio Taquari. O decreto foi publicado no dia 16 de fevereiro, mas as bacias dos rios São Francisco e Parnaíba serão as primeiras a receber os recursos para projetos de revitalização. Não há previsão para abertura de chamamento público para o Estado.

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